Esquerda prevê eleger no máximo 160 deputados
Foto: Reprodução/ TV Globo
Garantir a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial não é a única preocupação dos petistas nestas poucas semanas que faltam para o primeiro turno.
Embora não chamem a atenção para o assunto publicamente, as lideranças do partido e da coligação que apoia Lula vêm fazendo contas e desenhando estratégias para assegurar outra vitória: eleger o maior número possível de deputados federais, para diminuir a dependência do Centrão na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados.
Ainda assim, segundo as contas dos próprios aliados de Lula, nos melhores cenários o PT elegeria 75 deputados e a esquerda, 160 ao todo. Mesmo que o MDB, que hoje tem 37 deputados, imediatamente passe a compor a base do novo governo, ainda assim um eventual governo Lula tomaria posse com o apoio de cerca de 200 deputados.
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Com uma base desse tamanho, um eventual governo Lula não teria força para tirar a presidência da Câmara de Arthur Lira, que se prepara para tentar a reeleição.
O “número mágico” que as lideranças próximas a Lula consideram necessário para ter condições de pelo menos indicar candidato a presidente numa chapa para a eleição da mesa da Câmara seria o de 250 deputados na base – algo muito difícil de a esquerda conseguir neste pleito.
Por isso, deputados influentes na campanha de Lula, alguns bem próximos do ex-presidente, defendem que ele manere nas críticas ao orçamento secreto. Segundo interlocutores do ex-presidente e desses parlamentares, entre eles estariam Paulinho da Força (Solidariedade-SP) e José Guimarães (PT-CE).
Procurado pela equipe da coluna para comentar o assunto, Guimarães apenas disse: “vamos esperar o resultado das eleições”.
Paulinho respondeu que Lira é o seu candidato ao comando da Câmara independentemente de quem vença as eleições presidenciais.
A ala que gostaria que Lula fosse “menos enfático” quanto ao orçamento secreto calcula que, dependendo dos resultados das urnas, talvez seja impossível evitar uma negociação com Lira para a composição da mesa da Câmara logo no início de um eventual governo Lula.
Esses petistas têm trauma da tentativa da ex-presidente Dilma Rousseff de bancar a candidatura do petista Arlindo Chinaglia contra Eduardo Cunha para o comando da Câmara, em fevereiro de 2015.
A vitória de Cunha, aliado e espécie de mentor de Lira, até hoje é vista no petismo como a origem dos problemas que levaram ao impeachment da presidente.
Outra ala do PT defende que é cedo para se preocupar com o poder de Lira no Congresso. “Vamos esperar para ver o tamanho com que ele sairá da eleição em outubro”, diz um desses petistas, que integrou o primeiro escalão do governo Dilma.
Até agora, Lula tem procurado se manter distante dessa discussão. Ouviu os apelos dos aliados, mas não os atendeu.
Na última quarta-feira (31), em Manaus, ele disse querer extinguir o orçamento secreto para criar um orçamento participativo. Na entrevista ao Jornal Nacional, no dia 25 de agosto, ele classificou o orçamento secreto como um mecanismo de “usurpação do poder”. “O Bolsonaro não manda nada, ele é refém do Congresso Nacional”, disse Lula. “Orçamento quem cuida é o Lira”.
Apesar da ênfase de Lula, porém, seu programa de governo não se refere expressamente a “orçamento secreto”. O texto apresentado ao TSE pelo PT promete “transparência e execução dos orçamentos públicos” e defende colocar os “pobres outra vez no orçamento”, fazendo os “super-ricos” pagarem impostos
Procurada pela reportagem, a campanha de Lula disse que o plano de governo foca em ações do Executivo — e que a palavra final a respeito do fim do orçamento secreto é do Congresso.