Lula converge ao centro como estratégia final

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Foto: Ricardo Stuckert

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai caminhar rumo ao eleitor de centro e ao interior dos estados em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) venceu no primeiro turno. A campanha desenvolveu estratégias para ganhar terreno no Sul, Centro-Oeste e Sudeste, que passam pelo aumento dos ataques ao adversário, a oferta de programas voltados a determinadas unidades da federação e a exploração da imagem de aliados com trajetória reconhecida em seus domicílios eleitorais.

Os petistas vão investir na desconstrução da imagem de Bolsonaro para tentar virar o jogo em São Paulo. Trata-se do maior colégio eleitoral do país, onde Lula perdeu por 1,7 milhão de votos e o PT não vence uma disputa presidencial desde 2002, com o próprio Lula. O plano da campanha é aumentar a rejeição ao presidente, com base na premissa de que no segundo turno o brasileiro opta pelo “menor pior”.

Lula e Fernando Haddad, candidato do partido Palácio dos Bandeirantes, farão eventos juntos, sobretudo em cidades do interior, já que o ex-presidente bateu Bolsonaro na capital. O foco está em atrair os 9,84% do eleitorado paulista que votaram em Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) no primeiro turno. Na avaliação da campanha, trata-se de um brasileiro difícil de se conquistar, que costuma apresentar resistência a Lula.

No Rio, estado em que obteve cerca de 1 milhão de votos a menos do que Bolsonaro, Lula apostará na atuação de dois cabos eleitorais: o prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD), que vai coordenar as ações no estado, e Rodrigo Neves (PDT), candidato derrotado ao Palácio Guanabara. Ele manterá sua estrutura de campanha para ajudar a pedir votos para Lula.

O ex-presidente vai mirar na Baixada Fluminense no primeiro momento. Está previsto para a semana que vem um ato ao lado do prefeito de Belford Roxo, Waguinho (União Brasil), que também deve encontrar Jair Bolsonaro, mas sinaliza preferência pelo petista — na semana passada, após participar de um ato da campanha de Bolsonaro no Rio, Waguinho se reuniu com Lula e posou para uma foto fazendo o “L”, gesto característico de apoiadores do petista. Lula trabalhará para avançar na Baixada Fluminense junto ao eleitorado evangélico, segmento em que o candidato à reeleição lidera.

O maior desafio para Lula está no Sul do Brasil, região que o PT considera praticamente “perdida”. A meta é tentar reduzir a diferença de pouco mais de 3 milhões de votos conquistada por Bolsonaro no primeiro turno. A campanha enxerga no Rio Grande do Sul a trincheira mais favorável da parte de baixo do país, e vai usar figuras históricas do partido no estado, como o ex-governador Olívio Dutra e o senador Paulo Paim, para tentar avançar. Lula baterá na tecla de que Bolsonaro não conhece e não tem propostas para a região.

No Paraná, berço da operação Lava-Jato, aliados do ex-presidente buscam ampliar o diálogo com religiosos e focar em micro e pequenos empreendedores, com uma campanha voltada para o centro. O núcleo duro de Lula aposta que Bolsonaro bateu no teto e tem pouca margem de crescimento no estado, em que alcançou 3,6 milhões de votos, contra 2,3 milhões do petista, que poderia crescer entre indecisos e eleitores de Ciro e Tebet.

No Centro-Oeste, Lula delegou o comando da campanha a nomes ligados ao agronegócio, setor amplamente favorável ao titular do Palácio do Planalto, como o senador Carlos Fávaro (PSD-MT). Na tentativa de reverter a rejeição que enfrenta, Lula investe em propostas específicas para esse público, entre elas a promessa de incentivo à ampliação do crédito rural.

Em Mato Grosso, além do foco na atividade econômica da região, a ideia é mapear comunidades do campo e indígenas, além de abrir interlocução com igrejas. Bispos, pastores e agricultores da região estão sendo procurados para gravar vídeos de apoio a Lula.

— Temos uma meta de aumentar em 10% a votação do presidente Lula em Mato Grosso — diz a deputada professora Rosaneide (PT-MT).

O Globo