Datafolha prova que Ciro ajuda Bolsonaro

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Foto: Adriano Machado/Reuters

Se comparada ao levantamento da semana passada, feita antes das manifestações de 7 de Setembro, a pesquisa Datafolha divulgada na sexta-feira (9/9), mostra que Jair Bolsonaro (PL) segue com dificuldade de conquistar votos para além dos eleitores mais fieis, uma base composta por cerca de 30% da população e que apresentou em peso as caras, e bandeiras, durante os comícios do bicentenário.

O presidente não conseguiu decolar após uma semana de ampla exposição e boas notícias para a economia. Oscilou dentro da margem de erro, de dois pontos percentuais, e tem agora 34% das intenções de voto, contra 32% da semana passada. Nada que ameace, por ora, o favoritismo de seu principal adversário, o ex-presidente Lula (PT), que manteve os 45%, apesar da escalada dos ataques.

A novidade é que esses ataques surgem agora, e de forma cada vez mais ostensiva, em duas frentes.

Bolsonaro tem apostado alto no antipetismo para repetir o fenômeno que o levou à vitória em 2018. Em atos e pronunciamentos, já chamou Lula de todos os nomes.

Em outra frente, a pesquisa parece dar razão à campanha petista ao acusar Ciro Gomes (PDT), ex-ministro de Lula, de fazer o jogo do atual presidente. De uma semana para cá, Ciro oscilou dois pontos para baixo e Bolsonaro, dois para cima.

O movimento acontece no momento em que Ciro tem elevado o tom contra o ex-presidente. Nos últimos dias, ele disse que o petista tinha filho bandido e colocou em dúvida a saúde física do ex-aliado.

Em uma entrevista à Jovem Pan, disse compartilhar da preocupação do apresentador, Emílio Surita, de que o Brasil virasse um país socialista sob Lula –uma conversa mole que até outro dia só gente da base bolsonarista tinha coragem de repetir.

Desde o começo do mês, cresce o número de eleitores de Ciro que citam Bolsonaro como segunda opção. Eram 24% há dez dias e agora são 30%. Lula, prioridade dos ataques do pedetista, é a segunda opção para 33% desses eleitores.

A tendência mostra que Lula já não tem ampla vantagem nessa fatia do eleitorado em caso de segundo turno – mas eles serão determinantes para que a eleição não seja definida já em 2 de outubro.

Lula sabe disso e já não deixa Ciro falando sozinho. Seus aliados demonstram cada vez mais incômodo com o ex-aliado, acusado por eles de rasgar a própria biografia para servir de linha auxiliar de um candidato extremista.

A tendência apontada pela pesquisa Datafolha lhes dá razão.

A estratégia do pedetista não tem sido boa nem para ele nem para o ex-presidente. Ele não ganhou um voto com o discurso; pelo contrário.

Já há quem aposte que Ciro corre o risco de terminar a corrida atrás de Simone Tebet (MDB), que estacionou nos 5% das preferências. Ambos estão tecnicamente empatados.

Lula segue a um passo de ser eleito em primeiro turno. Tem 48% dos votos válidos (excluindo brancos e nulos), mas a tendência é de queda. Ele tinha 54% em maio.

Visto em perspectiva, Bolsonaro, de oscilação em oscilação, cresceu seis pontos percentuais desde então, e diminuiu a distância nos votos válidos para Lula de 24 para 12 pontos.

Como diria um sagaz observador de pesquisas eleitorais, o que importa é saber se as linhas vão se cruzar antes ou depois das eleições.

Lula segue favorito contra Bolsonaro em um eventual segundo turno. Venceria hoje, segundo o Datafolha, por 53% a 39%. Eram 55% e 32% em maio.

Contra Bolsonaro pesa o fato de ser ainda o candidato mais mal avaliado do certame, com 51% das menções. Lula tem 38%.

Dos entrevistados, 50% dizem que nunca confiam nas palavras do presidente e 42% consideram seu governo ruim ou péssimo. Um número alto para quem quer concorrer à reeleição e já abriu a caixa de ferramentas, como o Auxílio Brasil, para turbinar suas chances. Isso de nada adianta enquanto a rejeição do candidato for ainda maior que a de seu governo.

O jogo está em aberto. E hoje Bolsonaro tem mais a agradecer do que a reclamar da estratégia de Ciro Gomes, que garante mais algumas semanas de campanha enquanto draga parte de apoio que, ao menos em tese, seguiria ao ex-aliado quando não estiver mais em campo.

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