Campanha de Lula faz nova ofensiva sobre evangélicos
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Com ampla desvantagem para o presidente Jair Bolsonaro (PL) entre os evangélicos, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – que, segundo as principais pesquisas, lidera a corrida presidencial considerando todo o eleitorado –, inicia, nesta sexta-feira, uma nova fase da estratégia traçada para tentar ampliar a aceitação neste nicho religioso. Às 10h, em São Gonçalo, terceiro maior colégio eleitoral do estado do Rio, o petista participa de um encontro com pastores e fiéis ao lado do candidato a vice na chapa, Geraldo Alckmin (PSB).
Durante o evento, está previsto que Lula receba uma “carta de apoio” que vem sendo costurada pelo núcleo de evangélicos do PT junto a entidades e lideranças do segmento. Uma das articuladoras do trabalho de aproximação com os fiéis é a deputada federal petista Benedita da Silva, que já foi membro da Assembleia de Deus e hoje frequenta a Igreja Presbiteriana Betânia. O documento que será repassado a Lula conterá, de modo resumido, motivos pelos quais os eleitores evangélicos podem apoiá-lo.
Lideranças petistas do Rio e de São Paulo defenderam, nos dias que antecederam o encontro desta sexta, a necessidade de contar com o apoio de membros e pastores de igrejas pentecostais, que têm maior presença em áreas de baixa renda, mas cujas principais lideranças são as mais ligadas a Bolsonaro. O foco da campanha, então, foi direcionado para tentar atrair este grupo para o evento.
Assim como acontece em âmbito nacional, porém, a ofensiva evangélica em São Gonçalo também esbarra na resistência bolsonarista. Como revelou a jornalista Malu Gaspar, colunista do GLOBO, a prefeitura da cidade, sob o comando de Capitão Nelson – que se elegeu em 2020 apoiado na figura do presidente –, chegou a ameaçar cobrar parcelas atrasadas do IPTU e a convocar vistorias no local previsto inicialmente para receber o encontro petista, o Clube Mauá. O evento acabou transferido para o Clube Tamoio, com menos infraestrutura e a dois quilômetros da localização original.
A mesma Malu Gaspar revelou, nesta quinta-feira, que o PT escolheu um pastor como porta-voz do ex-presidente para o segmento. Segundo a colunista, Ariovaldo Ramos, líder da Comunidade Cristã Renovada, ingressou na equipe de Lula, em costura que deve ser formalizada hoje, no encontro em São Gonçalo.
No início de setembro, a campanha de Lula também começou a distribuir um panfleto voltado para eleitores evangélicos. O material é assinado pela página “Restitui Brasil”, assumida pela campanha do petista em ofício enviado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dez dias antes. O folheto começa com a frase “o que os evangélicos realmente querem para o Brasil” e traz propostas e o histórico de atuação do ex-presidente em áreas como educação, saúde e emprego. Cada tópico é acompanhado por um versículo bíblico.
No panfleto, também há referências a “cuidar da criação de Deus”, ao citar a preservação do meio ambiente, e à “defesa da família”, além de críticas à expansão das armas de fogo, uma das bandeiras do governo Bolsonaro que mais teve resistência entre evangélicos. “A preocupação com os valores da família é central para Lula e Alckmin”, afirma outro trecho.
Ainda no fim de agosto, no dia 20, a página “Restitui Brasil”, responsável pelo panfleto, foi apenas um dos novos endereços criados em redes sociais destinados especificamente ao público evangélico, conforme informou a campanha petista ao TSE na ocasião. A petição continha doze perfis nas principais redes (Instagram, Twitter, TikTok, Facebook, Kwai e Telegram).
Em seis delas, o nome informado foi “Evangélicos com Lula” ou variações semelhantes. Em uma das páginas destinada ao Facebook, há um cadastro para que os interessados se inscrevam e passem a receber conteúdos. A descrição afirma que eles serão convidados “a participar de grupos especialmente criados para ajudar você a conversar com seus amigos cristãos”.
As páginas serão utilizadas para por em prática outra etapa da estratégia delineada para buscar os votos evangélicos. A coligação do PT vai passar a exibir nas redes sociais depoimentos de integrantes do segmento religioso dizendo a razão pela qual vão escolher Lula. Os depoimentos em vídeo estão em fase de coleta, e a ideia é colocar evangélicos falando para evangélicos. A estratégia, em princípio, é específica para redes sociais, mas também poderá ser usada em programas de TV. Outros conteúdos, como cards e mensagens religiosas, também estão sendo distribuídos em grupos de WhatsApp e Telegram.
Na véspera do anúncio da criação das páginas para evangélicos, Lula chegou a declarar que a questão religiosa não entraria em sua pauta política. A perda de fôlego entre os fiéis, porém, motivou a correção de rota. Em dezembro, meses antes do início da campanha, o Ipec apontava empate entre Lula e Bolsonaro no segmento. Já nas duas pesquisas divulgadas em agosto, enquanto o presidente chegou perto de 50% das intenções de voto entre evangélicos, Lula tinha pouco mais da metade deste percentual.
Integrantes do PT creditam a diferença à postura incisiva de Bolsonaro, que tem participado quase semanalmente de atos religiosos e tem apoio explícito de lideranças como o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, e José Wellington, da Assembleia de Deus do Belenzinho (SP). Também culpam notícias falsas de que Lula seria favorável ao fechamento de igrejas, disseminadas por aliados de Bolsonaro.