Votos tucanos decidirão eleição em SP
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Precisando de uma virada no segundo turno para tornar-se governador de São Paulo, o candidato do PT, Fernando Haddad, tem obstáculos concretos na busca pelos votos de que precisa para derrotar Tarcísio de Freitas (Republicanos). Além de o terceiro colocado, Rodrigo Garcia (PSDB), ter se saído melhor no interior, mais refratário ao PT, o próprio adversário nesta segunda etapa angariou um capital relevante em municípios da Região Metropolitana, áreas onde partidos de esquerda costumam ter mais capilaridade.
Garcia terminou a eleição com 18% dos votos válidos, patamar que agora está “livre” para os postulantes que restaram na disputa. Mais da metade desse espólio, no entanto, está espalhada por municípios do interior, que têm tradicionalmente inclinação mais à direita.
O atual governador não conseguiu vencer em nenhum dos 200 maiores municípios do estado. As cinco cidades em que teve melhor desempenho foram Nova Castilho, Suzanápolis, Lavínia e Avaí, onde obteve mais de um terço dos votos válidos. São todos municípios sem influência local ou regional. Das cidades onde venceu, as que mais lhe conferiram massa foram Iperó, Monte Azul Paulista e Severínia, mas mesmo nestas localidades os votos para o tucano não chegaram a 5 mil para cada uma.
Até agora, o tucano ainda não definiu se vai se posicionar em direção a Haddad ou Tarcísio. A tendência é que os partidos da coligação do PSDB e seus aliados apoiem o ex-ministro.
A única cidade do interior com mais de 200 mil habitantes onde o petista ganhou foi Araraquara, governada pelo petista Edinho Silva. Os outros redutos petistas do interior são o Pontal do Paranapanema e o oeste do Vale do Ribeira, regiões menos populosas que pesam pouco na eleição.
A votação expressiva de Tarcísio na Região Metropolitana é outra barreira. O petista ficou na frente na capital, que concentra mais de um quarto do eleitorado. No entanto, uma vitória mais contundente em toda a Grande São Paulo foi frustrada pelo candidato bolsonarista. O candidato do Republicanos surpreendeu e venceu, por exemplo, em Guarulhos — o segundo município mais populoso do estado —, ainda que com margem apertada de cerca de 10 mil votos.
A campanha de Haddad esperava ter vantagem nessa região para compensar a resistência que enfrenta no interior, considerado mais conservador e antipetista.
Três cidades mais populosas próximas a São Paulo — Campinas, Sorocaba e São José dos Campos — são alternativas para Haddad de onde buscar mais votos, por terem um perfil populacional mais semelhante ao da capital. Campinas, especialmente, porque já foi governada pelo PT no passado. As duas últimas, porém, contam com prefeitos alinhados ao bolsonarismo. A campanha de Tarcísio, que já prestou especial atenção a estes municípios e seus arredores, dobrará a aposta para consolidar estes votos.
Ribeirão Preto é uma opção mais difícil, pois o eleitorado hoje é mais identificado com a direita, ainda que o PT também já tenha governado o município. Lá, Tarcísio teve larga vantagem: 48,52% contra 32,18% de Haddad. O prefeito Duarte Nogueira (PSDB) declarou ontem apoio formal a Bolsonaro e Tarcísio no segundo turno, dificultando mais a vida do PT no interior paulista.
Quando se observa os locais por proporção da votação em Garcia, uma região que pode ser de algum interesse para Haddad é a de São José do Rio Preto, no norte do estado. Apesar de o tucano ter perdido nesse município e em sua cidade natal, Tanabi, ele teve melhor votação em diversas cidades no entorno, o que lega alguns votos soltos ali para serem disputados no segundo turno.
A polarização torna improvável que um candidato roube votos do outro, e os mapas de votação mostram que, nesta eleição, o contraste entre metrópole e interior se acentuou em relação ao pleito de 2018. Na ocasião, o litoral, tradicionalmente conservador votou em Márcio França (PSB), um candidato de centro-esquerda, que buscou se distanciar do PT, mas que era da região. João Doria (PSDB) adotou postura de direita e combinou uma vitória no interior e na capital juntos.