Sobe apoio à democracia no país

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Foto: Victória Cócolo

Nova edição da pesquisa “A Cara da Democracia” revela que, apesar de ainda alto, o nível de insatisfação dos brasileiros com o regime democrático caiu ao menor nível desde 2018 — quando a série de levantamentos com fins acadêmicos começou a ser feita. Os resultados, colhidos a partir de 1.535 entrevistas com perguntas presenciais feitas nas casas das pessoas, mostram que os níveis de satisfação também são os maiores já registrados.

Ao todo, 38% dos eleitores estão ou satisfeitos ou muito satisfeitos com a democracia. Do outro lado, 56% se dizem insatisfeitos ou muito insatisfeitos. A diferença ainda é substancial, mas, em 2018, eram somente 19% no primeiro grupo e 79% no segundo. A pesquisa foi conduzida pelo Instituto da Democracia (IDDC-INCT).

Em quatro anos, houve altos e baixos nos níveis de contentamento dos eleitores com a democracia. O primeiro ano do governo do presidente e candidato à reeleição pelo PL, Jair Bolsonaro, registrou um pico nos índices de satisfação, com 33%. A insatisfação, por outro lado, ficou nos mesmos níveis entre 2018 e junho de 2022, acima de 50%.

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Em outras palavras, entre julho e setembro deste ano houve a mudança mais relevante: pela primeira vez, menos da metade dos brasileiros (44%) se disseram insatisfeitos com a democracia.

Professor titular de ciência política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Leonardo Avritzer explica as variáveis que interferem na percepção sobre a democracia:

— De um lado, brasileiros estão satisfeitos com a democracia porque sabem que ela está em risco. As pessoas entendem que esse regime foi capaz de garantir alguns benefícios, como por exemplo o aumento do Auxílio Brasil feito pelo Congresso. Ou mesmo a vacinação liberada pelo próprio Supremo Tribunal Federal. Nesse sentido, os brasileiros voltam a perceber que a democracia é importante para a vida deles. É isso que explica a satisfação com o regime democrático.

Como sempre fazem, os pesquisadores da UFMG, Unicamp, UnB e Uerj que desenharam o estudo previram perguntas sobre as circunstâncias que justificariam um golpe de estado. Se houver um cenário nacional de instabilidade política, 23% dos eleitores apoiariam uma ditadura militar. Esse número atingiu seu ápice em 2021, com apoio de 37%. Também era alto em 2018, quando 33% aceitavam essa possibilidade.

A baixa histórica do apoio a um golpe convive com um resultado alto do outro lado que não admite a tomada do poder por militares em caso de instabilidade política: essas pessoas somam 66%, nível acima do registrado em 2018, 2021 e 2022, só perdendo para 2019, quando 69% eram contra a suspensão da democracia pelas Forças Armadas.

— O tema de um possível golpe está mais presente entre os eleitores, dada as afirmações de Bolsonaro durante a campanha. Isso faz com que as pessoas reflitam mais sobre esse cenário. Além disso, pesquisas durante processos eleitorais tendem a elevar a adesão à democracia — analisa Oswaldo Amaral, diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública da Unicamp.

Feita pelo Instituto da Democracia (IDDC-INCT), a pesquisa entrevistou presencialmente 1.535 eleitores em 101 cidades de todas as regiões do país entre os dias 9 e 14 de setembro e foi contratada pelo CNPq e Fapemig. A margem de erro total é de 2,5 pontos percentuais para mais ou menos com índice de confiança de 95%.

O Globo