Os grandes embates políticos da redemocratização

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Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Os debates dos candidatos à Presidência da República sempre geraram muita repercussão na televisão brasileira, além de serem um momento para os eleitores conhecerem propostas e quem votarão nas urnas. Nesta quinta-feira, 29, haverá o último debate entre os presidenciáveis, promovido pela TV Globo, no Rio de Janeiro, após a novela Pantanal.

Participam desse último encontro os candidatos Ciro Gomes (PDT), Jair Bolsonaro (PL), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Luiz Felipe D’Ávila (Novo), Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil) e Padre Kelmon (PTB). O Estadão preparou uma lista com confrontos marcantes entre candidatos na TV.

1989: Brizola x Maluf
Durante debate presidencial no primeiro turno de 1989, veiculado pela TV Bandeirantes, em 16 de outubro, Paulo Maluf (à época no PDS) afirmou que candidatos à Presidência devem “ter estabilidade emocional”. “Quem é desequilibrado não pode ser candidato a presidente da República”, disse, em referência a Leonel Brizola (PDT), que estava sentado ao seu lado.

Brizola começou a pedir aparte, ao que Maluf retrucou, várias vezes, “não lhe dou aparte”, erguendo a voz. Logo a discussão virou uma troca de insultos. Maluf chamava Brizola de desequilibrado, que, por sua vez, rebatia com “filhote da ditadura”. Naquele momento, logo após a abertura democrática do País, figuras políticas buscavam se afastar de qualquer associação ao regime militar.

A briga sobrou até para a plateia. Maluf afirmou que Brizola “passou 15 anos no estrangeiro e não aprendeu nada”. Ele se referiu ao período em que o rival esteve no exílio. O público riu e aplaudiu, ao que Brizola retrucou: “Olha como está de malufista aqui dentro? Tudo malufista. Filhotes da ditadura. Todos engordaram na ditadura”.

Várias vezes durante a discussão a apresentadora Marília Gabriela pediu licença e tentou interromper os candidatos, mas acabou pedindo intervalo. No retorno ao debate, ameaçou “evacuar” a plateia, se as manifestações dos convidados não parassem.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também se envolveu em uma discussão nesse mesmo debate, quando Ronaldo (PSD) disse que a candidatura do petista estava impugnada pela Justiça. Lula retrucou que a de Caiado estava “impugnada pelo povo”.

1989: Lula x Collor
Em 1989, os dois debates feitos entre os candidatos Collor e Lula antes do segundo turno foram questionados. O primeiro por apresentar um equilíbrio entre ambos, e o segundo por privilegiar o desempenho de Collor, o que causou maior polêmica. A Globo foi acusada de ter favorecido o candidato do PRN na seleção dos momentos e no tempo dado, já que ele teve um minuto e meio a mais do que Lula. O PT chegou a mover uma ação contra a emissora no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Os responsáveis pela edição do Jornal Nacional afirmaram, tempos depois, que usaram o mesmo critério de edição de uma partida de futebol, na qual são selecionados os melhores momentos de cada time. Segundo eles, o objetivo era que ficasse claro que Collor tinha sido o vencedor do debate, pois Lula realmente havia se saído mal. “Ficou clara nossa posição sobre reforma agrária, dívida externa e interna, saúde e habitação”, disse Collor, após o debate.

A própria liderança do PT, apesar de não admitir a derrota, reconheceu que Lula não se saíra bem no confronto com Collor.

2006: Lula x Alckmin
Em 2006, o primeiro debate entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin, à época no PSDB e hoje no PSB e vice de Lula, foi marcado por críticas e acusações. Assuntos como ética, corrupção e dossiê Vedoin – que seria comprado por petistas para ser usado contra os tucanos – dominaram o confronto. “Não meça as pessoas pela sua régua. Eu não tenho em meu governo ministro condenado, não tenho indiciado pela polícia, não tenho assessor denunciado pelo procurador da República”, afirmou Alckmin, na TV Band, no dia 8 de outubro.

Em seguida, Lula insinuou que houve compra de votos por parte do partido tucano nas eleições de 1996. “Aonde que começou a compra de votos espúria nesse país? O governador por um acaso esqueceu do processo da reeleição de 1996? Que foi que começou a podridão e que não se permitiu que houvesse uma CPI para apurar?”, disse o presidenciável.

No último debate antes do primeiro turno das eleições, da TV Globo, Lula não compareceu e foi criticado pelos que se candidataram ao cargo. Alckmin afirmou que ele foi “fujão” e evitou “debate para não ter de explicar os escândalos” do mensalão. Para o tucano, “o petista foge da discussão, ignora a opinião pública e se nega a explicar a corrupção em seu governo”. Lula enfrentou Alckmin no segundo turno e o derrotou, sendo reeleito.

2018: Marina Silva x Bolsonaro
Na campanha eleitoral de 2018, os candidatos à Presidência da República Jair Bolsonaro, antes no PSL e hoje no PL, e Marina Silva (Rede) se enfrentaram sobre a diferença salarial entre homens e mulheres no País. O debate foi promovido pela RedeTV!, no dia 17 de agosto, e movimentou as redes sociais.

A candidata contestou a afirmação de Bolsonaro de que a diferença remuneratória entre gêneros não é uma questão a ser discutida por já estar estabelecida na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Marina rebateu dizendo que a realidade mostra o contrário. “Tem de se preocupar, sim, porque, quando se é presidente da República, a gente tem de fazer cumprir o artigo 5.º da Constituição Federal, que diz que nenhuma mulher deve ser discriminada”, afirmou Marina.

O formato do debate exigia que os candidatos andassem até o centro do palco e fizessem questões um ao outro. Diante de Bolsonaro, Marina criticou o rival por “pegar a mãozinha de uma criança e ensinar como é que faz para atirar”. “É esse o ensinamento que você quer dar? Você acha que pode resolver tudo no grito, na violência”, disse ela.

Sem tempo para resposta, o deputado encerrou a discussão com uma menção à Bíblia: “Leia o livro de Paulo”. O embate entre os dois começou com uma pergunta do deputado sobre a opinião da adversária a respeito de porte de arma. A ex-senadora se disse contrária à proposta.

Estadão