Avaliação do governo é melhor que a de Bolsonaro

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Foto: Cristiano Mariz

Não há nada mais clichê na análise de eleições presidenciais do que importar a frase do marqueteiro do ex-presidente Bill Clinton de 1992 (“É a economia, estúpido”) para dizer que o bolso do eleitor é o único tema que importa em uma campanha. O que ocorre na corrida presidencial brasileira, neste momento, desmente a premissa da eleição americana há 30 anos.

Embora o presidente Jair Bolsonaro tenha uma agenda econômica recente a bater bumbo — Auxílio Brasil de R$ 600, queda do desemprego e da inflação —, chama a atenção o descolamento da sua imagem pessoal e a do governo que comanda desde 2019. Enquanto a rejeição de Bolsonaro avançou a 49% no Ipec divulgado ontem, está em 43% o patamar dos eleitores que consideram a sua administração ruim e péssima.

O PT, que começou a campanha querendo falar apenas de economia, já mudou a estratégia: levou para a TV e a internet os questionamentos ao patrimônio da família Bolsonaro, além dos ataques do presidente a mulheres e as suas falas minimizando a pandemia. A correção de rota na campanha do PT também já se deu entre os evangélicos, segmento no qual Bolsonaro lidera por 46% a 27%, mas em que a distância parou de aumentar.

Lula antes se recusava a fazer um gesto específico para público e defendia que atrairia fiéis apenas falando sobre fome, miséria e emprego. Na quinta-feira, o petista estará com pastores em São Gonçalo (RJ), além de já ter criado vídeos e material de campanha específica para religiosos.

Tentativas de ajustes até são buscadas pela campanha de Bolsonaro, mas o dia a dia aquecido da corrida eleitoral vem colocando as iniciativas por água abaixo — especialmente entre as mulheres, que dão a Lula liderança por 45% a 26%. Depois de atacar a jornalista Vera Magalhães no debate da Band há dez dias, o presidente inundou o horário eleitoral com inserções da primeira-dama Michelle. Na live da última quinta-feira, um comentário deu novamente munição para os adversários: “Notícia boa para mulher é beijinho, rosa, presentes” e “férias”.

Na noite de segunda-feira, Bolsonaro tentou refletir sobre a sua personalidade em longa postagem no Twitter. “Sei que a forma que me expresso pode não agradar. Infelizmente é o meu jeito. Nasci e vou morrer assim”, escreveu. Hoje, contudo, horas depois de escrever o texto, deu de bandeja para os rivais a frase inadequada contra a jornalista Amanda Klein, da Jovem Pan: “Seu marido vota em mim”, respondeu, irritado com mais uma pergunta sobre os imóveis pagos em dinheiro vivo pela família.

O Globo