Reduto eleitoral de Bolsonaro é controlado por milícias

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Foto: Reprodução

Um mapeamento das áreas controladas por grupos armados no Rio de Janeiro, divulgado nesta terça-feira (13/9), mostra como as milícias conseguiram ampliar a área dominada, em curto espaço de tempo. Só na capital do estado, elas controlam 22,1% do território, em locais onde vivem um total de mais de 1,1 milhão de pessoas.

Isso permite dizer que, de cada 5 m² na “Cidade Maravilhosa”, pelo menos 1 m² está sob domínio de milicianos. Em 2020, quando foi divulgada e edição anterior do Mapa dos Grupos Armados, esse índice de controle territorial era de 17,7%. Há 16 anos, era de 2,3%.

A pesquisa feita pelo Instituto Fogo Cruzado, em parceria com o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos, da Universidade Federal Fluminense (Geni-UFF), deixa clara a velocidade com que grupos milicianos avançam na região metropolitana do Rio de Janeiro. Desde o início da série histórica, a área controlada por eles aumentou 387%, passando de 52,6 km² para 256,28 km².

Essa área atual já equivale a 10% de todo o território do Grande Rio. E assim segue numa tendência de aumento, nítida, principalmente, na capital, onde de cada quatro áreas controladas por criminosos, três estão sob domínio de milicianos.

“A pergunta que fica é: quem vai deter a expansão das milícias?”, questiona Maria Isabel Couto, diretora de programas do Instituto Fogo Cruzado.

Enquanto a milícia avançou, facções como Comando Vermelho (CV), Terceiro Comando Puro (TCP) e Amigos dos Amigos (ADA) estagnaram ou reduziram o poderio, do ponto de vista territorial. Até 2008, o CV comandava 43,1% de toda a área sob domínio de grupos armados na cidade do Rio de Janeiro. Hoje, após surgimento e expansão miliciana, esse índice é de 13,7%.

– Em toda a região metropolitana, mais de 4,4 milhões de pessoas vivem em áreas sob domínio de grupos armados;

– Desse total, mais de 1,7 milhão vive em áreas de milícia, sendo mais de 1,1 milhão só na cidade do Rio de Janeiro;

– Em níveis populacionais, o Comando Vermelho segue com o maior índice (2 milhões de pessoas), por dominar locais mais populosos, mas perde na questão territorial;

– 49,9% de toda a área dominada por grupos armados no estado do Rio de Janeiro está sob controle de milícias e 40,3% está com o CV.

O relatório da pesquisa enfatiza que a maior parte da expansão das milícias ocorreu por incorporação de áreas onde não havia controle territorial, até então, e não por meio da conquista de espaços controlados por outros grupos. Não se tratou, portanto, de uma ocupação de áreas do tráfico.

“Aquela falácia de que as milícias eram um grupo de enfrentamento do tráfico de drogas não se sustenta”, afirma Daniel Hirata, coodenador do Geni.

Esse aspecto evidencia a estratégia dos grupos milicianos de avançar, preferencialmente, em regiões novas, ou seja, de expandir em locais que seguem sem domínio. Não à toa, o aumento da área comandada por criminosos na região metropolitana do Rio se deve, em muito, a esse avanço das milícias.

No Grande Rio, a área dominada por grupos armados aumentou de 222,27 km² para 513,86 km², em 16 anos. Só na capital, onde prevalece a hegemonia miliciana, especialmente na Zona Oeste, conhecida como reduto e “berço” desses grupos, foi de 69,05 km² para 203,28 km².

“As mílicias são um motor do controle territorial armado no Rio de Janeiro. Elas submetem a população de muitas maneiras: ela domina a venda do gás de cozinha, a segurança do bairro, controla a cobrança de aluguel de casas, é responsável pela circulação de vans, detém comércios e chegam a controlar ações que seriam responsabilidade do poder público”, aponta Hirata.

O aumento do domínio territorial está diretamente ligado ao projeto de ampliação das possibilidades de negócio. Como um poder paralelo, à medida em que se controla mais espaços, amplia-se o que Hirata chama de cartela compulsória de clientes. “Hoje a mílícia atua fortemente no setor de construção civil, grilando terras, drenando, roubando areia e construindo empreendimentos imobiliários”, diz ele.

Maria Isabel Couto destaca que mílicia deveria ser tema central para a segurança pública do estado, mas que, mesmo assim, a maioria das operações policiais não ocorrem em áreas comandadas por milicianos. O foco da política de segurança, na visão dela, continua voltado para a alta letalidade como indicador de eficiência. “Basta lembrar que este ano tivemos duas chacinas durante operações policiais com mais de 20 mortos”, cita.

“É preciso que o combate aos grupos armados seja pauta principal nos planos de gestores públicos com ações planejadas, articulando inteligência e asfixiando os ganhos econômicos desses grupos. Elas (milícias) já estão presentes na vida da população e temos um grande fluxo econômico na mão dos grupos armados. Isso contrasta com um passado recente, em que esse fluxo financeiro era oriundo principalmente do tráfico de drogas”, diz Couto.

Metrópoles