Ativa da PF enfrenta delegados aposentados
Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
Delegados da Polícia Federal entraram em conflito nesta segunda-feira (26) depois que um grupo de delegados aposentados entrou com uma notícia-crime na Procuradoria-Geral da República pedindo a abertura de uma investigação do ministro do STF Alexandre de Moraes por abuso de autoridade.
Em resposta, os delegados da ativa abriram uma nota de repúdio online em que acusam os aposentados de promoverem um “movimento político-ideológico e eleitoral”, além de expressar opinião “desatualizada e desorientada” em relação ao caso.
Na petição, os delegados da ativa manifestam apoio ao delegado e ao ministro do Supremo. Até o final da noite, 86 pessoas já tinham assinado o documento.
Em grupos fechados de WhatsApp, delegados da ativa chamaram os aposentados de “aloprados” e os acusaram de agir politicamente para reforçar a posição do presidente Jair Bolsonaro contra o STF na reta final da corrida eleitoral.
Na notícia-crime, protocolada na tarde desta segunda-feira (26), os delegados aposentados acusam o ministro do Supremo e o delegado Fábio Alvarez Shor, responsáveis pela operação de busca e apreensão sobre os empresários ligados a Jair Bolsonaro que trocaram mensagens de teor golpista via WhatsApp.
Segundo eles, Moraes e Shor realizaram um “malabarismo jurídico” ao concluir que haveria motivos para concluir, a partir do vazamento das mensagens, que havia evidências de que eles estariam de fato organizando algum golpe.
Nas mensagens que foram originalmente divulgadas pelo site Metrópoles, os empresários diziam preferir um golpe militar à vitória de Lula, entre outras coisas. Além de autorizar a operação de busca e apreensão, no último dia 23 de agosto, Moraes também autorizou a quebra de sigilo dos oito empresários.
Os delegados aposentados argumentam ainda que não caberia a Moraes autorizar a quebra de sigilo, uma vez que nenhum dos investigados têm foro privilegiado para ser julgado ou investigado na Suprema Corte.
Assim que o documento se tornou público, porém, grupos de delegados da ativa no WhatsApp entraram em combustão, acusando os aposentados de agir de forma política e inadequada ao emitir julgamento sobre o trabalho dos colegas.
Imediatamente, abriram a petição online para manifestar seu repúdio pela atuação dos aposentados.
Diz o documento: “Esse grupo de aposentados não representa a classe dos Delegados de Polícia Federal. E a missiva destinada ao PGR revela mera opinião desatualizada e desorientada frente à Constituição Federal, assim como denota desprezo pela autonomia técnico-jurídica das Autoridades Policial e Judiciária que atuam no Inquérito Policial”.
A guerra aberta na PF ocorre num momento de grande tensão interna, provocado principalmente pelas acusações de interferência no inquérito sobre o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, conduzido pelo delegado Bruno Calandrini.
Na semana passada, Calandrini indiciou o diretor de Combate ao Crime Organizado da PF, Caio Pellim, número três na hierarquia da corporação, o superintendente da PF de São Paulo, Rodrigo Bartolamei, o delegado Raphael Astini, responsável por cumprir o mandado judicial de prisão, e outros policiais, por crimes de desobediência à ordem judicial, prevaricação, associação criminosa e cárcere privado.
Ele reiterou que considera ter havido interferência na investigação pelo fato de, no momento da prisão de Ribeiro, em junho, o ex-ministro não ter sido transferido de Santos, no litoral de São Paulo, para Brasília, como determinado na ordem judicial da 15ª Vara Federal do Distrito Federal.