Potências combinam apoio a Lula “simultâneo”

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Foto: CARL DE SOUZA/FP

Líderes de diversos países coordenaram entre si o reconhecimento, em tempo recorde, da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência. Mensagens de felicitações a Lula chegaram quase ao mesmo tempo, minutos após a apuração indicar que o presidente eleito não poderia mais ser alcançado pelo atual ocupante do Planalto, Jair Bolsonaro (PL).

Assim que a vitória se tornou irreversível, os embaixadores estrangeiros que estavam na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), acompanhando a apuração das urnas eletrônicas, comunicaram aos governos de seus países que aquele era o momento de respaldar o sistema eleitoral brasileiro e, com isso, contribuir para a manutenção da democracia.

Representantes de vários países disseram ao GLOBO que havia uma espécie de acerto prévio entre as embaixadas. O rápido reconhecimento de Lula como presidente eleito pela comunidade internacional seria uma forma de dificultar qualquer tentativa de Bolsonaro de contestar o resultado das eleições.

Joe Biden, o presidente americano, por exemplo, enviou as felicitações a Lula cerca de 40 minutos após o resultado das urnas e antes mesmo do primeiro discurso do eleito. Além dele, cumprimentaram Lula nomes como o chanceler da União Europeia, Josep Borrell, os presidentes de França, Emmanuel Macron, e Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez. Quase todos países latino-americanos e caribenhos se pronunciaram, inclusive Argentina, Colômbia, México e Cuba.

De acordo com esses embaixadores, para grande parte dos países desenvolvidos e com peso no cenário internacional, além da democracia, o objetivo era reforçar o apoio às instituições brasileiras. Ao longo do dia, os chefes das embaixadas encaminhavam relatórios às sedes de seus governos, informando a situação com base em notícias da imprensa, análises de especialistas e declarações de autoridades brasileiras e observadores internacionais.

Segundo um interlocutor estrangeiro, ”foi um dia movimentado e cheio de emoções”. Os diplomatas começaram domingo falando sobre o incidente envolvendo a deputada bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP), no sábado. Ela perseguiu, portando um revólver, um homem negro por causa de uma discussão sobre política.

Mas um dos momentos mais difíceis foi quando surgiu a notícia de que a Polícia Rodoviária Federal realizava blitzes no país, principalmente no Nordeste. As operações, denunciadas como tendo o objetivo de atrapalhar o deslocamento dos eleitores, não eram permitido pelo TSE no dia da eleição. O presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, afirmou neste domingo que a Corte vai apurar se houve desvio de finalidade ou abuso de poder.

Mais tarde, quando os votos começaram a ser contados e a pontuação virou a favor de Lula, os diplomatas estrangeiros aguardavam sinais de dentro e fora do Judiciário, que não demoraram a chegar. Após Alexandre de Morais anunciar Lula como presidente eleito, declarações de figuras importantes da República foram tranquilizadoras, a começar pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, aliado de Bolsonaro, que defendeu a pacificação do país.

Declarações da ex-ministra e senadora eleita pelo Distrito Federal, Damares Alves, dizendo que Bolsonaro sairia do cargo “de cabeça erguida”, e da própria Zambelli, que avisou que Lula teria uma oposição como nunca vista, também foram música para os ouvidos dos embaixadores.

Nesta segunda-feira, um embaixador de um importante país europeu comentou que a sensação é de alívio. Há dúvidas sobre como Lula vai pacificar o Brasil, que está claramente dividido, com a derrota de Bolsonaro. Mas existe a aposta de que a experiência de Lula como negociador vai ajudar.

O desmatamento na Amazônia e o aquecimento global são temas que vão ganhar prioridade na política externa brasileira, na avaliação desses diplomatas. Quem comandará o Itamaraty e a área econômica do próximo governo fazem parte da lista de itens que os embaixadores precisam informar às suas sedes, mas ainda não têm resposta.

Outro ponto bastante comentado é o perfil do próximo Congresso, com uma grande bancada de bolsonaristas e partidos mais voltados para a direita.

O Globo