Brasil nunca elegeu tantos pastores
Foto: Montagem com fotos André Coelho/Agência O Globo e Reprodução/Facebook
A Câmara dos Deputados e as assembleias legislativas estaduais terão, a partir de 2023, um número recorde de parlamentares que usaram termos de identificação evangélica, como “pastor”, “bispo” e “missionário”, em disputas eleitorais. Levantamento do GLOBO com base em dados disponibilizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até segunda-feira aponta que ao menos 28 deputados federais, estaduais e distritais eleitos se apresentaram ao eleitorado com denominações evangélicas, sendo 16 como pastores.
Até então, os maiores índices de sucesso de candidatos pastores e de outras nomenclaturas evangélicas haviam aparecido nas eleições de 2002 e de 2014, com 27 eleitos em cada uma. Nas duas ocasiões, 16 candidatos se apresentaram como pastores.
Em agosto, O GLOBO mostrou que o número de candidaturas com identidade religiosa aumentou cerca de 25% neste ano, atingindo o maior patamar na série histórica desde 2002. O levantamento considerava candidatos que apresentaram alguma nomenclatura ou ocupação religiosa ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), incluindo aqueles ligados ao catolicismo e a religiões de matriz africana. O número de pastores candidatos neste ano, de 476, foi cerca de 20% superior ao registrado em 2018.
Para considerar o número de pastores e outros tipos de identidade evangélica entre os eleitos em 2022 (veja a lista ao fim da reportagem), O GLOBO considerou o uso dessa nomenclatura na atual eleição ou em disputas anteriores, mesmo critério adotado para todos os anos da série histórica. Em 2006, apenas nove candidatos com essa identificação foram eleitos para a Câmara e para as Assembleias Legislativas. O número de eleitos saltou para 18 em 2010, patamar semelhante ao da eleição de 2018, com 21 candidatos bem sucedidos.
Em meio a uma disputa presidencial marcada por seguidos acenos do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Lula (PT) ao eleitorado evangélico, parte dos candidatos mudaram a estratégia de disputas anteriores e passaram a adotar termos e expressões ligados ao meio evangélico que não apareciam até então. No Rio, por exemplo, os irmãos Marcos e Filipe Soares, eleitos deputado federal e estadual, respectivamente, ambos pelo União Brasil, incluíram as iniciais do pai, o líder evangélico Romildo Ribeiro Soares, fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus. Com isso, o sobrenome que levaram às urnas passou a ser “RR Soares”, forma pela qual o pai se popularizou entre fiéis.
O expediente de associar o nome do candidato à igreja é adotado também por parlamentares ligados à Assembleia de Deus Ministério de Madureira. Neste ano, além do deputado federal Cezinha de Madureira (PSD-SP), ex-presidente da bancada evangélica na Câmara, dois deputados estaduais ligados à igreja se elegeram à Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).
O número de evangélicos eleitos é ainda maior, já que também há parlamentares que, mesmo sem termos como “pastor” ou “bispo” junto ao nome, possuem o “carimbo” religioso em suas trajetórias.
Um desses casos é o do ex-prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, e que se elegeu deputado federal. A candidatura de Crivella teve suporte da Catedral de Del Castilho, principal templo e sede da Universal no Rio, onde santinhos do ex-prefeito foram distribuídos nas últimas semanas na entrada de cultos. Outro nome que teve apoio da Universal, e que tampouco usa nomenclaturas religiosas na urna, foi o deputado estadual e pastor licenciado Danniel Librelon (Republicanos), reeleito à Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).
Há ainda pelo menos uma centena de pastores e outros candidatos com identidade evangélica que figuram como suplentes de deputado federal, e podem ocupar cadeiras vagas no decorrer da próxima legislatura. A “lista de espera” inclui nomes como o pastor Junior Trovão (Republicanos), no Rio, e o cantor gospel e pastor Jairinho (União), de Pernambuco.
Deputados federais eleitos
Paulo Freire da Costa (PL-SP) (concorreu como “PR. Paulo Freire” em eleições anteriores)
Pastor Marco Feliciano (PL-SP)
Pastor Eurico (PL-PE)
Pastor Gil (PL-MA)
Pastor Sargento Isidório (Avante-BA)
Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ)
Marcos RR Soares (União-RJ) (usa o nome do pai, RR Soares, liderança evangélica)
Pastor Diniz (União-RR)
Gilberto Abramo (Republicanos-MG) (concorreu como “Bispo Gilberto” em eleições anteriores)
Cezinha de Madureira (PSD-SP) (nome de urna cita a Assembleia de Deus de Madureira)
Clarissa Tércio (PP-PE) (nome de urna faz referência ao marido, Pastor Junior Tércio)
Deputados estaduais eleitos
Adalto Santos (PP-PE) (concorreu como “Presbítero Adalto” em eleições anteriores)
Alex de Madureira (PSD-SP) (nome de urna cita a Assembleia de Deus de Madureira)
Apóstolo Luiz Henrique (Republicanos-CE)
Bispo Alves (Republicanos-ES)
Cantora Mara Lima (Republicanos-PR)
Carlos Cezar (PL-SP) (concorreu como “PR. Carlos Cezar” em eleições anteriores)
Carlos Henrique (Republicanos-MG) (concorreu como “Pastor Carlos Henrique” em eleições anteriores)
José de Arimateia (Republicanos-BA) (concorreu como “Pastor José de Arimateia” em eleições anteriores)
Oseias de Madureira (PSD-PS) (nome de urna cita a Assembleia de Deus de Madureira)
Pastor Cleiton Collins (PP-PE)
Pastor Daniel de Castro (PP-DF)
Pastor Junior Tércio (PP-PE)
Pastor Oliveira (Republicanos-AP)
Pr. Alcides Fernandes (PL–CE)
Ricardo Arruda (PL-PR) (concorreu como “Missionário Ricardo Arruda” em eleições anteriores)
Sérgio Peres (Republicanos -RS) (apresentou-se como “PR. Sergio Peres” em eleições anteriores)
Filipe RR Soares (União-RJ) (usa o nome do pai, RR Soares, liderança evangélica)