Ciro é esmigalhado na eleição
Foto: Patrícia Cruz/Divulgação
Os dois candidatos derrotados na noite de domingo, Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT), tiveram juntos pouco mais de 7% dos votos na eleição – abaixo do que previam os principais institutos de pesquisas. Simone terminou com pouco mais de 4% dos votos, o desempenho mais baixo de um terceiro colocado desde a redemocratização, em 1989.
Simone votou em Campo Grande (MS) e acompanhou a apuração em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Ciro passou o dia em Fortaleza. Nenhum dos dois anunciou domingo apoio a ninguém no segundo turno, mas ambos não descartaram a possibilidade. Em discurso, Simone afirmou que pretende esperar para declarar apoio a algum candidato no segundo turno. Primeiro, ela prefere aguardar as manifestações dos presidentes dos partidos de sua aliança – MDB, PSDB, Cidadania e Podemos – para anunciar uma posição.
“Eu espero que o façam rapidamente, para que depois eu possa, como candidata à Presidência que fui, neste momento tão complexo, onde nós temos, sim, de analisar os resultados das urnas, para que eu possa me posicionar”, disse. “Não vamos falar agora. A gente vai se pronunciar no tempo certo. ”Simone, no entanto, sugeriu que sua decisão já está tomada – a despeito da posição da aliança. “Só não esperem de mim – eu que tenho uma trajetória de vida de luta pelo País, que tanto precisa de nós – omissão. Tomem logo a decisão, porque a minha está tomada”.
Em postagem no Twitter, o PSDB, que indicou a senadora Mara Gabrilli como a vice na chapa de Simone, parabenizou as duas pela campanha “propositiva” e indicou que se reunirá nesta terça-feira para decidir que posição adotará no segundo turno. Simone fez uma campanha crítica, mas não fechou as portas para um acordo com Lula. Há relatos de conversas de aliados com representantes da campanha petista. Na reta final da campanha, alguns falaram de obter apoio em troca de algum ministério. No domingo, ela negou ter sido contatada pelo PT para negociar apoio. Parte dos representantes do MDB, no entanto, especialmente a ala do Nordeste, já se coloca como eventual aliada de Lula.
No domino à noite, Ciro também comentou brevemente os resultados e pediu mais algumas horas para consultar aliados antes de decidir os próximos passos. “Estou profundamente preocupado com o que estou assistindo no Brasil. Nunca vi situação tão complexa, desafiadora e ameaçadora sobre nós como nação. Peço mais algumas horas para que me deixem conversar com meus amigos, com meu partido, para que a gente possa achar o melhor caminho”, disse.
Obrigada, Brasil https://t.co/rad1wGleSB
— Simone Tebet (@simonetebetbr) October 3, 2022
Simone e Ciro tiveram trajetórias opostas. Durante a campanha, a senadora cresceu nos debates, mas não conseguiu romper a polarização entre os dois favoritos, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Sua posição centrista, no entanto, coloca Simone como chave para o segundo turno. Já Ciro saiu da eleição menor do que entrou. Em sua quarta tentativa de chegar ao Palácio do Planalto, ele radicalizou o discurso, perdeu prestígio e apoios dentro de seu próprio partido e no Estado em que tem sua base, o Ceará, onde brigou até com sua família.
Como consequência, amargou uma votação bem inferior à de quatro anos atrás na eleição que, segundo ele, marca sua despedida da política – ele teve pouco mais de 12% dos votos em 2018, se colocando em terceiro lugar, atrás de Fernando Haddad e Jair Bolsonaro. Na época, após o resultado, Ciro também garantiu que seria sua última candidatura.
O candidato pelo Novo, Felipe D’Avila, que obteve menos de 0,5% dos votos, avaliou que o resultado das urnas indica o derretimento do centro político no Brasil. Para ele, o voto útil migrou para os extremos. “O centro, que poderia surgir como uma alternativa ou uma força moderadora, não vai ocorrer”, afirmou. De acordo com D’Avila, o momento é de “reconstrução”.
“O Novo, como os demais partidos do centro, sofreram nesta eleição. Isso significa que vamos ter de trabalhar para fazer oposição ao populismo”, afirmou. Ele e o Novo, segundo o candidato, não apoiarão ninguém no segundo turno. D’Avila disse no domingo que pretende anular seu voto.