Bolsonaristas do RN agora apoiam Lula

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Foto: Reprodução

Estado que vota em peso no PT para presidente desde 2002, o Rio Grande do Norte teve sua primeira governadora petista na eleição passada. O partido tenta agora manter a hegemonia com a reeleição de Fátima Bezerra e, para tal, se aliou até a antigos adversários, que em 2018 embarcaram no bolsonarismo.

Em uma chapa batizada pelo ex-presidente e novamente candidato ao Palácio do Planalto Luiz Inácio Lula Da Silva (PT), Bezerra tem como nome ao Senado Carlos Eduardo Alves (PDT), ex-prefeito de Natal. O pedetista foi seu rival no segundo turno há quatro anos, apoiando o então candidato a presidente Jair Bolsonaro. Ele integra um dos principais clãs políticos do estado, assim como o candidato a vice de Bezerra, o deputado federal Walter Alves (MDB), que em 2016 votou a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).

O acerto virou alvo de opositores, que apontam inconsistência, e é indigesto para parte da militância petista, já que em 2018 Bezerra adotou um discurso “contra as oligarquias” para se eleger.

A costura, no entanto, foi feita para garantir apoio de parte do MDB a Lula no plano nacional. Na avaliação de cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO, também ambicionou neutralizar o maior oponente que Bezerra teria.

— O principal adversário de 2018 (Carlos Eduardo) teria uma lembrança maior no eleitorado e poderia complicar a vida dela (Bezerra) — analisa Alan Lacerda, cientista político e professor na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

A estratégia parece ter surtido efeito. Pesquisa do Ipec divulgada no último dia 9 mostra a governadora na frente, com 49% das intenções de voto e chance de vitória no primeiro turno. Na sequência, aparecem o senador Styvenson Valentim (Podemos), com 20%, e o ex-vice-governador Fábio Dantas (Solidariedade), com 9%.

A atual governadora aposta na popularidade de Lula para conseguir a reeleição, remetendo suas falas e peças publicitárias ao ex-presidente. O petista tem 56% de apoio potiguar, contra 27% de Bolsonaro, segundo o Ipec.

Os principais candidatos

A principal bandeira de Bezerra é a quitação da dívida de R$ 1 bilhão do Rio Grande do Norte. A gestão passada (2015-2018) deixou quatro folhas de salário dos servidores em atraso, que foram pagas pelo atual governo. A petista explora o tema em suas propagandas, com frases como “fizemos o nosso trabalho e o deles” e “estamos arrumando a casa”.

— Essa eleição é muito diferente da passada porque naquele momento havia um governo com um dos maiores índices de rejeição da história (potiguar) — diz Homero Costa, cientista político e professor da UFRN.

As últimas votações para governador

Antecessor de Bezerra, Robinson Faria (PSD) tinha reprovação de 57%, segundo o Ibope, quando perdeu a disputa pela reeleição. A governadora tem hoje 24% de rejeição, conforme o Ipec.

As críticas de Bezerra e outros candidatos ao governo anterior miram Fábio Dantas, que foi vice-governador na chapa de Faria. Dantas tenta se esquivar, declarando que “nunca foi governador” — só vice.

Mesmo com a impopularidade de Bolsonaro no Rio Grande do Norte, Dantas atrelou-se ao titular do Palácio do Planalto na esperança de conquistar votos. Nas primeiras duas semanas de campanha, evitou apelar ao presidente. Agora, quase todas as suas inserções de propaganda contam com Bolsonaro. Dantas inclusive vestiu a camiseta verde e amarela, associada ao bolsonarismo, e discursou na manifestação pró-presidente no Sete de Setembro em Natal. Também tem como nome ao Senado o ex-ministro bolsonarista Rogério Marinho (PL). Por enquanto, no entanto, Dantas amarga o terceiro lugar nas pesquisas.

Os dados do estado

O segundo colocado, Styvenson Valentim, tem despontado mesmo sem usar o fundo eleitoral em sua campanha — o que virou sua maior agenda. “Já viu campanha eleitoral assim? Feita pelo povo, sem dinheiro, usando a criatividade ao invés dos milhões do fundo eleitoral público? Nunca usarei dinheiro que deveria tá salvando vidas nos hospitais”, escreveu no Instagram. Sem santinhos ou adesivos, seus apoiadores colam cartazes com seu nome e número feitos a caneta em cartolina ou papel sulfite.

Styvenson se elegeu senador em 2018 com discurso antipolítica, estratégia que mantém no pleito deste ano, e usa as redes sociais como principal plataforma de campanha.

O candidato não assume posição na polarização nacional — já disse que não pedirá votos a Bolsonaro e critica o PT. Mas o discurso do capitão da Polícia Militar expressa pautas similares ao do bolsonarismo, como combate a corrupção, acenos a polícias e ataques a imprensa.

— Ele (Styvenson) não faz uma associação (direta) com o presidente, mas os símbolos e o tom da campanha o associam ao nome de Bolsonaro — diz José Antonio Spinelli, professor de ciência política na UFRN.

Fátima Bezerra foi a única mulher eleita para o cargo de governador em 2018 e é uma das duas candidatas ao Executivo estadual que aparecem em primeiro nas pesquisas de intenção de voto neste ano, ao lado de Marília Arraes (Solidariedade), em Pernambuco.

O Rio Grande do Norte é o estado que mais elegeu mulheres governadoras. Foram três: Wilma de Faria (PSB), Rosalva Rosado (DEM) e Bezerra. A maioria (21 unidades da federação) nunca teve candidatas eleitas ao cargo.

Cientistas políticos atrelam esse fenômeno a um histórico de protagonismo feminino potiguar. É no Rio Grande do Norte que há o registro da primeira vez que uma brasileira votou, em 1928. No mesmo ano, elegeu-se a primeira prefeita do Brasil, em Lajes (RN). O estado foi pioneiro no sufrágio sem distinção de gênero — direito garantido só em 1932 nacionalmente.

Em uma reprodução da polarização nacional, o ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo Alves (PDT), que integra a chapa petista no estado e tenta se associar ao ex-presidente Lula, rivaliza com o ex-ministro bolsonarista Rogério Marinho (PL) pela vaga no Senado. Os dois estão empatados tecnicamente, no limite da margem de erro, com Carlos Eduardo à frente.

O candidato do PDT segue um roteiro diametralmente oposto ao que adotou há quatro anos. Naquela eleição, quando disputou para governador, ele apoiou para presidente o então candidato Jair Bolsonaro. A mudança não agradou toda a sua base.

— Carlos Eduardo, além de se aliar à sua adversária, também traiu o bolsonarismo no estado, que lhe dera grande base de votos na eleição anterior sobretudo na capital — diz a cientista política e professora da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) Andréa Linhares.

Mesmo com seu correligionário Ciro Gomes (PDT) na corrida presidencial, Carlos Eduardo tenta se beneficiar da imagem de Lula . O petista aparece em sua propaganda de TV pedindo voto para o ex-prefeito e o colocando como seu candidato ao Senado.

Os postulantes ao Senado

Carlos Eduardo, no entanto, procura evitar atritos com Ciro, deixando um engajamento maior na campanha do petista para um eventual segundo turno contra Bolsonaro.

Se por um lado o pedetista não assume por completo seu apoio a Lula, o candidato ao Senado do PSB, deputado federal Rafael Motta, faz esse papel, deixando a esquerda dividida.

“Somos o único candidato ao Senado no RN que apoia a sua eleição (de Lula)”, diz a legenda de um vídeo do deputado em que aparecem fotos dele com Lula e seu candidato a vice, Geraldo Alckmin (PSB) no Instagram. O candidato do PSB tentou impedir na Justiça o uso da imagem de Lula pelo ex-prefeito, mas perdeu.

O enfrentamento entre os dois, porém, não é o principal duelo desta eleição. Carlos Eduardo tem como principal adversário o ex-ministro do Desenvolvimento Regional Rogério Marinho (PL).

Pesquisa do Ipec divulgada no último dia 9 mostra os dois empatados tecnicamente no limite da margem de erro. O candidato do PDT tem 27% das intenções de voto e o do PL, 21%. A margem de erro é de três pontos percentuais. Motta aparece m terceiro, com 14%.

Marinho tenta colar sua imagem à do presidente, mas explora principalmente o cargo que exerceu em Brasília. Posiciona-se na disputa como “senador das águas”, referindo-se à transposição do rio São Francisco, iniciada no governo Lula e finalizada sob Bolsonaro. O tempo como ministro do Desenvolvimento Regional ainda lhe rendeu alianças com prefeitos. Contudo, esse período não traz apenas lucros. Seus rivais o atacam por causa do orçamento secreto — caso que foi inicialmente revelado na pasta de Marinho. O candidato do PL, que foi deputado federal, também é criticado por ter sido o relator da reforma trabalhista no governo de Michel Temer (MDB).

O Globo