Bolsonaro aposta no debate da Globo
Foto: Nelson Almeida/AFP
Em desvantagem nas pesquisas eleitorais, a campanha do presidente Jair Bolsonaro vê o debate da TV Globo, na noite desta sexta-feira, como uma espécie de “Dia D” para tentar virar o jogo a dois dias das eleições.
O debate virou a grande – e provavelmente a última – oportunidade para o atual ocupante do Palácio do Planalto reverter uma semana de notícias ruins, marcada pela repercussão dos tiros de Roberto Jefferson em agentes da Polícia Federal e a tentativa frustrada de levantar suspeitas de fraude sobre inserções de rádio.
“O debate é mais importante pelo perigo de erros que de acertos”, diz um realista integrante do núcleo duro da campanha bolsonarista.
A maior preocupação, até aqui, é com a repercussão sobre a proposta de desindexar o reajuste do salário mínimo da inflação.
A “Folha de S. Paulo” revelou trechos da proposta que permite reajustar o salário mínimo benefícios previdenciários por um índice menor do que a inflação. Hoje, eles são corrigidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do ano anterior.
O tema se tornou um calcanhar de Aquiles para o presidente na reta final da campanha e deve ser a principal arma para a ofensiva de Lula sobre Bolsonaro.
O plano do petista é tentar manter a questão do salário mínimo no centro do debate nesta noite, uma vez que ele acredita ter vantagem sempre que se discute questões econômicas.
Segundo pesquisas internas do PT, o temor de não ter o salário reajustado pela inflação é um dos fatores que tem ajudado o ex-presidente a administrar a vantagem sobre o adversário, junto com a desastrosa fala de Bolsonaro no caso do “pintou um clima” com meninas venezuelanas.
Por causa da péssima repercussão do plano do governo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, gravou uma série de vídeos em que responde a dúvidas de cidadãos comuns.
Em um deles, de um minuto, um homem questiona se é verdade que o governo Bolsonaro vai “reduzir o salário mínimo”.
“É mentira! Estão querendo roubar votos. Roubar a esperança do trabalhador e dos aposentados brasileiros. Durante a pandemia, nós aumentamos o salário mínimo, as aposentadorias e benefícios. Agora que a pandemia foi embora, os aumentos vão ser acima da inflação. Não acredite em quem quer roubar o seu voto”, diz Guedes.
Para reagir à ofensiva, Bolsonaro vai concentrar suas baterias no tema que tem ajudado a aumentar a rejeição de Lula junto ao eleitorado, e em que ele já demonstrou que não responde bem – os escândalos de corrupção dos governos petistas.
Ele tem se preparado para esse assunto com a ajuda de Sergio Moro, ex-juiz da Lava Jato que condenou Lula.
Lula vem se preparando há três dias, fechado em um estúdio com a preparadora de elenco Olga Curado justamente para evitar os erros do debate da Band: administrar bem o tempo de fala e não deixar que Bolsonaro fale sozinho por longos minutos, como ocorreu no último confronto público entre os dois.
O ex-presidente até agora não conseguiu dar uma resposta convincente quando foi questionado sobre os escândalos de corrupção do mensalão e do petrolão que abalaram os governos do PT – aliados de Lula, no entanto, garantem que ele está treinando uma resposta mais incisiva e firme.
Assim como no confronto da Band, Lula e Bolsonaro vão poder circular livremente pelo palco – mas desta vez não poderão se tocar.