Mulheres pobres são principal foco de Lula
Foto: Ricardo Stuckert
Numa estratégia para atrair o voto de mulheres de baixa renda, a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT ao Palácio do Planalto, preparou um pacote de propostas voltadas para este público. Entre as promessas estão o aumento de vagas em creches públicas, com a retomada de obras paradas em escolas de educação infantil, um pagamento de R$ 150 a mais a beneficiárias de programa social por filho de até 6 anos, além da criação de um Ministério das Mulheres, voltado exclusivamente a políticas públicas relacionadas ao gênero.
Mulheres das classes C, D e E, segundo números levantados pela campanha, representam um quinto do eleitorado brasileiro — aproximadamente 30 milhões de pessoas — e onde há parcela significativa dos indecisos ou que ainda podem mudar de voto até o dia da eleição.
O ex-presidente tem dito que, se eleito, vai pedir para governadores e prefeitos indicarem obras prioritárias em seus estados para serem retomadas — as de educação e saúde deverão ser as primeiras a receber recursos. Relatório deste ano do Transparência Brasil aponta que 2.530 obras de creches e escolas custeadas pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) estão atrasadas, 72% delas estão paradas. A proposta também prevê aumento de repasses federais para custeio das vagas — com colaboração maior para gastos em geral e merenda escolar, repactuando convênios com municípios por meio de metas educacionais.
— No caso das mulheres, não é só uma questão de impacto na economia da família. É também uma questão de equidade de gênero. Muitas mulheres acabam não tendo a oportunidade de trabalhar porque tem filhos pequenos ou as deixam em situações vulneráveis — afirma a economista Tereza Campello, ex-ministra do Desenvolvimento Social de Dilma Rousseff.
Mirando esse público, Lula já anunciou o pagamento de R$ 150 a mais por criança de 0 a 6 anos para famílias atendidas pelo Bolsa Família (rebatizado de Auxílio Brasil no atual governo) e um programa de renegociação de dívidas para pessoas que recebem até três salários mínimos. Cálculos preliminares de economistas que trabalham na elaboração do plano de governo apontam que o benefício de R$ 150 a mais por filho deve atingir 10 milhões de crianças.
O PT não aponta qual será a fonte de recurso. Argumenta, porém, que a ideia é corrigir uma distorção causada pelo Auxilio Brasil de R$ 600, em que um adulto que mora sozinho ganha o mesmo valor de uma mãe com filhos pequenos.
— Há muitas famílias recebendo de forma injusta se comparada com outras. Não é só o debate de quanto custa, mas como fazer isso de forma adequada. Hoje existe uma injustiça que queremos começar a corrigir — afirma Campello.
Lula também tem repetido que irá criar o Ministério das Mulheres — que seria diferente do atual, que engloba atribuições do antigo Ministério dos Direitos Humanos e foi rebatizado no atual governo como Ministério da Mulher, Família e Direitos Humano. Ao lançar essas promessas, petistas admitem que apenas falar do legado das gestões de Lula para este público não é o suficiente — programas como Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida já tinham mulheres como público de referência.
Na avaliação da campanha petista, a estratégia de fazer promessas específicas que agradam ao eleitorado feminino é também uma forma de tentar ganhar terreno entre evangélicos. A estimativa é de 40% a 60% das mulheres de baixa renda fazerm parte do segmento religioso, em que o presidente Jair Bolsonaro leva vantagem, segundo pesquisas de intenção de voto.
A campanha acredita que, ao pautar temas econômicos, chega a este público sem precisar entrar no debate religioso. Por compor uma faixa do eleitorado que ainda pode se movimentar, o PT quer tentar atraí-las a partir da pauta econômica, enquanto Bolsonaro, na leitura de lulistas, tentará conquistá-las com discurso de costumes e usando Michelle Bolsonaro na campanha.
Na segunda-feira, 12, a campanha começou a impulsionar um vídeo de propaganda política no YouTube com foco em mulheres. A gravação de pouco mais de um minuto traz uma mulher negra lembrando benefícios das gestões petistas em nome das mulheres, criação da Lei Maria da Penha, Lei do Feminicídio e a Lei da Liberdade Religiosa.
— Elas são votos conquistáveis, que estão em aberto. É um público suscetível a questões proeminentes do dia a dia e a economia tem uma relevância muito grande, inflação dos alimentos, informalidade do mercado de trabalho, dificuldade de renda. São muito mais apegadas a isso do que a qualquer nuance de rejeição, são menos afetadas pelas narrativas da bolha, são pouco ligadas a ameaça democrática, ao discurso machista ou de quem é mais corrupto, isso claramente não engaja elas — afirma o presidente do instituto Idea Big Data, Mauricio Moura.