Agronegócio deve indicar ministro da Agricultura

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Foto: Ahmad Gharabli/AFP

O grupo escalado para tratar dos temas relacionados à agricultura durante a transição tem três candidatos a assumir o ministério da área: os senadores Carlos Fávaro (PSD-MT) e Kátia Abreu (PP-TO), assim como o deputado Neri Geller (PP-RS). Trata-se de uma seara considerada estratégica para o futuro governo, já que faz o ponto de contato do Executivo com o agronegócio, setor da economia em que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enfrenta uma das maiores resistências.

O núcleo conta com oito integrantes, anunciados ontem pelo coordenador da transição e vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, sendo três ex-ministros da Agricultura. Kátia Abreu e Neri Geller chefiaram a pasta durante o governo de Dilma Rousseff, e Luiz Carlos Guedes, no primeiro mandato de Lula. Esse time tem como missão elaborar um diagnóstico em conjunto com representantes do agronegócio e desenhar diretrizes para uma nova política agrícola que atenda aos interesses e, consequentemente, atenue as desconfianças dos produtores rurais.

O grupo também vai contribuir para o debate em curso na transição sobre a possibilidade de se desmembrar o ministério em dois: Agricultura e Desenvolvimento Agrário. Carlos Fávaro entoa o discurso pretendido por Lula, que mira a construção de pontes com o agronegócio, majoritariamente favorável ao atual presidente Jair Bolsonaro (PL).

— Semana que vem estaremos a pleno vapor. A poeira está baixando, e o próximo governo será de diálogo — disse Fávaro, também encarregado de buscar uma aproximação do futuro governo com a bancada ruralista no Congresso.

Fávaro e Neri Geller contam com a simpatia de Geraldo Alckmin. Além disso, foram dois dos primeiros nomes do setor a declarar apoio a Lula. O vice eleito trabalhou para que o núcleo do agro fosse o mais heterogêneo, com políticos, pesquisadores e representantes do setor não apenas do Centro-Oeste, mas também do Sul e do Sudeste.

—Temos um timaço que vai ajudar a pacificar o país e criar diálogo — disse Geller, na mesma linha de Fávaro.

Outra possível ministra da Agricultura, Kátia Abreu tem um trunfo importante para voltar à Esplanada: a proximidade com Dilma. Ela foi uma das personagens mais leais à ex-presidente na época do impeachment, na avaliação dos petistas. Kátia Abreu está na comitiva de senadores que acompanham, no Egito, os debates da Conferência sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas, a COP 27.

Questionada sobre a possibilidade de voltar à pasta, a parlamentar disse que não trabalha com hipóteses, mas defendeu que o futuro ministro, seja ele qual for, mantenha uma boa relação com o Ministério do Meio Ambiente.

— Tenho certeza que o presidente Lula está pronto para escolher um personagem que trabalhe unido ao Ministério do Meio Ambiente. Que a gente possa se preocupar com a segurança alimentar do país, com emprego, renda, exportações, balança comercial, mas sem perder de vista a questão ambiental porque um lado pode destruir o outro. Não importa onde eu esteja, quero é ajudar — afirmou.

A senadora disse que a destruição ilegal de florestas não pode ser admitida no país, mas lembrou que o desmatamento de algumas áreas, amparado pela legislação em vigor, terá seu apoio.

— Não abrimos mão da nossa soberania, e as leis brasileiras serão cumpridas e obedecidas. Desmatamento ilegal não, mas a lei brasileira prevê o desmatamento de algumas áreas. Rigorosamente dentro da lei, terá todo o meu apoio.

Entre os nomes técnicos escalados para o grupo há Tatiana Deane de Abreu Sá. Doutora em biologia vegetal, pesquisadora na área de agrometeorologia e biofísica vegetal, com atuação nas áreas sistemas agroflorestais, Amazônia, sistemas alternativos à queima, agroecologia e bioclimatologia animal, ela foi diretora-executiva da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de 2005 a 2011.

Silvio Crestana é professor, físico e pesquisador brasileiro e foi presidente da Embrapa durante o governo Lula. Joe Valle é engenheiro florestal e empresário. E Evandro Gussi, ex-deputado federal de São Paulo pelo Partido Verde e presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica).

O Globo