Campanha de Bolsonaro critica farsa das inserções

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Foto: Evaristo Sá/AFP

As denúncias de sumiço de inserções de rádio feitas pelo ministro das Comunicações Fabio Faria e por Fábio Wajngarten, assessor de Bolsonaro, desencadearam acusações internas de amadorismo e atropelo entre aliados do presidente e expuseram um racha que até a semana passada estava contido, mas voltou a se manifestar neste momento de crise.

Ao longo da tarde da terça, enquanto esperavam os dois apresentarem ao TSE os documentos demonstrando no que haviam baseado as denúncias, membros da equipe de campanha e do entorno político de Bolsonaro atacavam os “dois Fábios” nos bastidores. Em conversas reservadas, diziam não acreditar que a denúncia fosse ter alguma consequência e os chamavam de “amadores” e até de “aloprados”.

As críticas se somavam à insatisfação com a reação de Bolsonaro aos ataques de Roberto Jefferson à ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, e depois aos ataques aos policiais federais que foram prendê-lo.

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Segundo uma ala da campanha, mais ligada ao núcleo político, o presidente não deveria, por exemplo, ter enviado o ministro da Justiça, Anderson Torres, para Juiz de Fora (MG) para acompanhar a solução do impasse. “Passou a impressão de que ele estava indo resolver o problema do Roberto Jefferson, não cuidar dos policiais feridos”.

Para esse grupo, depois de ter atravessado uma boa fase após o debate da Band, a campanha bolsonarista cometeu vários erros nos últimos dias – diferentemente do adversário, Lula, culminando com as últimas denúncias apresentadas ao TSE.

O amadorismo da denúncia viria da forma e do momento escolhido para a entrevista. Além de falar de noite, na frente do Palácio da Alvorada e não em uma sala, com antecedência suficiente para que os telejornais tivessem tempo de fazer reportagens, os dois teriam passado a impressão de improviso e de atropelo.

A cena teria denotado ainda uma atitude de desespero e de medo da derrota, no dia seguinte ao ataque de Roberto Jefferson aos policiais federais.

Na entrevista, os dois apresentaram apenas uma petição de sete páginas que não trazia prova concreta de supressão das inserções que alegadamente deixaram de ser exibidas em rádios do Nordeste neste primeiro turno.

A atitude deu margem a uma resposta pouco sutil de Alexandre de Moraes, que deu ao time jurídico de Bolsonaro 24 horas para entregar as provas da denúncia

“Tal fato é extremamente grave, pois a coligação requerente aponta suposta fraude eleitoral sem base documental alguma, o que, em tese, poderá caracterizar crime eleitoral dos autores, se constatada a motivação de tumultuar o pleito eleitoral em sua última semana”, escreveu Moraes, que determinou a entrega em até 24 horas de “provas e/ou documentos sérios que comprovem sua alegação” sob pena de indeferimento e instauração de inquérito contra os autores.

Na noite de ontem, o jurídico da campanha de Bolsonaro apresentou ao TSE uma petição de 11 páginas e uma grande quantidade de arquivos de áudio referentes a apenas oito emissoras que provariam a falta das inserções nas rádios do Norte e Nordeste.

Ainda será preciso conferir para ver se as inserções de fato não foram exibidas. Dentro da campanha, porém, já se questiona: se havia uma discrepância tão grande na distribuição das inserções, por que ninguém percebeu isso antes, e sim a apenas cinco dias do segundo turno?

Fizemos essa pergunta ao ministro Fábio Faria. Ele respondeu que o acompanhamento até agora era feito apenas para efeito de monitorar o que poderia dar margem a direitos de resposta. Segundo Faria, a empresa Audiency, de Santa Catarina, só foi contratada depois que a campanha começou a receber denúncias de que as inserções não estavam sendo exibidas.

Agora, porém, ninguém tem certeza nem sobre quanto tempo leva para conferir todos os áudios que comprovariam a falta das inserções e nem ao menos se haverá condições de repor o tempo supostamente perdido.

Por isso, mesmo depois de os Fábios terem entregue o material ao TSE, a expressão mais ouvida entre os políticos do Centrão ligados a Bolsonaro era o famigerado “ vai dar em nada”.

Esse “dar em nada”, porém, é relativo. Se por um lado o episódio já rendeu um mal estar com o TSE, expresso pelas palavras de Moraes, nos grupos de WhatsApp bolsonaristas pipocam vídeos sobre a suposta fraude e mensagens a respeito de uma tal “máfia das rádios” montada com apoio do PT, além de apelos infundados pelo adiamento do segundo turno.

Caso não se comprovem as denúncias, porém, o clima que já está ruim na campanha bolsonarista pode ficar ainda pior.

O Globo