Filho 1 admite eleição limpa, mas recua
Foto: Cristiano Mariz/O Globo
Com a missão de coordenar o projeto de reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) diz ver uma mudança no comportamento do pai após o primeiro turno, quando obteve 51 milhões de votos. Na visão do filho, o presidente está “mais calmo”, “com a inteligência emocional cada dia melhor”.
— Aquela paz e harmonia que todos esperam é verdade. Está todo mundo cansado de briga — afirmou Flávio ao GLOBO.
Diferentemente do que diz o filho do presidente, contudo, as brigas não cessaram e a tentativa de passar a imagem de um candidato moderado tem esbarrado em declarações do próprio Bolsonaro. Nesta semana, ele esbravejou contra adversários, atacou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e voltou a lançar dúvidas, sem provas, sobre a segurança das urnas eletrônicas.
As declarações do presidente atrapalham a própria campanha?
O presidente já está falando que, se magoou alguém por algo que disse, ele está pedindo perdão. Quando Bolsonaro briga com alguém ou alguma autoridade é para cuidar do povo, porque ele fica indignado. De vez em quando ele bota para fora. É o que ele fala: “Posso falar palavrão, mas não sou ladrão”. Há uma distorção do que o presidente fala pela imprensa.
O senhor já pediu para ele tomar cuidado para evitar o que chama de “má interpretação”?
O presidente é genuíno. Então quando ele explode e dá uma declaração infeliz, que pode magoar alguma pessoa ou gerar um sentimento ruim, é o que ele está fazendo agora: pedindo perdão por isso. “Eu errei tentando acertar”.
Como a campanha pretende reverter os índices de rejeição a Bolsonaro?
Vocês estão vendo o presidente muito mais calmo, a cada dia mais preparado, com a inteligência emocional cada dia melhor. Grande parte dessa rejeição vem dos ataques mentirosos que o PT faz, que não são coibidos como deveriam pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), e que são potencializados pela imprensa. Ele infelizmente foi escolhido o inimigo, como se ele fosse uma ameaça à democracia, o que nunca foi.
Houve a percepção de que ele precisava de mais aliados políticos?
Há uma conscientização de que o Congresso eleito está pronto para o governo, com a maioria esmagadora de centro-direita. Agora vai ter um ambiente de muito mais paz e harmonia para aprovar medidas que nós achamos importantes. Estamos mostrando isso no programa de TV, que aquela paz e harmonia que todos esperam é verdade. Está todo mundo cansado de briga.
O que mudou do primeiro para o segundo turno?
O sentimento é que o presidente está maior do que nunca. Ao contrário das pesquisas desestimulando nossa campanha, dando o Lula como eleito no primeiro turno, o resultado nos deu o claro retrato de que temos tudo para promover uma grande virada. Além disso, tem a eleição de aliados, que nos deu novo ânimo.
Essa perspectiva de poder influenciou a aproximação de aliados do Centrão?
Em especial no Nordeste, onde as pesquisas diziam que o presidente tomava uma surra, havia esse fator inibidor para candidatos a deputado, senador e a governo explicitarem apoio ao presidente. Com a eleição resolvida, eles podem abertamente demonstrar isso, como também tem acontecido com vários prefeitos. Agora é uma outra eleição.
Como a campanha pretende tirar a diferença de 6,1 milhões de votos de Lula?
Criamos forças-tarefas em São Paulo, Minas e Rio com o apoio que nós temos. Na região Nordeste tem o foco especial na Bahia, Pernambuco, Ceará, Maranhão e Piauí, que são os maiores estados com mobilização dos prefeitos. Muita gente votou em Lula porque queria que acabasse logo no primeiro turno.
No primeiro turno, o senhor disse que a questão financeira era um problema. Segue uma preocupação?
Segue uma preocupação. O Lula já gastou dez vezes mais que o Bolsonaro. As doações melhoraram um pouco, mas seguem um problema. O que eu percebi é que havia uma preocupação das pessoas doarem porque os dados vão para a prestação de contas no TSE e a imprensa vai para cima.
As contas da campanha estão no vermelho?
Não está no vermelho, mas poderia estar no verde.
Há divergências no QG sobre as estratégias da campanha?
Não tem divergência. Antes de uma ideia ganhar corpo tem discussão, um puxa mais para cá, outro mais para lá, como é normal em qualquer campanha. Quando eu digo que o presidente é o marqueteiro é porque a palavra final é dele. Se ele falar que tem que subir o tom, todos vão dar um jeito de subir o tom e ver se ele aprova. Claro que mostramos pesquisas sobre o que ele pode melhorar, no que ele não precisa mais dar tanta ênfase.
O presidente pediu para o Ministério da Defesa não divulgar o relatório de fiscalização das urnas?
O resultado não foi divulgado porque não está pronto. O trabalho que nós fazemos é para diminuir a possibilidade de fraude. Não aconteceu, mas podia ter acontecido.
Então não aconteceu?
Não sei. É processo de coleta de informações ainda.
O presidente tem sido criticado por dizer que poderia avaliar uma proposta de aumentar o número de cadeiras no Supremo Tribunal Federal após as eleições. Qual a chance de isso avançar?
Essa proposta nunca partiu do presidente. A pauta é do Congresso. Agora, se está tendo essa discussão, os ministros do STF precisam fazer um exercício de autocrítica para saber por que tem gente discutindo isso.