Confiança de Lula em Alckmin só cresce

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Foto: Alexandre Schneider/Getty Images

A viagem de Luiz Inácio Lula da Silva ao Egito, onde participa da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-27), é a primeira de um roteiro internacional que o presidente eleito quer fazer após assumir o governo. Lula diz que vai “religar o Brasil ao mundo”, cuidar da política, da economia, de pautas ambientais e do combate à fome. Para desespero do PT, a ideia é mesmo delegar grande parte da agenda administrativa a Geraldo Alckmin.

Ex-tucano com perfil de centro, Alckmin não será um vice decorativo nem ficará isolado no Palácio do Jaburu. Não foi à toa que Lula o escolheu para coordenar o gabinete da transição, à revelia dos petistas. Quer agora, porém, que o copiloto deixe de ser “telegráfico” e vire uma espécie de porta-voz do novo governo. A ordem provoca ciúmes no serpentário da transição, onde faltam diretrizes e sobram disputas. Coube a Alckmin, por exemplo, minimizar o erro de Lula ao pegar carona em um jato do empresário José Seripieri Filho para a COP-27.

Acostumado a anotar tudo o que julga importante, o futuro vice trabalha em modo analógico. Na semana passada, foi fotografado pelo Estadão carregando uma folha de papel sulfite, rabiscada com nomes a serem anunciados para a equipe.

Desde o tempo em que era governador de São Paulo, Alckmin tem o hábito de andar com um caderno universitário nas mãos. Possui vários exemplares guardados, como se fossem relíquias. Neles, faz apontamentos a respeito de assuntos sobre os quais pretende se debruçar.

É assim até hoje. “O que você propõe para a reforma fiscal?”, perguntou ele, nesta terça-feira, 15, ao tomar café numa padaria com o secretário da Fazenda de São Paulo, Felipe Salto. O economista apresentou, então, uma proposta de mudança que combina limite para dívida pública, meta de resultado primário, teto de gastos e fundo de reserva. Tudo foi anotado por Alckmin em um cadernão de capa azul. Salto é cotado para ocupar a Secretaria do Tesouro.

Lula, por sua vez, sempre pede que auxiliares registrem o teor de suas conversas no computador. Mas não é muito ligado ao mundo digital. “Se o governo tiver uma comunicação analógica, sua mensagem nunca chegará à população”, diz André Janones (MG). O deputado recorreu à tática de guerrilha nas redes sociais para enfrentar Jair Bolsonaro sob o mantra fake news com fake news se paga.

“É preciso criar um Ministério para Assuntos Religiosos, isso sim”, aconselhou o deputado Pastor Sargento Isidório (MG). “Ou eles se preocupam com isso agora, ou vão chorar mais tarde.” Pelo sim, pelo não, Lula já começou a ler a Bíblia do Executivo, que ganhou de presente, com mensagens evangélicas e dicas para formação de equipes. Os alquimistas estão mesmo chegando…

Estadão