Lula atribui assassinato de apoiador a intolerância e ódio
Foto: Marlene Bergamo/Folhapress
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usou termos como intolerância, ódio e selvageria ao se referir nesta sexta (9) ao assassinato de um apoiador por um bolsonarista um dia antes em Mato Grosso.
“É com muita tristeza que soube da notícia do assassinato de Benedito Cardoso dos Santos, na zona rural de Confresa. A intolerância tirou mais uma vida. O Brasil não merece o ódio que se instaurou nesse país. Meus sentimentos à família e aos amigos de Benedito”, escreveu o petista em uma rede social.
Em seguida, no Rio, disse que “o país caminha para uma selvageria que até então desconhecíamos”. “É uma demonstração do clima de ódio estabelecido no processo eleitoral. Uma coisa totalmente anormal.”
O petista ainda afirmou esperar que a polícia esteja atenta, assim como a Justiça Eleitoral, à possibilidade de que o crime tenha sido feito a mando de alguém, “se tem orientação, se é uma estratégia de política”.
Nesta quinta, em Confresa, a 1.160 km de Cuiabá, um homem que defendia o ex-presidente Lula foi morto por um apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) após uma discussão.
O autor do crime, Rafael de Oliveira, 24, passou por audiência de custódia, e a Justiça de Mato Grosso manteve a prisão preventiva. Ele confessou, de acordo com a polícia, ter matado com facadas no rosto o colega de trabalho Benedito Cardoso dos Santos, 44, depois de uma discussão política.
É com muita tristeza que soube da notícia do assassinato de Benedito Cardoso dos Santos, na zona Rural de Confresa. A intolerância tirou mais uma vida. O Brasil não merece o ódio que se instaurou nesse país. Meus sentimentos à família e amigos de Benedito.
— Lula 13 (@LulaOficial) September 9, 2022
Ainda segundo a polícia, o autor também tentou decapitar a vítima e, após o crime, filmou o cadáver.
Além de Lula, outro candidato à Presidência comentou o crime. O pedetista Ciro Gomes atribuiu o assassinato ao que chamou de “guerra fratricida e polarização odienta”. “Mais uma vítima da guerra fratricida, semeada por uma polarização irracional e odienta que pode inundar de sangue o nosso solo”, escreveu o presidenciável em seu perfil no Twitter. “Abaixo a violência política. O Brasil quer paz.”
O assassinato ocorreu na madrugada de quinta, em uma fábrica de cerâmica localizada na zona rural do município de 32 mil habitantes. A decisão da prisão preventiva foi assinada pelo juiz Carlos Eduardo Pinho Bezerra de Menezes e divulgada em audiência de custódia na tarde desta quinta-feira.
Na decisão, o magistrado afirma haver, com base nos depoimentos dos policiais que realizaram a prisão e na confissão de Oliveira, “prova da materialidade e indícios suficientes” da autoria do crime.
O juiz ainda classificou o ocorrido de “reprovável” e citou que a intolerância poderá regredir a sociedade aos tempos da barbárie. “Lado outro, verifica-se que a liberdade de manifestação do pensamento, seja ela político-partidária, religiosa, ou outra, é uma garantia fundamental irrenunciável”, afirmou.
A deputada e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), atribuiu a morte a um suposto “comando de violência” dado por Bolsonaro. “A um dia de completar dois meses do assassinato do Marcelo Arruda, do PT, por um bolsonarista, outro bolsonarista assassinou com facadas um apoiador de Lula. O comando de violência que Bolsonaro dá para extirpar Lula e os petistas leva a isso. O assassino é você, Bolsonaro.”
Episódios ligados a ameaças e ataques relacionados à disputa eleitoral têm se acumulado no Brasil desde a pré-campanha. Em julho, um policial penal federal bolsonarista invadiu uma festa de aniversário e matou a tiros o guarda municipal e militante petista Marcelo Aloizio de Arruda, em Foz do Iguaçu (PR).
Depois, o país viu um ataque a um juiz federal e a um ato com o ex-presidente Lula (PT). Dias atrás, militantes de esquerda impediram uma palestra de políticos de direita.
A polarização eleitoral entre Bolsonaro e Lula e a perspectiva de uma disputa acirrada levaram a Polícia Federal a reforçar o esquema de segurança de candidatos à Presidência para a campanha deste ano.
Até 2018, a PF fazia a proteção dos candidatos com base em lei e portaria sucinta do Ministério da Justiça que tratava genericamente da necessidade de proteger os postulantes ao Palácio do Planalto.
Após o pleito, marcado pela facada a Bolsonaro e por ameaças à campanha de Fernando Haddad (PT), a polícia editou instrução normativa específica para a segurança dos candidatos à Presidência com diretrizes que devem ser seguidas pelos agentes e com recomendações claras aos políticos na disputa.