Lula adota o branco contra ódio bolsonarista

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Foto: Domingos Peixoto/Agência O Globo

A passagem do ex-presidente Lula, candidato do PT à Presidência, pelo Rio nesta terça e quarta-feira foi marcada pela guinada cromática em sua campanha: o tradicional vermelho do Partido dos Trabalhadores deu lugar ao branco. O mesmo ocorreu em ato no fim da tarde desta quarta-feira em Salvador, em que o petista discursou com uma camisa branca. A sugestão foi da senadora Simone Tebet (MDB-MS), que terminou o primeiro turno em terceiro lugar na corrida presidencial e agora apoia o ex-presidente, como uma das formas de tentar diminuir a rejeição a Lula.

A preferência pelo branco começou a ser adotada já nesta terça-feira, quando chegou ao Rio para uma caminhada em Belford Roxo, município da Baixada Fluminense. Os materiais que convidavam apoiadores a comparecer indicavam a escolha pela cor branca por representar a paz. Logo após ato no Complexo do Alemão, na manhã de quarta-feira, Lula pousou em Salvador (BA) e também compareceu na agenda de campanha com uma camisa branca, sem adesivos ligados ao PT.

Em ato no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, o ex-presidente recebeu na quarta-feira, dia de Nossa Senhora Aparecida, uma imagem da santa. Apoiadores de Lula distribuíram nas redes sociais uma carta com compromissos voltados a religiosos. O texto, entre outros pontos, afirma que todas as religiões e templos serão respeitados em um eventual governo Lula-Alckmin.

No Alemão, em carro aberto com a mulher, a socióloga Janja Silva, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), e os candidatos derrotados ao governo do estado Marcelo Freixo (PSB) e Rodrigo Neves (PDT), o petista exibiu a santa aos militantes e a devolveu para continuar o ato político. No início da tarde, a propaganda de Lula na TV exibiu imagens aéreas da Basílica de Aparecida (SP) enquanto a locutora celebrava o dia da “padroeira do nosso Brasil”. De acordo com as pesquisas de intenção de voto, Lula lidera com ampla margem entre os católicos.

Lula retornou nesta quarta-feira ao complexo do Alemão, 11 anos após o lançamento de obras e investimentos na região. O ex-presidente defendeu o legado dos governos petistas, reafirmou que “nunca um presidente investiu tanto no Rio”, e associou seu adversário, o presidente Jair Bolsonaro (PL), à milícia.

Lula foi seguido por uma multidão de vermelho e branco. No meio do trajeto, o petista pegou o microfone e relembrou realizações de seu governo alfinetando o atual titular do Palácio do Planalto.

— Nós estamos passando numa área em que tem muita obra do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) de quando eu era presidente. Quero ver alguém achar uma casa verde amarela do Bozo (em referência a Bolsonaro) e me avisar — disse o candidato, se referindo ao nome do programa de habitação do atual presidente. — A única casa que ele fez foi aqueles 51 imóveis que comprou pra família à vista.

Ainda em seu mandato como presidente, em 2008, o petista esteve na comunidade para iniciar obras do PAC. Uma das construções foi o icônico teleférico, atualmente abandonado e sem uso.

Em outra fala, o candidato do PT relembrou o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL).

— Ele (Bolsonaro) não tem noção do que é o povo carioca porque a vida dele está ligada aos milicianos que mataram Marielle — disse Lula.

A agenda no Alemão foi articulada pelo ativista e líder comunitário Renê Silva. Antes da caminhada, Lula se reuniu com lideranças do projeto Voz das Comunidades. O ex-presidente venceu o primeiro turno nas seções eleitorais da região, com 54% dos votos, contra 38,8% de Bolsonaro.

Em 2008, foram anunciados investimentos de cerca de R$ 1,4 bilhão em recursos da União, estado e município para obras do PAC no Alemão. Algumas deram uma nova cara à região, enquanto outras só estão sendo retomadas agora, depois de anos de abandono pelo governo do Estado do Rio. Além da reabilitação do teleférico, estão em curso um conjunto habitacional e a retomada da construção de uma unidade da Faetec. Ainda não saíram do papel projetos como o Centro Integrado de Atenção à Saúde (CIAS).

O Globo