Amoedo é acusado de “petista” pelo seu partido
Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo
O ex-presidente do Partido Novo e presidenciável em 2018, João Amoêdo, usou o Twitter para criticar o candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL). Em mensagem publicada neste domingo, um dos fundadores da sigla liberal comparou a proposta dos apoiadores do governo de ampliar o número de integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) com a realidade política da Venezuela, país que vive um regime implementado por Hugo Chávez e mantido pelo seu sucessor, o presidente Nicolás Maduro. A crítica não foi bem recebida pelos colegas de partido. O deputado federal Marcel van Hattem (Novo-RS) reagiu à mensagem e ironizou o posicionamento: “Vai votar no PT?”.
“A proposta, de aliados do governo, de aumentar o número de ministros do STF é um risco grave para a independência dos Poderes. Bolsonaro, se reeleito, indicaria a maioria da Corte. Este foi um dos passos de Hugo Chávez para transformar a Venezuela em uma autocracia”, escreveu Amoêdo.
Você não fez UMA menção de apoio ao @fdavilaoficial do nosso @partidonovo30 no 1º turno, só o criticou. Critica muito Bolsonaro mas faz um mês que não fala do Lula. Além de ajudar o ex-presidiário na campanha, vai votar no PT? Você adora cobrar posição dos outros: e a sua agora?
— Marcel van Hattem (@marcelvanhattem) October 9, 2022
Em resposta, van Hattem questionou se Amoêdo votará no ex-presidente Lula (PT), adversário de Bolsonaro no segundo turno, que ocorre em 30 de outubro.
“Você não fez uma menção de apoio ao Felipe D’Ávila do nosso Partido Novo, só o criticou”, iniciou o parlamentar. D’Ávila teve 0,47% dos votos válidos no primeiro turno e foi o sexto colocado na disputa ao Palácio do Planalto.
“Critica muito Bolsonaro mas faz um mês que não fala do Lula. Além de ajudar o ex-presidiário na campanha, vai votar no PT? Você adora cobrar posição dos outros: e a sua agora?”, indagou van Rattem.
O post de Amoêdo foi interpretado pela oposição do atual governo como um possível aceno de apoio a Lula. O deputado federal André Janones (Avante-MG) convidou o ex-presidente do Novo a fazer o “L”, em referência ao gesto utilizado pelos apoiadores do petista.
João, pelo bem da democracia e que pra que a gente possa continuar discordando e debatendo no futuro: faz o L e vem com a gente, por favor!
— André Janones (@AndreJanonesAdv) October 8, 2022
A troca de farpas entre os filiados do Novo reflete o momento de crise interna na sigla. No primeiro turno, o Novo elegeu apenas três deputados federais na Câmara, ante os oito representantes em 2018. O encolhimento fez com que o partido não atingisse a cláusula de barreira, ou seja, ter ao menos 2% dos votos em todo o Brasil. Isto significa que, nas próximas eleições, não entrará no rateio do fundo partidário, assim como não terá tempo de rádio e televisão.
O resultado nas urnas fez com que o vereador paulistano Fernando Holiday deixasse a sigla. Na última quinta-feira, o político que não conseguiu se eleger deputado federal anunciou a filiação ao Republicanos. Em seu perfil no Twitter, Holiday comemorou a chegada a um partido “alinhado com os ideais de direita que sempre defendemos”. Um dia antes, ele havia publicado críticas a Amoêdo que, conforme o post, “destruiu as bases da sigla”.
Em entrevista a um podcast neste domingo, Bolsonaro disse que pode descartar a proposta de alterar a composição do STF em um eventual segundo mandato, caso os atuais integrantes da Corte “baixem a temperatura”.
– Se eu for reeleito, e o Supremo baixar um pouco a temperatura, já temos duas pessoas garantidas lá [os ministros Kassio Nunes Marques e André Mendonça]. Tem mais gente que é simpática à gente, mas já temos duas pessoas garantidas lá, que são pessoas que não dão voto com sangue nos olhos. Tem mais duas vagas para o ano que vem, talvez se descarte essa sugestão. Se não for possível descartar, você vê como é que fica – afirmou Bolsonaro.
Durante seu segundo mandato, em 2003, Hugo Chávez aumentou de 20 para 32 o número de ministros na Assembleia Nacional da Venezuela como forma de aumentar sua influência no Judiciário. O modelo vigorou até abril deste ano, quando a base aliada de Maduro reduziu o número de magistrados para 20 novamente.