Adversários de Haddad já o veem no 2o turno

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Foto: Matheus Moreira/Folhapress

De olho no eleitorado mais conservador que opta pelo bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos) na corrida por uma vaga no segundo turno da disputa em São Paulo, o governador Rodrigo Garcia (PSDB) resolveu endurecer e destacar o discurso sobre a segurança pública.

Na pesquisa do Datafolha publicada na semana passada, Rodrigo está em terceiro lugar na corrida, com 15%. O ex-ministro da Infraestrutura vem em segundo, com 21%, e o líder é Fernando Haddad (PT), com 35%.

A campanha tucana nega, mas o fato é que reservadamente integrantes do PSDB e de partidos aliados começam a temer o desempenho de Tarcísio. Consideram que Rodrigo ainda está na fase de exposição de sua imagem, sendo conhecido por cerca de metade do eleitorado apenas, e que os R$ 6 bilhões liberados ou anunciados em eventos municipais no primeiro semestre lhe garantiram capilaridade de apoio.

Mas achavam que Tarcísio empacaria, enquanto no momento ambos cresceram. A introdução da segurança de forma mais incisiva na sua retórica demonstra que o sinal está amarelo.

É consenso nas campanhas que Haddad já está no segundo turno, salvo algum imprevisto monumental. Os estrategistas de seus rivais trabalham com a ideia, calcada no histórico eleitoral paulista e em pesquisas qualitativas, que o conservadorismo do eleitorado do estado trabalha contra as chances do petista na rodada final.

Foi assim em outros anos, mas não havia dois candidatos competitivos no campo da centro-direita. Como Bolsonaro diminuiu a vantagem de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no estado, Tarcísio parece ter surfado com o seu padrinho.

A solução para o tucano é tentar tirar mais votos do ex-ministro. Já nesta sexta (9), Rodrigo fez uma entrega de armamentos, deu declarações sobre o combate ao crime organizado e criou o bordão “Aqui quem vai amarelar é o crime, e não a política”. Ele comentou as recentes ameaças que sofreu do grupo criminoso PCC, e levou o tema para uma peça de sua propaganda de rádio e TV.

“Sabe quando eu percebi que a gente estava virando o jogo [contra o PCC]? Foi quando eu comecei a receber ameaças e tive de usar colete à prova de bala para me defender. Eu vou usar esse colete o tempo que for preciso, e não vou dar nem um passo atrás no combate ao crime”, diz o tucano no filme, que desfia dados positivos para o governo na área.

Não por acaso, a fala foi gravada no pátio do quartel Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), unidade de elite da Polícia Militar paulista e velha conhecida de campanhas eleitorais desde que o decano do conservadorismo paulista, Paulo Maluf, prometia “Rota na rua”.

A tropa é usualmente associada, na esquerda, a violações de direitos humanos —políticos do campo historicamente têm dificuldade de modular um discurso sobre segurança. Mas a Rota sempre serviu bem a candidaturas de centro e à direita. Na campanha de 2018, João Doria (PSDB) venceu anunciando que levaria “a Rota para o interior”, no caso com batalhões especializados.

Naquele momento, Doria colou em Bolsonaro no segundo turno, só para virar seu principal adversário nos estados a partir de 2020. Em 2019, contudo, mantinha a linha dura e prometia que “Bandido que reagir vai acabar no cemitério”. Depois, manteve uma relação algo ciclotímica com as polícias, que vibram em frequência próxima do bolsonarismo.

Rodrigo, já na cadeira de Doria, adaptou a frase retirando a morte (“Bandido que levantar a arma para a polícia vai levar bala”) no começo de sua gestão. Em relação às corporações, Rodrigo fez diversos acenos. Mudou as chefias e distribuiu alguns agrados, como bônus.

A campanha tucana vai acompanhar a evolução da reação do público em pesquisas qualitativas para avaliar a temperatura das declarações do candidato à reeleição. Além disso, deverá lembrar em peças publicitárias que Tarcísio já acusou a polícia paulista de fazer “um pacto com o PCC”, algo que irritou o comando das corporações.

Folha