Diretor da Quaest explica diferença para Ipec

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O diretor da Quaest Pesquisa e Consultoria, Felipe Nunes, falou ao Blog da Cidadania sobre diferença gritante entre a recente pesquisa de seu instituto sobre a pesquisa presidencial em SP, que aponta empate entre Lula e Bolsonaro no Estado, e a pesquisa Ipec, feita ao mesmo tempo que dá 16 pontos de vantagem para o ex-presidente Lula.

Via Whats App, o Blog da Cidadania pediu explicação a Nunes, que não quis se pronunciar sobre a pesquisa Ipec, mas nos enviou uma extensa declaração sobre como seu instituto chegou aos números que chegou. Segue, abaixo, o que foi enviado.

Blog da Cidadania — Está crescendo o burburinho sobre a diferença entre Ipec e Quaest em SP. Poderia me dar alguma declaração?

Felipe Nunes — Acho que não é burburinho não… acho que é assunto mesmo!
Diferentes institutos têm diferentes metodologias. Cada uma das maneiras de coleta tem vantagens e desvantagens. Nossa obrigação é dar transparência ao que fazemos e submeter as nossas escolhas ao escrutínio público.

As pesquisas eleitorais da Quaest são conduzidas presencialmente nos domicílios dos respondentes. Em SP, sorteamos 87 municípios considerando o tamanho do eleitorado presente em cada um deles. Dentro de cada região do estado, os maiores municípios têm mais chances de serem selecionados, o que já garante a presença de São Paulo, e das grandes cidades regionais.

Com os municípios selecionados, passamos ao sorteio dos setores censitários, pequenas áreas compostas geralmente por poucos quarteirões definidas pelo IBGE, também dando mais chance de seleção aos maiores dentro de cada município.

Por fim, definimos um número fixo de eleitores a ser entrevistado em cada setor segundo cotas de sexo, faixa etária, grau de instrução e renda domiciliar. A distribuição da amostra segundo as cotas é definida de forma que tenhamos o número de entrevistas proporcional ao tamanho de cada grupo no eleitorado, de acordo com os dados oficiais mais recentes do TSE 2022 e do IBGE (PNAD 2021/22).

O procedimento descrito acima é quase integralmente considerado padrão entre empresas que optam pelo modelo presencial de coleta. A escolha que tem chamado a atenção sobre as pesquisas da Quaest diz respeito ao uso de renda domiciliar total (incluindo auxílios, pensões e benéficos) nas cotas das entrevistas. As dúvidas decorreram de duas questões.

Primeiro, determinar a renda de indivíduos não é tarefa simples. As pessoas tendem a subestimar sua renda, quando ganham muito, ou tendem a superestimar sua renda, quando ganham muito pouco. Esse comportamento poderia então levar o instituto a errar a análise do comportamento do eleitor, já que a renda estaria mal mensurada.

Reconhecemos a dificuldade de medir precisamente a variável renda, mas reconhecemos também a possibilidade de desvios em coletas realizadas sem qualquer controle amostral de renda. A maior crítica feita a pesquisas domiciliares, por sinal bem fundamentada, diz respeito à dificuldade de se ter acesso a condomínios e edifícios: é muito trabalhoso tentar entrevistar um morador de um luxuoso edifício em Pinheiros. Sem as cotas de renda, é possível que se subestime esses eleitores. Adotamos esse procedimento minimizando, ao mesmo tempo, o problema da subestimação ou superestimação da renda permitindo que o entrevistado diga a renda de seu domicílio em faixas generosas. Ou seja, nos questionários da Quaest o entrevistado não precisa ser preciso, ele só precisa dizer em que faixa (até 2 salários, de 2 a 5 salários, ou mais de 5 salários) estão os rendimentos de sua família, considerando o trabalho formal ou informal e os auxílios recebidos por todas as pessoas que moram no mesmo domicílio. Tal procedimento diminui consideravelmente as chances de erro de mensuração.

A segunda vertente de questionamento surgiu a partir da observação e comparação por parte de interessados em pesquisa que notaram diferenças significativas nas referências de renda usadas entre diferentes institutos para estabelecer suas cotas. Em alguns casos, a crítica chegou a sugerir, por exemplo, que a Quaest estaria se equivocando ao definir cotas de renda como estava fazendo. Por acreditar que a replicação é um atributo indispensável no trabalho de pesquisa, somos totalmente transparentes na forma como chegamos às cotas com as quais trabalhamos.

Na ausência de um Censo atualizado, a Quaest utiliza a PNAD anual para calcular a proporção de renda familiar que precisa ser representada em nossas amostras. O dado mais recente, disponibilizado em junho deste ano, diz respeito ao consolidado mensurado no ano de 2021 e mostra que o percentual de pessoas com mais de 16 anos com renda familiar de até 2 salários é de 25%, o percentual de quem tem entre dois e cinco salários é de 44% e o percentual de quem tem mais de cinco salários de renda familiar é de 31%. Ou seja, qualquer distribuição de renda apresentada diferente desta não tem ancoragem oficial com o dado do IBGE, o que não é o caso das pesquisas publicadas pela Quaest.

Redação