FHC posta foto sua com Lula ao declarar apoio
Foto: Acervo Fernando Henrique Cardoso
O apoio público de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) une dois rivais históricos. Seus partidos, e eles próprios, travaram disputas acirradas em diferentes eleições a partir dos anos 1990. Mas pouca gente sabe que o sociólogo e o metalúrgico já estiveram do mesmo lado em uma corrida eleitoral, há mais de quatro décadas. Em 1978, quando era um líder sindical no ABC Paulista, Lula, então aos 33 anos de idade, fez campanha para eleger Fernando Henrique senador, participando de comícios e levando-o para panfletar na porta das fábricas.
Na época, o Brasil vivia sob a ditadura militar. Não havia eleições diretas para presidente ou governador, mas o povo podia participar da escolha de senadores. Os candidatos se dividiam em dois partidos: o Arena, que dava sustentação política ao governo dos generais, e o MDB, sigla de oposição ao regime. Em 1978, dez anos depois de retornar de seu exílio no Chile, Fernando Henrique, que já vinha atuando nos bastidores em campanhas do MDB, lançou-se candidato pelo MDB de São Paulo e contou com a influência de Lula para pedir votos aos operários do ABC.
“Em 78, primeiro ano das greves do ABC, o MDB estava lançando sua chapa de senadores. Algumas pessoas, alguns jornalistas cujos nomes não vou dizer, queriam que a gente apoiasse Cláudio Lembo, da Arena. Fui apresentado a Fernando Henrique Cardoso. Aí fomos para a campanha. Fui representar Fernando Henrique Cardoso em vários comícios”, contou o petista ao jornalista Jorge Bastos Moreno, durante uma entrevista publicada pelo GLOBO em 2010.
Lula já vinha liderando mobilizações de metalúrgicos por melhores condições de trabalho. O movimento culminaria com paralisações e manifestações envolvendo dezenas de milhares de operários nos anos seguintes. O jovem sindicalista ainda não pensava em disputar uma eleição, mas entrou de cabeça na campanha de Fernando Henrique. Havia uma grande euforia na oposição em torno da candidatura do intelectual. O compositor Chico Buarque fizera até um jungle: “A gente não quer mais cacique/ A gente não quer mais feitor/ a gente agora está no pique/ Fernando Henrique senador”.
No Dia do Trabalhador de 2012, a página do Instituto FHC no Facebook compartilhou uma foto daquela campanha. A imagem mostra o tucano e o petista distribuindo panfletos para funcionários de uma montadora de carros em São Bernardo do Campo, berço político de Lula. O metalúrigico levava o então amigo a esses locais para apresentar o candidato a um público que ainda não o conhecia.
FH conseguiu votação suficiente para se tornar suplente do senador Franco Montoro (MDB). Quatro anos depois, quando Montoro foi eleito governador de São Paulo, o sociólogo assumiu a cadeira no Congresso. Em 1988, os dois estavam entre os principais fundadores do PSDB, partido pelo qual o sociólogo seria eleito presidente da República, em 1994, e reeleito para o cargo, em 1998. Em ambas as disputas, ele derrotou o ex-líder sindical que fizera campanha para ele na Grande São Paulo.
Lula, por sua vez, fundou o PT em 1980 e foi eleito deputado federal em 1986. Durante seu mandato, ele participou da elaboração da Constituição Federal, juntamente com FH. Em 2002, após três derrotas em campanhas para a Presidência, o petista foi finalmente eleito em 2002, quando derrotou José Serra (PSDB), e reeleito em 2006, vencendo o então também tucano Geraldo Alckmin. Hoje no PSB, Alckmin é vice na chapa de Lula para a Presidência, enquanto Serra declarou voto no petista.
Lula e FH se confrontaram em acalorados debates e trocaram críticas ácidas por meio da imprensa. Havia muitas divergências entre seus projetos de Brasil. Mas eles mantiveram a cordialidade. Em 2008, por exemplo, o petista esteve no velório da antropóloga Ruth Cardoso, mulher de Fernando Henrique. Quatro anos depois, o sociólogo visitou o ex-líder sindical no hospital, quando ele se curava de um câncer. E, em 2017, voltou a procurá-lo quando morreu Dona Marisa, mulher de Lula.