Eleger Lula melhora imagem do Brasil
Foto: Jacques Witt/AFP
A imagem do Brasil melhorará automaticamente ao redor do mundo com a derrota de Jair Bolsonaro, assim como ocorreu com os EUA depois de Donald Trump perder para Joe Biden e de Barack Obama suceder George W. Bush na Casa Branca. Os dois republicanos eram extremamente impopulares nos outros países. A mudança foi um alívio internacional. A chegada de Lula deve causar a mesma sensação positiva independentemente de decepções no futuro.
O atual presidente e candidato derrotado nas eleições de ontem é visto em grande parte do mundo ocidental como um pária por suas posições na pandemia e em questões ambientais. Na África, na América Latina e na Ásia, tampouco desfruta de simpatia. Viktor Orbán, autocrata da Hungria, e o esquartejador e ditador da Arábia Saudita, Mohammad bin Salman, são dos raros que demonstram alguma proximidade com o líder brasileiro, que deixará o Planalto no final do ano.
Lula, por sua vez, não é uma novidade para a comunidade internacional. Governou o Brasil por oito anos e se destacou como uma liderança proeminente no contexto global, sendo admirado na África, na Ásia, no Oriente Médio no Ocidente e, especialmente, na América Latina. Mantinha boas relações com Bush, nos EUA, ao mesmo tempo que ajudou a desenvolver o Brics com Vladimir Putin e líderes de China, Índia e África do Sul. Seu retorno agradará governantes nas principais capitais do mundo, inclusive em Washington, onde o atual governo Biden não vê com muita simpatia Bolsonaro por ter sido um dos últimos líderes do mundo democrático a reconhecer a derrota de Trump.
Um dos principais pontos a favor de Lula será a mudança no discurso e nas políticas relacionadas ao meio ambiente. Tende a ficar mais em sintonia com governos ocidentais e mesmo de outras regiões do mundo.
O agronegócio deve ainda pautar a política externa brasileira. Lula precisará adotar uma postura pragmática para manter e ampliar os mercados para os produtos brasileiros.
Ainda na questão da China, Lula enfrentará um cenário distinto. O Brics na prática perdeu força como bloco. Pequim se mantém como a segunda potência econômica do planeta, mas hoje é governada por um cada vez mais autocrático Xi Jinping. O país também segue relativamente fechado com a política de Covid zero. A Rússia, naturalmente, está cada vez mais isolada pela sua invasão da Ucrânia. Bolsonaro negociou a manutenção do fornecimento de fertilizantes, e seu governo sequer condenou Moscou pela anexação ilegal de partes do território ucraniano. Lula tende a seguir na linha de Bolsonaro, evitando choques com Putin e mantendo uma neutralidade.
Na América Latina, Lula volta ao poder em meio a uma onda de vitórias da esquerda democrática. Certamente, suas relações serão boas com Gustavo Petro, na Colômbia, e Gabriel Boric, no Chile. Tende a retomar as relações com a Venezuela e será criticado por isso. Precisará calibrar essa medida com condenações às violações aos direitos humanos não apenas na ditadura em Caracas, mas também em Cuba e na Nicarágua.