No Rio, 69% dos bolsonaristas querem golpe

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Foto: Hermes de Paula

Maioria branca, do sexo masculino, de classe média, com ensino superior completo e católica. As 64 mil pessoas que foram a Copacabana no 7 de Setembro misturado com comício do presidente e candidato à reeleição pelo PL, Jair Bolsonaro, também já passaram, em média, dos 50 anos e são amplamente favoráveis a uma intervenção militar se entenderem que o resultado foi fraudado. Os dados são de uma pesquisa quantitativa da Universidade de São Paulo (USP) feita nesta quarta-feira na Avenida Atlântica.

Entre o meio-dia e 16h30m, pesquisadores do Monitor do Debate Político, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, fizeram 614 entrevistas distribuídas proporcionalmente ao longo do ato a favor do presidente sob a coordenação dos pesquisadores da USP Pablo Ortellado e Marcio Moreto e da Uerj, José Szwako, com assistência de Luiza Foltran (USP).

O 7 de Setembro eleitoral de Bolsonaro reflete algumas das dificuldades que o presidente enfrenta neste momento nas pesquisas. Maior faixa do eleitorado brasileiro, quem ganha até dois salários mínimos representava somente 11% do público presente. Na última pesquisa Datafolha, esse estrato dava ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ampla vantagem de 54% a 25% sobre Bolsonaro. A margem de erro do estudo da USP é de quatro pontos percentuais para mais ou menos dentro de um intervalo de confiança de 95%.

Na Atlântica, 7% estudaram até o ensino fundamental. No Brasil, segundo o Datafolha, 56% dessa faixa votam em Lula e 26% em Bolsonaro. O perfil branco, de renda elevada e com educação superior completa que foi à Praia de Copacabana nesta quarta-feira votou em Bolsonaro em 2018 na quase (91%) totalidade, e a ampla maioria (69%) é favorável a uma “intervenção militar constitucional se as eleições forem fraudadas”. A média de 50 anos deixa claro que esses manifestantes já votaram muitas vezes. Mesmo assim, 71% deles dizem não confiar no resultado das urnas eletrônicas, prova da grande adesão a uma desconfiança patrocinada pelo próprio presidente nos últimos meses e que, neste momento, esteve fora dos discursos oficiais. Outros 15% afirmam crer nas máquinas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No lado mais moderado do público, um contingente um pouco maior, de 25%, diz não ser favorável a uma intervenção militar em caso de fraudes nas urnas.

— O apoio a uma intervenção militar, caso se entenda que há fraude nas eleições, foi bastante alto, na casa dos 70%. Esse também foi o patamar de desconfiança no resultado das urnas eletrônicas. Uma alegação de fraude por Bolsonaro pode gerar apoio a uma ruptura institucional, pelo menos entre a população mobilizada nas ruas. Como a mobilização do 7 de setembro foi muito grande, esses resultados são preocupantes — analisa Ortellado.

O sentimento antipetista é predominante (77%), sinal da força que Bolsonaro tem em um sentimento que surgiu bem antes da campanha de 2018 que o elegeu. Em Copacabana, eram 11% os que se diziam “nada antipetistas” e 9% os “um pouco antipetistas”. Por outro lado, 0% era de esquerda e 82% assumiam perfil de direita. Uma minoria de 5% era de centro, mas um contingente maior, de 12%, evita rótulos e respondia a opção “nada disso”. Ao dizer se desgosta ou gosta muito de petistas em uma escala de zero a dez, a média foi de 1,7%, com 70% escolhendo entre zero e dois, os números mais perto do “desgosta muito” dos simpáticos e integrantes do partido de Lula.

Diferentemente do eleitorado nacional de Bolsonaro, o público de Copacabana era 44% católico. Nesse grupo, Lula tem ampla vantagem no país (51% a 28% no Datafolha), este um sinal de que os manifestantes de Copacabana também diferem da média nacional. Na Atlântica, outros 31% eram evangélicos. No Brasil, 48% dos eleitores desse segmento hoje afirmam votar em Bolsonaro contra 32% de Lula.

Se existe uma corrida entre Lula e Bolsonaro pelo baixíssimo estoque de votos indecisos para presidente (apenas 17% na pesquisa espontânea no Datafolha), o público de Copacabana certamente não era o mais indicado. A ampla maioria do público se dizia “muito conservador” (80%) sinal de que, pelo menos em Copacabana ontem, existe um orgulho sobre esse posicionamento ideológico. Outros 17% era pouco conservadores e 1%, nada conservador, além dos 2% que não sabiam responder.

A manifestação concentrou mais homens (57%) do que mulheres (43%). A maioria branca foi de 51%, enquanto 31% eram pardos e 11%, pretos. E os manifestantes com ensino superior somavam 63%, contra 30% que foram até o ensino médio e 7% pararam no fundamental.

O Globo