Bolsonaro usa morte da Rainha na campanha

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Foto: Escritório de Relações Exteriores do Reino Unido/fergusburnett.com

Surpreso? Acreditou que, consternado, a 14 dias das eleições, Bolsonaro teria o gesto de grandeza de interromper sua campanha e voar a Londres só para representar o Brasil no velório de Elizabeth II? Bolsonaro foi à caça de imagens para evitar uma derrota no primeiro turno. Aproveitou e fez campanha por lá.

Mal chegou à embaixada do Brasil onde ficaria hospedado, sabendo que devotos locais haviam sido mobilizados para saudá-lo, logo apareceu na varanda e pediu votos descaradamente. Disse que o Brasil não aceita discutir legalização do aborto, descriminalização das drogas e a chamada “ideologia de gênero”.

E afirmou a certa altura do discurso, para espanto de diplomatas e da imprensa internacional – da nossa, não, porque está acostumada:

“Esse é o entendimento da maioria do povo brasileiro. Estive no interior de Pernambuco e a aceitação é simplesmente excepcional. Não tem como a gente não ganhar no primeiro turno”.

Dos mais de 500 presidentes e chefes de Estado presentes em Londres, ele foi o único que não se acanhou em tirar vantagem política da ocasião. Ao livrar-se das obrigações do protocolo, como cumprimentar o Rei Charles e visitar o caixão com o corpo da rainha, foi a um posto mostrar quanto custa um litro de gasolina.

Gravou um vídeo postado de imediato nas redes onde disse que a gasolina no Brasil é mais barata que na Inglaterra. E proclamou: “É o governo brasileiro trabalhando por você”. O preço do litro na terra da rainha é o dobro do nosso. Bolsonaro escondeu, porém, que o salário mínimo inglês é seis vezes maior que o brasileiro.

Acompanhado da primeira-dama Michelle e do pastor evangélico Silas Malafaia, que torce para que trave o sistema de votação das urnas eletrônicas, adiando assim a data das eleições, Bolsonaro ainda encontrou tempo para conceder uma entrevista exclusiva ao SBT, também conhecido como Sistema Bolsonarista de Televisão.

Fez questão de negar que tenha ido a Londres em campanha. E voltou a atacar, sem provas, o sistema eleitoral brasileiro:

“Se eu tiver menos de 60% dos votos, algo anormal aconteceu, tendo em vista obviamente o data povo, que você mede pela quantidade de pessoas que não só vão nos meus eventos, bem como nos recepcionam ao longo do percurso até chegar ao local do evento”.

Pesquisa Datafolha, divulgada na última quinta-feira, deu a Lula 45% das intenções de voto e a Bolsonaro, 33%. Pesquisa anterior, do Ipec, ex-Ibope, deu a Lula 46% e a Bolsonaro, 31%. Pesquisa Ipespe, publicada anteontem (17), deu a Lula 45% e a Bolsonaro, 35%. O data povo não é nenhum instituto de pesquisa, é fake news.

Amanhã, em Nova Iorque, para o discurso de abertura de mais uma Assembleia-Geral da ONU, Bolsonaro terá outra oportunidade de envergonhar o Brasil. Nada de excepcional.

Metrópoles