Lula seduz empresários e Bolsonaro apela a Guedes

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Foto: Reprodução

A disputa pela confiança do empresariado nacional e a defesa do legado de seus respectivos governos transformaram a economia no novo front das campanhas do ex-presidente Lula (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL) nessa reta final. Após o petista ganhar terreno ao reunir grandes nomes do PIB na noite de terça-feira, em São Paulo, o atual titular do Palácio do Planalto escalou o ministro da Economia, Paulo Guedes, para a linha de frente do processo eleitoral. O “Posto Ipiranga” gravou para a propaganda eleitoral do presidente na TV, intensificou encontros com empresários e entrevistas sobre a atuação do governo. Integrantes do governo viram a presença de nomes alinhados ao presidente no jantar com Lula como um sinal de “desembarque”.

Nas declarações gravadas nos últimos dias para a propaganda eleitoral, Guedes defende a atuação do governo na economia, ressalta o socorro aos mais vulneráveis durante a pandemia com o auxílio emergencial e diz que o Brasil se saiu melhor da crise que outros países.

Em outra frente, na terça-feira o ministro participou por mais de quatro horas do podcast Flow.

— Vai ser a primeira vez em 42 anos que o Brasil vai crescer mais do que a China — afirmou — Estamos crescendo mais do que eles, estamos com a inflação mais baixa do que eles — disse.

Essa deflação citada pelo ministro é decorrente da redução de impostos promovida pelo governo sobre combustíveis e energia elétrica e está concentrada nesses segmentos, não atingindo ainda produtos como alimentação.

Guedes também criticou quem, segundo ele, “subiu em cadáveres para fazer política” na pandemia:

— Muita gente falava: “Sai daí, Paulo. Não fica ajudando não”. E eu falava: “200 milhões de pessoas dependem de nós lá fora e vocês vão fazer política numa hora dessas? O que vai acontecer se o Brasil afundar numa crise dessa tremenda? O Brasil vira a Venezuela. Você acha que vai ser presidente de que? O que você acha que vai sobrar do lado de lá?”. “Ah, mas salve sua biografia”. Eu não estou preocupado com a minha biografia. Eu quero ajudar 200 milhões de pessoas.

O ministro ainda deu entrevista ao programa Pânico, da Jovem Pan. Ele usou um dos famosos aforismos do escritor Millôr Fernandes para explicar por que o Brasil não avança no crescimento econômico. Guedes disse que o país “tem à frente seu passado” e sempre que começa a sair do buraco, aparece um “fantasma e sequestra tudo de novo”. Para ele, esse ditado se aplica à atual eleição.

Em seu perfil no Twitter, Bolsonaro tem feito postagens com Guedes. Ele replicou, por exemplo, a participação do ministro no Flow. Para integrantes da campanha à reeleição, o atual “tour” de Guedes por diversos programas pode ter bons resultados especialmente sobre eleitores que já votaram no presidente, mas dele se afastaram ao longo do governo. A avaliação é que o ministro é a melhor pessoa para vocalizar as medidas econômicas da atual gestão e projetar as realizações de um eventual segundo mandato.

Já o encontro na terça-feira de Lula com empresários, promovido pelo Grupo Esfera, foi uma das principais iniciativas de diálogo entre o candidato do PT e o setor. Integrantes do partido avaliam que Lula ainda sofre resistência de parte do empresariado. Petistas também ressaltaram que o encontro foi importante para o ex-presidente ressaltar que tem compromisso mais ao centro em um eventual novo governo. E que irá dialogar e ouvir o setor produtivo. O próprio Lula pediu, no evento, que os empresários apresentem propostas para o país.

Um dos movimentos ao centro feito por assessores de Lula foi uma tentativa de conversa com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Indicado por Bolsonaro, ele ficará no cargo até 2024, quando termina o seu mandato, já que o BC agora é autônomo. Campos Neto, porém, achou melhor esperar o resultado das urnas. Em entrevista ao SBT na terça, Lula classificou o atual presidente do BC como uma pessoa “razoável” e “economista competente”.

Reação: Um dia após jantar de Lula com empresários, Bolsonaro diz que economia do Brasil é ‘exemplo para o mundo’
O partido tenta ainda consolidar o que considera uma “onda” de apoio a Lula no primeiro turno e busca o apoio explícito de grandes empresários.

—Não foi um jantar de vira voto, foi um jantar para reduzir a desconfiança— resumiu um empresário que esteve no encontro com Lula em São Paulo.

Cerca de cem executivos foram à casa do fundador do Esfera, João Camargo, para um encontro antes previsto para ocorrer só no segundo turno e que foi antecipado diante da perspectiva concreta de que Lula vença no primeiro turno.

Segundo relato de um dos presentes, o ex-presidente não demonstrou mágoa de aliados de outra hora de Bolsonaro e “falou tudo o que a plateia queria ouvir”. A menção a uma substituição do teto de gastos causou desconforto, mas na sequência Lula repetiu que seu governo prezou pela responsabilidade fiscal e fez uma analogia com o ambiente corporativo para se aproximar da plateia.

—Ele usou a lógica do empresário e disse: “assim como uma empresa, um governo às vezes precisa se endividar para crescer” — contou um executivo.

Muitos após o jantar lembravam, nas conversas entre si, que em 2003 o governo de Lula fez acertos na economia. Outros repetiam que o ex-tucano Geraldo Alckmin, vice na chapa do ex-presidente, teria um papel de destaque num eventual novo mandato de Lula.

—A desconfiança maior não é com Lula, era com a entourage, foi isso que ele tentou reduzir — contou um dos presentes.

Segundo outro relato, o ex-presidente tentou “refazer o laço com uns ou criar com os que nunca teve”.

Durante a reunião, importantes nomes no PIB abordaram preocupações com a situação fiscal e tributária e manifestaram a necessidade de o país ter crédito para se reindustrializar, de o agronegócio focar na preservação do meio ambiente e de o Estado dar ênfase para as questões sociais. Ouviram de Lula e de Aloizio Mercadante, coordenador do programa de governo, que eventual nova gestão petista promoveria a reforma tributária e que as políticas para estimular o crescimento da indústria e garantir a proteção ambiental serão prioridade.

O Globo