Extrema-direita elegerá senadora pelo DF

Destaque, Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Wilson Mendes/Segov-BR

Os resultados da última pesquisa Ipec sobre a disputa por uma vaga para o Senado pelo Distrito Federal, apontando que as ex-ministras de Bolsonaro Damares Alves e Flávia Arruda estão em empate técnico, colocou a esquerda brasiliense diante de “uma escolha muito difícil”.

Ao constatar que Damares cresceu sete pontos percentuais na pesquisa Ipec entre os dias 21 e 28 de setembro, alcançando os mesmos 28% de Flávia, apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passaram a defender o voto útil em Flávia.

Acontece que o PT tem uma candidata ao Senado na capital federal, a professora Rosilene Corrêa, que aparece em terceiro com 12% das intenções de voto.

Por isso, o movimento pelo voto útil colocou a esquerda em polvorosa e os dirigentes petistas em alerta – a ponto de a ex-presidente Dilma Rousseff divulgar um vídeo na noite desta sexta-feira dizendo que “O debate do voto útil não inclui, não pode nem deve incluir candidatas ou candidatos bolsonaristas. Porque aí o voto seria inútil”.

A vice-presidente do PT, a deputada distrital Arlete Sampaio, tem procurado convencer os militantes de que não vale a pena o voto útil, por duas razões. A primeira é ideológica, já que Flávia é bolsonarista. “Sou contrária a essa tese de voto útil em bolsonarista. Se fosse progressista, até cogitaria”.

A segunda razão é bem mais pragmática. O voto útil dos petistas pode ajudar a eleger uma adversária que pode sair fortalecida e se cacifar para disputar o governo em 2026. Flávia é mulher do ex-governador José Roberto Arruda, cassado em 2010, mas ainda muito forte politicamente no DF.

Arruda não esconde que pretende voltar ao poder. Neste ano, ele se candidatou a deputado federal também pelo PL de Bolsonaro, mas foi considerado inelegível pelo TSE na última quinta-feira.

“Damares tem menos inserção política na cidade e é extremada (o que dificulta repetir esse desempenho com Bolsonaro fora do governo). Para a esquerda local, Flávia é bem mais perigosa”, explica um analista político que acompanha de perto a briga.

Como diz uma das máximas da política, porém, o voto é do eleitor e não dos candidatos. Por isso, a mobilização dos dirigentes petistas ainda não foi capaz de demover os militantes e simpatizantes de apelar ao voto útil para não ter Damares no Senado em 2023.

“Vamos todos votar na Flávia Arruda ou vamos deixar a Damares (Bozo de saia) se eleger? A candidata do PT não tem a menor chance”, escreveu um participante do grupo de WhatsApp “Amigos do Lula”, um dos muitos fóruns de discussão da esquerda no DF. “Vamos votar contra essa bruxa”, concordou outro.

Na campanha, Damares tem adotado o discurso “pró-família” e contrário ao aborto e o que chama de “ideologia de gênero”.

Também recebeu o apoio da Frente Integralista Brasileira, cuja doutrina fundada nos anos 30 é inspirada no regime fascista italiano de Benito Mussolini, e declarou ao jornal O Tempo no último domingo que compartilha bandeiras com o integralismo.

Mas o apoio mais importante para Damares foi o de Michelle Bolsonaro, que tem apresentado a ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos como a única candidata do clã Bolsonaro.

A candidatura de Damares tirou muitos votos de Flávia, que foi ministra da Secretaria de Governo de Bolsonaro e contava com uma eleição tranquila para disputar o Palácio do Buriti em 2026.

Para ela, o voto útil da esquerda pode ser fundamental, mas o ideal é que ocorra de forma discreta para não espantar os eleitores bolsonaristas que ainda seguem com ela.

Interlocutores de Flávia, que é deputada federal do Centrão, admitem que, numa eventual vitória de Lula, a ex-ministra de Bolsonaro poderia até mesmo compor com o petista.

Já Bolsonaro conta com Damares como sendo uma incansável defensora de seu legado no Parlamento, uma bolsonarista raiz que se converteria em uma liderança da extrema-direita no Congresso.

A ex-ministra tem reforçado no horário eleitoral a bandeira anticorrupção e a defesa da pauta de costumes, mas a artilharia mais pesada tem sido colocada em vídeos que circulam nas redes e grupos bolsonaristas no WhatsApp.

Um vídeo apócrifo contra a honra de Flávia diz que a deputada “se apresenta levantando como principal bandeira o seio familiar, enquanto na verdade é o avesso do que prega”. Damares nega ter vinculação com o material, e também se queixa da disseminação de um vídeo em que uma fala sua sobre educação sexual de crianças aparece descontextualizada .

Na guerra dos vídeos, a candidata de Michelle Bolsonaro provocou a adversária, ao afirmar que “as raposas políticas do DF não param”. “Falam que eu não conheço Brasília. Conheço muito bem. Sei onde ficam as cidades satélites, o entorno. Sei onde fica o Setor Policial também”, disse Damares.

O alvo do comentário foi o ex-governador José Roberto Arruda, marido de Flávia, que ficou preso por dois meses na superintendência da PF em Brasília, localizada no Setor Policial.

Em outra ofensiva incentivada por Michelle, Damares fez campanha em Planaltina, cidade-satélite que é um dos principais redutos do casal Arruda. Bolsonaro foi incentivado a participar e não foi, mas já deixou claro nos bastidores sua anuência aos movimentos de Damares e da primeira-dama.

Após a divulgação do empate técnico pela pesquisa Ipec, a campanha de Flávia passou a divulgar na última quarta-feira (28) um vídeo com a mensagem de que “Brasília é de quem nasceu aqui”. O material não menciona o nome de Damares, mas o alvo é claro, já que a pastora evangélica é do Paraná – e, portanto, considerada uma forasteira pela adversária.

No vídeo, populares dizem que “Brasília não é barriga de aluguel eleitoral” e “Eu só voto em quem conhece esse lugar na palma da mão”.

Aliados de Damares apontam que no início da campanha, considerando o universo de eleitores bolsonaristas, 50% preferiam Flávia e apenas 10% ficavam com Damares. Agora, o cenário seria radicalmente diferente: 60% dos bolsonaristas escolhem Damares, ante 20% de Flávia. Sua campanha também estima que ela tenha o apoio de oito a cada dez evangélicos no DF, além de 40% do eleitorado masculino.

A campanha de Flávia adota um cálculo mais otimista, é claro: de que o eleitorado bolsonarista está dividido meio a meio entre as duas ex-ministras.

O Globo