Endireitamento do PSB no passado cobra seu preço

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Foto: Reprodução

O PSB, um dos principais partidos da base de sustentação do futuro governo Lula, emergiu das urnas com apenas 14 deputados federais, menos da metade dos 32 titulares eleitos em 2018. Com a evasão dos dissidentes, a bancada chegará ao fim do ano com 24 parlamentares, evidenciando um processo de encolhimento durante o governo Bolsonaro, de franca hegemonia da direita.

O partido de Miguel Arraes e Eduardo Campos também amargou duas derrotas difíceis de digerir: uma delas foi para o PSDB na disputa pelo governo de Pernambuco, Estado que governa há 16 anos. A outra foi a de Márcio França, que liderou até a reta final as pesquisas sobre a eleição para a vaga de senador por São Paulo, mas perdeu a cadeira para Marcos Pontes (PL).

Em contrapartida, os sinais são de que o PSB tem tudo para recuperar musculatura diante do capital político que envergará na gestão do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O PSB tem o vice-presidente eleito e coordenador da transição, Geraldo Alckmin. Além disso, reelegeu três governadores: Renato Casagrande (ES), Carlos Brandão (MA) e João Azevêdo (PB). O senador eleito pelo Maranhão, Flávio Dino, deve migrar para o primeiro escalão, mas a suplente, Ana Paula Lobato, também é do PSB.

Em paralelo, o partido deve ter até três representantes na Esplanada a partir do ano que vem. Pelo papel que desempenhou na eleição em São Paulo, Márcio França é cotado para assumir uma pasta na área de infraestrutura, como Cidades – que será desmembrada do Desenvolvimento Regional. O ex-governador de Pernambuco Paulo Câmara, muito próximo de Lula, teve o nome ventilado para a Controladoria-Geral da União (CGU).

Flávio Dino é cotado para o Ministério da Justiça. Nos bastidores, ele tem criticado os planos do futuro governo de reduzir a estrutura do órgão, criando a pasta de Segurança Pública. Além de ser um político influente, Dino é egresso da carreira de juiz federal, com trânsito junto a magistrados nas três instâncias do Judiciário, e ministros dos tribunais superiores.

Com esses atributos, se assumir a Justiça, a expectativa é que o ex-governador resgate o protagonismo que a pasta perdeu nos últimos anos. As apostas são de que Flávio Dino no Ministério da Justiça evocaria os tempos em que a pasta foi ocupada por quadros admirados, simultaneamente, pelo conhecimento jurídico, habilidade política e compromisso inabalável com a democracia, como Petrônio Portella, Paulo Brossard, Nelson Jobim, José Carlos Dias, José Gregori e Márcio Thomaz Bastos.

O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, admitiu, em conversa com a coluna, que o encolhimento da bancada federal foi negativo, mas ele está otimista quanto ao cenário que se descortina para 2023. “Só 13 partidos fizeram a cláusula de desempenho e o PSB está entre eles”, observou.

“Precisamos crescer a partir daqui, e vamos crescer fazendo política, atraindo novos quadros, reestruturando o partido”, completou. Uma meta é conquistar parlamentares de partidos que não atingiram a cláusula de barreira. “O quadro político não pode continuar assim, e não continuará”, reforçou Siqueira.

Ele acrescentou que o PSB recebeu mais de 4 milhões de votos em todo o país, somente 1 milhão a menos do que em 2018, mas pelas novas regras, não foi possível eleger um número expressivo de deputados.

Siqueira elogiou a decisão de Lula de indicar Geraldo Alckmin para coordenar a transição de governo. “Achei excelente a escolha porque é um símbolo do alargamento do espectro político, e pelo fato de ser uma pessoa experiente, ponderada, racional, capaz de conversar com todos os lados, e de criar pontes, que são necessárias para que possamos avançar para reunificar o país”.

O presidente do PSB afirmou que a prioridade do futuro governo deve ser unir o país. Ele afirma que o caminho para isso é consolidar-se como um governo de centro. “Não pode ser um governo de esquerda”, salientou. “O que pode isolar o bolsonarismo é a amplitude do governo e de suas políticas, é um governo que tentará recuperar ou restaurar a plenitude democrática, e para isso, será necessário alargar o espectro político”. Siqueira ponderou que a sustentação do governo não poderá ser exclusivamente parlamentar, via Congresso. “É fundamental, mas não suficiente, tem que ter a sustentação popular”.

Siqueira alerta que Lula precisa ganhar uma parte dessa população que votou contra ele, mas que poderá enxergar nas ações do futuro governo politicas públicas que correspondam às suas aspirações. Dessa forma, acredita que esses brasileiros poderão mudar de lado. “É impossível governar um país dividido ao meio por quatro anos”, advertiu.

Carlos Siqueira afirmou à coluna que se o presidente eleito colocar em prática plenamente o conteúdo do pronunciamento da vitória, feito em um hotel em São Paulo no dia 30, o governo tem tudo para dar certo. Naquela manifestação, Lula afirmou que governará para 215 milhões de brasileiros e brasileiras, e não apenas para aqueles que votaram em sua chapa. “Não existem dois Brasis, somos um único país, um único povo, uma grande nação”, observou. “É hora de baixar as armas, que jamais deveriam ter sido empunhadas. Armas matam. E nós escolhemos a vida”, conclamou o petista.

O concorrido presidente do PL, Valdemar Costa Neto, viajou na ponte aérea São Paulo-Brasília ontem de manhã na companhia de dois deputados influentes do Partido dos Trabalhadores – a sigla que impediu o PL de desfrutar de mais quatro anos na Presidência da República. Sentou-se à frente de Rui Falcão e ao lado de Arlindo Chinaglia. Segundo testemunhas, o clima era de cordialidade. Num aceno ao novo dono do poder, Valdemar disse a Falcão que ele foi um dos melhores presidentes do PT. Avesso aos holofotes, Valdemar passou mais de dez anos sem dar entrevistas. Hoje ele dará uma coletiva para quase 100 jornalistas credenciados.

Valor Econômico