Governador do PSB adere a Bolsonaro
Foto: Reprodução
Apoiado formalmente pelo ex-presidente Lula (PT) e disputando o segundo turno com um adversário bolsonarista, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), tem procurado manter distância do candidato petista, que ainda não visitou o estado nesta campanha. Casagrande vem modulando o discurso para evitar que o eleitorado mais à direita apoie seu oponente, Carlos Manato (PL). Num resultado que quebrou a tradição capixaba de eleições resolvidas em primeiro turno, Manato avançou na disputa com Casagrande impulsionado pelo apoio de Bolsonaro, que teve 52% dos votos válidos no estado, contra 40% para Lula.
Um panfleto distribuído nos últimos dias pela campanha de Casagrande, já no segundo turno, traz apenas o nome e número do governador, com espaço vazio no campo de presidente. Procurada pelo GLOBO, a campanha informou que foram produzidos dois tipos de panfleto, um com o número de Lula, e outro sem número.
A aliança de Casagrande inclui partidos como PDT, MDB e Podemos, que apoiaram outros presidenciáveis, e o governador, embora tenha declarado voto em Lula como parte do acordo nacional entre PT e PSB, não trouxe o petista para a campanha. Agora, parte dos aliados de Casagrande estimulam abertamente nas redes sociais um voto casado com Bolsonaro, apelidado de “CasaNaro”.
Na semana passada, Casagrande compartilhou em suas redes um vídeo de apoio do senador Marcos do Val (Podemos-ES). Embora o corte publicado pelo governador não traga menções a Bolsonaro, na mesma gravação, postada em seu perfil, Do Val defendeu a reeleição do atual presidente.
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Parlamentares eleitos por Podemos e PP, outra sigla na base do atual governo, também manifestaram apoio ao “CasaNaro”. O jornal capixaba A Gazeta mostrou que o próprio filho do governador, Victor Casagrande, compartilhou em um aplicativo de mensagens uma figurinha que mostra o pai ao lado de Bolsonaro.
No primeiro turno, Casagrande chegou a marcar 60% em pesquisas, mas a apuração mostrou uma vantagem de apenas oito pontos para Manato, que teve 38% nas urnas. Nesta nova etapa, Casagrande tenta equilibrar o apoio da esquerda com um discurso palatável ao bolsonarismo.
Na terça, por exemplo, em reunião com um sindicato, anunciou que pagará o piso salarial da enfermagem no estado, aprovado após um projeto de lei do senador Fabiano Contarato (PT-ES), mas suspenso pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Embora estivesse ao lado de Casagrande no ato, Contarato não aparece no vídeo publicado pelo governador.
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Nesta quarta-feira, Casagrande adotou um discurso duro na área de segurança pública, afirmando que vai “prender um a um” e combater “com rigor” membros de uma facção criminosa que promoveram ataques na capital Vitória, na terça, após um chefe do tráfico local ser morto pela polícia. Na véspera, o senador eleito Magno Malta (PL-ES), aliado de Bolsonaro, havia publicado um vídeo no qual afirmou ter procurado o ministro da Justiça, Anderson Torres, para tratar do envio da Força Nacional ao estado. No vídeo, Malta pressionou Casagrande a tomar uma atitude, dizendo que Bolsonaro e seu ministro estavam “aguardando uma ação do governo estadual” para determinar o envio de tropas.
— Nós estamos partindo para cima, porque bandido não vai se criar aqui — disse o governador, em entrevista coletiva na qual anunciou a prisão de dez suspeitos pelos ataques.
Casagrande também criticou adversários que estariam “tentando usar esse fato para um interesse eleitoral”, numa indireta a Manato, que alegou ter sugerido a proposta anunciada por Malta e lamentou o “caos na segurança pública”. O governador também afirmou que não deixaria “milícia e crime organizado comandarem nosso território como acontece no Rio”.
A propaganda do PSB tem citado uma antiga filiação de Manato à divisão capixaba da Scuderie LeCocq, grupo de extermínio criado por policiais no Rio nos anos 1970. Manato, que é médico de carreira, alegou ter chegado à LeCocq através de uma entidade filantrópica ligada a militares e que não atuou de fato no grupo.
Na busca pelo voto bolsonarista, Casagrande conta também com divisões no campo de apoiadores de Bolsonaro. Malta, que comanda o PL local, tem participado de forma comedida da campanha de Manato, que recebeu R$ 100 mil em recursos do PL, 20 vezes menos do que o destinado ao senador eleito.
No segundo turno, Manato encerrou o contrato com o marqueteiro Fernando Carreiro alegando falta de recursos, e trouxe para o núcleo duro da campanha os ex-prefeitos da Serra, Audifax Barcelos (Rede), e de Linhares, Guerino Zanon (PSD), que declararam apoio ao candidato do PL após serem derrotados na primeiro turno.