Bolsonaro decide contemporizar com Lira

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Foto: REUTERS/Adriano Machado

O Centrão, hoje, está casado com o presidente Jair Bolsonaro (PL) mas não é um adepto do “até que a morte nos separe”.

O voto do Centrão é outro: não é de amor, é o da urna. Então, o Centrão está junto com o Planalto “até que a eleição os separe” – ou não.

Bolsonaro sabe disso. O ex-presidente Lula (PT) sabe disso. O Centrão não deixa dúvidas.

Dentro dessa lógica, o Centrão nos últimos meses – em que as pesquisas eleitorais mostram Lula com vantagem na corrida presidencial – passou a destacar integrantes do bloco para conversar com empresários, banqueiros e integrantes do comitê do Lula e do PT para dizer o óbvio: se a canoa virar, “vamos conversar”.

De parlamentares do PP a parlamentares do Republicanos, petistas têm recebido recados- à distância e ee conversas presenciais – de que não existe porta fechada se Lula ganhar a eleição.

Empresários e banqueiros com interlocução no Congresso também têm atuado junto ao comitê de Lula para dizer que o Centrão virá se Lula vencer – até porque essa é uma forma desses empresários garantirem que, num eventual novo governo PT, a agenda econômica terá no Congresso aliados para fazer frente ao que chamam de “radicalismos em reformas” defendidas por setores mais orgânicos do petismo.

Bolsonaro sabe disso. E, na quinta-feira (8), tratou de renovar seus votos de amor ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PL) – mesmo após ter sido esnobado pelo presidente da Câmara em sua festa particular de 7 de Setembro.

A ausência de Lira a no comício de Bolsonaro em Brasília durante as comemorações dos 200 anos da Independência foi oficialmente tratada como uma incompatibilidade de agenda pelo presidente da Câmara, que estão em campanha em Alagoas.

Mas, nos bastidores do Planalto, a avaliação é de que “os políticos estavam aguardando o dia seguinte” – e, como o evento mobilizou, “a política voltou ao normal no dia 8″. Por política, entenda-se: Lira, o principal personagem do Congresso.

Diferentemente de Fux e Pacheco, Lira foi a ausência que o governo sentiu. Mais do que isso: Bolsonaro se irritou, não gostou. E não compareceu ao evento no Congresso pelo bicentenário da Independência.

Bolsonaro, no entanto, sabe do que precisa se reeleger. E, Lira, pragmático, diante da eleição que só acaba quando termina, não deixou o mal-estar crescer. Político profissional, foi almoçar com Bolsonaro ontem e elogiou o tamanho dos eventos. Mas não ouviu uma reclamação do presidente Bolsonaro sobre sua ausência. Um interlocutor do presidente resume: ‘Bolsonaro não tem essa liberdade para cobrar nada de Lira”.

Como Bolsonaro não faz o tipo que não se sente no direito de cobrar nada de ninguém – visto que ele dia sim dia também cobra o Supremo Tribunal Federal (STF) com ataques e ameaças por decisões que o contrariam, – a postura do presidente diante de Lira se resume a uma coisa só: medo de ter no comando da Câmara um inimigo, um adversário.

A história ensina que governo que trabalha contra presidente da Câmara inviabiliza seu governo.

Então, Bolsonaro também joga no mercado futuro: se se reeleger, quer contar com a reeleição de Lira também – e manter como seu inimigo apenas o Judiciário que não indicou.

Dois inimigos ao mesmo tempo implodem o governo – e Bolsonaro sabe disso.

Por isso, engoliu seco o almoço de ontem e ainda relatou em live, mais tarde, que Lira “é uma pessoa de respeito”. E mais: fez várias declarações de amor a Lira:

“Palmas pro Arthur Lira lá da nossas, da nossa Alagoas, que trabalhou nesse projeto e botou um teto de ICMS, que era uma bagunça, cada estado botava o percentual que queria no ICMS”
“Almocei hoje com Arthur Lira. É outra pessoa de respeito, né? Como tantas outras no parlamento brasileiro. É lá o candidato a deputado federal por Alagoas”
“Eu sei que o Arthur Lira deve ser…. vai ser reeleito lá em Alagoas. Tem que ser, meu Deus do céu. O que esse cara fez por todos nós nos combustíveis, o que fez por nós também quando votou lá o auxílio emergencial de quatrocentos…um trabalho excepcional!”
“Nós fomos no parlamento ano passado, tivemos o apoio do Artur Lira. Não foram de todos os parlamentares, não.”
“[Queda no preço do] Combustível. A culpa é de quem? A culpa é do Bolsonaro. E também pode culpa do Arthur Lira também. Faz uma dupla aqui, a dupla aí diz, a dupla do combustível: Arthur Lira e Bolsonaro. Que dor de cotovelo hein, PT?”

A quem perguntava a Lira porque ele não apareceu no comício eleitoral, ele desconversava e minimizava a ausência. Lira gosta de repetir uma frase, nos bastidores, de que é um “político estável” e que seu “caminho é reto”.

Antes de Bolsonaro ou Lula, primeiro Lira, primeiro Centrão.

O Centrão sabe que, se for Bolsonaro, sua força será uma – com orçamento secreto e tudo mais. Se for Lula, o PT vai tentar montar um “centrão do B”, com partidos de esquerda, MDB, União Brasil, PSDB e, também, PSD. Além de tentar um acordo com Senado e, para isso, conta com Rodrigo Pacheco para acabar com as regras do orçamento secreto.

Se conseguir, fragiliza o Centrão de Lira. Se não conseguir, Lula sabe que, mesmo por vias tortas, vai ter de dar um jeito de cruzar o “caminho reto” de Lira.

G1