“Queiroz do Bolsonaro” se apresenta assim na campanha

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Foto: Reprodução

No dia 7 de setembro, o policial militar da reserva Fabrício Queiroz se posicionou desde cedo num trio elétrico na Avenida Atlântica, em Copacabana, para esperar a chegada do presidente Jair Bolsonaro para o apoio à sua reeleição. Um locutor gritava no microfone sobre o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, que já foi preso acusado de comandar o esquema da rachadinha no gabinete do então deputado na Assembleia Legislativa: “É o homem mais injustiçado do Brasil, porque ninguém encontrou nada contra ele”.

Nas últimas duas semanas, O GLOBO acompanhou nas ruas e nas redes a campanha de Queiroz, agora filiado ao PTB e em busca pela primeira vez de um mandato de deputado estadual. Assim como o locutor de Copacabana, o ex-assessor de Flávio também repete o argumento para quem o aborda sobre o tema.

— Nunca fiz rachadinha e isso já está provado e superado, tanto é que os processos foram anulados — garante Queiroz, a despeito de um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), revelar movimentação atípica de R$ 1,2 milhão em sua conta, ao longo dos anos de 2016 e 2017, além de inúmeros saques de valores semelhantes e repasses de outros oito assessores do gabinete para ele.

A estratégia de Queiroz para se eleger é a de colar a sua imagem à da família Bolsonaro — ainda que o presidente e seu filho Flávio procurem falar o mínimo possível sobre as acusações de rachadinha. Em uma agenda recente de uma hora e 40 minutos no Calçadão de Bangu, na Zona Oeste do Rio, ele vestia uma camisa com o mapa do Brasil e a mensagem “Verás que um filho teu não foge à luta” estampada no peito. Distribuindo santinhos em que aparece com uma foto ao lado de Bolsonaro e a frase “Lealdade de verdade”, Queiroz diz que quer levar adiante os debates.

— Todas as bandeiras da minha campanha são as do nosso presidente.

Por eu ser PM, vou lutar pela valorização da classe, em pautas como a paridade de remuneração entre ativos e inativos — promete o ex-assessor de Flávio, hoje com 56 anos.

Como conta em vídeos publicados nas redes, em 1985 o soldado Queiroz conheceu o então tenente Jair Bolsonaro na Brigada Paraquedista, na Vila Militar do Exército. Desde então, chegaram a viajar juntos e tornaram-se amigos.

— É o Queiroz do Bolsonaro! Tira uma foto comigo? Minha família toda gosta de você. Estou tremendo de emoção — disse uma estudante de 28 anos que passava pelos camelôs do Calçadão de Bangu.

No entanto, a empolgação do eleitorado nas ruas não se refletiu, até o momento, nas contas da candidatura. De acordo com o site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Queiroz só recebeu uma doação de mil reais — feita pelo próprio candidato. A estrutura da campanha também é modesta, com apenas um funcionário contratado com recursos do fundo partidário, que também arcaram com os gastos de material de divulgação.

No Instagram, onde é seguido por 2.396 pessoas, Queiroz relata ser natural de Belo Horizonte (MG) mas “carioca de coração”. “31 anos de PMERJ — subtenente — paraquedista — cristão conservador”, diz a biografia de seu perfil. Na página, coleciona centenas de fotos e vídeos em que mostra os compromissos da campanha. As imagens mostram a chamada “#TropadoQueiroz”, como ele chama seus apoiadores.

Em algumas das publicações, exibe mensagens de incentivo a Jair Bolsonaro: “Bom debate, presidente. Estarei te acompanhando pela TV. Não caia na pilha desses vagabundos e, já que a mídia não divulga os feitos do governo, aproveite o tempo para isso”, escreveu no último domingo. “Esse é meu presidente. Está dando uma aula no debate. Que Deus o abençoe. Será no primeiro turno”, publicou horas depois.

Entre as postagens, há também menções a Flávio Bolsonaro, inclusive durante a campanha do deputado estadual ao Senado Federal, em 2018. Foi no gabinete do político na Alerj que Queiroz foi lotado como assessor e chegou a empregar outros quatro parentes por sua indicação: Márcia de Oliveira Aguiar (atual mulher), Evelyn Melo de Queiroz (filha), Evelyn Mayara Gerbatim (enteada) e Marcio Gerbatim (ex-marido de Márcia).

Em alguns dos vídeos compartilhados, o PM aparece respondendo “Tá aqui, tá aqui, tá aqui” a imagens antigas de adversários que repetiam “Cadê o Queiroz?” durante o período em que ele não fazia aparições públicas, antes de ser preso. Os memes divulgados com animações utilizam cenas do presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de Benedita da Silva (PT) e até Jandira Feghali (PCdoB), ambas candidatas a assentos no Congresso.

Durante as agendas da candidatura nos últimos dias, grande parte do tempo dele é dedicado a ida a lugares em Jacarepaguá, também na Zona Oeste, onde mora com a família. No início da semana, esteve na comunidade Asa Branca, em Curicica, na Vila Valqueire e também na Praça Seca. “Faça chuva ou faça sol, a #TropadoQueiroz está nas ruas, conversando com o eleitorado, falando um pouco da minha trajetória e mostrando que há alternativa”, postou.

Foi justamente nessa região que Fabrício Queiroz recebeu ataques de um homem que o xingou de “miliciano”, ao sair de um restaurante. Ele já tinha procurado a 32ª DP (Taquara) após um comentário semelhante ter sido feito pelo humorista Fábio Porchat durante uma entrevista. Na ocasião, afirmou ter sido vítima de injúria e ter tido sua honra atingida. Nos próximos dias, pretende voltar à distrital para fazer outro registro pelo mesmo crime, contra o ex-deputado Arthur do Val, o Mamãe Falei, que também o teria ofendido na internet.

— Esses ataques são coisas de esquerdistas. Nunca fui (miliciano), sempre trabalhei para defender a sociedade — afirmou o candidato ao lado do filho, o estudante Felipe Queiroz, de 21 anos, que está fazendo concurso para a PM e é o principal cabo eleitoral da campanha do pai.

O Globo