Bolsonaro ataca pesquisas, mas gasta fortuna com… pesquisas!

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Foto: Hermes de Paula/O Globo

Alvo frequente de Jair Bolsonaro (PL) e de seus apoiadores, pesquisas e testes eleitorais representam 17% dos gastos da campanha do presidente nestas eleições. Até esta quinta-feira, foram registrados gastos de R$ 1,7 milhão com o serviço.

A categoria consome a terceira maior fatia das despesas de sua campanha. À frente estão gastos com “produção de programas de rádio, TV ou vídeo” (R$ 5,8 milhões) — o que também ocupa o grosso das despesas de outros candidatos — e “serviços prestados por terceiros” (R$ 2,3 milhões).

É, de longe, o candidato que mais gasta com pesquisas eleitorais, de acordo com dados da plataforma DivulgaCand, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em segundo lugar aparece Felipe D’Avila (Novo), com gastos de R$ 50 mil (4% do R$ 1,3 milhão em despesas).

O valor cheio foi destinado à Cota Pesquisas de Mercado e de Opinião Pública Eireli, criada em 2007 e sediada em Curitiba.

O próprio presidente e seus apoiadores costumam debochar de pesquisas eleitorais, que vêm mostrando uma liderança consolidada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na corrida presidencial. Bolsonaristas cunharam o termo “DataPovo” — um trocadilho com o instituto de pesquisas Datafolha e o que consideram ser a demonstração real de apoio ao presidente, o povo nas ruas.

Nas manifestações do 7 de Setembro, por exemplo, as pesquisas constaram no rol de ataques proferidos entre manifestantes e organizadores dos atos em seus carros de som. Os dados estatísticos foram comparados ao “Papai Noel” e ridicularizados no carro de som do Movimento Agro, na Avenida Paulista, em São Paulo.

No ato no Rio, o pastor Silas Malafaia, do caminhão em que Bolsonaro discursou, chamou o evento de “maior manifestação da história do Brasil” e mencionou, sem qualquer embasamento, que havia um milhão de pessoas no ato de Brasília.

Mais tarde, O GLOBO mostrou que o ato havia reunido cerca de 64 mil pessoas, de acordo com cálculo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), que analisaram 22 fotografias aéreas próprias. As imagens foram processadas por um software com o método chamado Point to Point Network, que identifica as cabeças de pessoas em determinada aérea para estimar o público total.

— Essa aqui é o “DataPovo”, o resto é conversa fiada — declarou Malafaia no evento, sendo aplaudido pela multidão.

Nesta quinta-feira, o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, publicou uma imagem da Esplanada dos Ministérios repleta de manifestantes em apoio ao seu pai, na quarta-feira, em Brasília. E escreveu: “De acordo com o Datafolha, isso é uma plantação de girassol”, referindo-se ao tom amarelado no gramado causado pelas camisas da seleção.

Diversas pesquisas, concorrentes entre si e utilizando diferentes metodologias, vêm apontando a liderança de Lula, o que contraria apoiadores do presidente. Bolsonaristas costumam citar uma suposta discrepância entre pesquisas eleitorais em 2018 que indicavam a derrota de Bolsonaro no segundo turno do pleito com a eleição de fato do então deputado.

Eles costumam se referir, no entanto, às pesquisas feitas semanas antes do pleito, cujos números mudaram até o dia da votação. O último Datafolha antes do segundo turno daquela eleição, publicado na véspera, em 27 de outubro, mostrava a vitória de Bolsonaro sobre o candidato do PT, Fernando Haddad, por 55% a 45%. Já o Ibope marcava 54% para o candidato do PSL, contra 46% do petista. Bolsonaro acabou eleito com 55,13% dos votos válidos, e Haddad teve 44,87% — valores bastante próximos dos aferidos nas pesquisas.

O Globo