Desesperado, Bolsonaro implora votos no Nordeste

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Foto: Reprodução/TV Sudoeste

Em viagem à Bahia, o presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu votos ontem para ACM Neto (União) no segundo turno estadual, mas o ex-prefeito de Salvador fugiu de um encontro com ele e se mantém neutro na disputa presidencial. A esnobada ilustra as dificuldades de Bolsonaro no Nordeste, onde não tem um palanque sequer nos cinco estados que têm segundo turno estadual e Lula (PT) tem ampla vantagem.

Enquanto Bolsonaro visitava ontem Guanambi, no sudoeste baiano, ACM preferiu ficar no norte, a mais de mil quilômetros de distância. Segundo sua assessoria, não se encontrará com o presidente e ficará isolado hoje preparando-se para enfrentar o candidato do PT ao governo da Bahia, Jerônimo Rodrigues, no debate da Globo, nesta quinta-feira. Ainda assim, Bolsonaro defendeu a eleição de ACM Neto como “necessário derrotar o petismo”.

— Aqui na Bahia, nós temos posição: o lado oposto ao PT. Por isso peço aos meus amigos da Bahia para que votem em ACM Neto — disse Bolsonaro em Guanambi ao lado do ex-ministro João Roma, que foi derrotado no primeiro turno estadual com 9% dos votos.

ACM Neto não comentou o apoio. Em entrevista ao GLOBO no início do mês, afirmou que não teria lado na disputa presidencial, focando nos problemas estaduais. A postura contrasta com a do rival petista. Jerônimo usou a dobradinha com Lula — que teve quase 70% dos votos válidos da Bahia no primeiro turno — para desafiar o favoritismo inicial de ACM. O ex-prefeito começou a campanha liderando as pesquisas e terminou o primeiro turno em segundo lugar. Na última sexta, pesquisa do Ipec mostrou empate técnico, com Jerônimo numericamente à frente, com 48% das intenções de voto. ACM tinha 44%. Jerônimo tem o apoio até do PSC, que está com Bolsonaro na disputa nacional, e vem conquistado nomes de centro.

Em entrevista a uma rádio de Barreiras, no noroeste da Bahia, Bolsonaro condicionou obras num eventual segundo mandato à sua votação:

— Pretendemos fazer obras, sim, nesses municípios onde formos melhor votados.

Além da Bahia, faltam palanques a Bolsonaro em Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Sergipe. Candidatos a governador evitam confrontar a popularidade de Lula no Nordeste. Os que não o apoiam ficaram neutros. Bolsonaro também tem dificuldades nos estados que elegeram governadores no primeiro tuno, todos engajados na campanha do petista: Ceará, Rio Grande do Norte, Maranhão e Piauí.

Para compensar a desvantagem, Bolsonaro busca outras formas de virar votos na região. No horário eleitoral de TV e rádio e no primeiro debate do segundo turno, na Band, fez acenos aos “meus irmãos nordestinos”, mencionando o alcance do Auxílio Brasil na região e a conclusão de obras da transposição do São Francisco.

A campanha de reeleição escalou a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, para um giro por estados nordestinos. Ela passou por Ceará, Piauí e Bahia, liderando uma comitiva integrada por senadoras eleitas como a ex-ministra Damares Alves (Republicanos-DF). Elas fizeram atos em igrejas evangélicas com lideranças locais. Os deputados Otoni de Paula (MDB-RJ) e Marco Feliciano (PL-SP) e o senador eleito Magno Malta (PL-ES) também rodam templos nordestinos reforçando pautas de costumes. Anteontem, Malta cortou o rosto em Vitória da Conquista (BA) num acidente com o box do hotel e foi aconselhado por médicos a interromper a viagem.

Em Pernambuco, Marília Arraes (Solidariedade) aprofunda a ligação com Lula para tentar ultrapassar Raquel Lyra (PSDB), que lidera as pesquisas no segundo turno da disputa estadual e não quer saber de aproximação com Bolsonaro.

Em Alagoas, apesar de ter sido alvo da Polícia Federal e ficado afastado do cargo sob suspeita de corrupção, o governador Paulo Dantas (MDB) também faz uma campanha de reeleição casada com a de Lula, que defendeu a presunção de inocência dele antes de as acusações serem provadas.

Em Sergipe, o candidato bolsonarista ao governo Valmir Francisquinho (PL) foi o mais votado, mas teve a candidatura anulada pela Justiça Eleitoral. Ele acabou apoiando o candidato do PT na disputa local, Rogério Carvalho, contra Fábio Mitidieri (PSD), que permanece isento, embolando o jogo para Bolsonaro no estado.

Situação mais curiosa é a da Paraíba, onde Lula fez campanha com o Veneziano Vital (MDB) na primeira etapa e declarou apoio à reeleição de João Azevêdo (PSB) na segunda. Veneziano preferiu apoiar Pedro Cunha Lima (PSDB), que também se declarou neutro e deixou Bolsonaro sem palanque local.

O Globo