Enem terá último ano de carestia

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Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

A primeira prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2022 será aplicada neste domingo (13/11). O teste ocorre após duas edições marcadas por crises, recordes de abstenções, problemas de logística e prejuízos na aprendizagem devido à pandemia de Covid-19. Agora, a expectativa é que o cenário de “normalidade” seja retomado no exame deste ano.

De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 3.396.632 estudantes estão inscritos no exame – o segundo menor índice em 17 anos. Do total, 3,3 milhões realizarão a versão impressa da prova. As demais 65 mil inscrições correspondem a estudantes que farão o Enem digital.

Desde 2017, o exame é aplicado em dois domingos diferentes – até então, a prova ocorria em apenas um final de semana, aplicada no sábado e no domingo. Neste ano, o segundo teste está previsto para 20/11.

Em 2020, devido à crise sanitária causada pela Covid, a prova, que acontece tradicionalmente em novembro, foi adiada para janeiro de 2021. Após o anúncio das novas datas, o Inep protagonizou uma série de embates judiciais para que o exame fosse novamente alterado, já que o país enfrentava um pico de casos da doença.

A alteração não foi concretizada, e o exame ocorreu com recordes de abstenção – em 2020, 51% dos inscritos não compareceram no primeiro dia, e 55,33% faltaram no segundo dia.

A edição de 2020 também teve reaplicação para estudantes que perderam as provas por estarem com Covid ou que tiveram problemas logísticos – como lotação acima da capacidade nas salas, problemas no sistema do Enem digital e alagamentos em municípios do norte do país.

A reaplicação dos testes ocorreu em 23 e 24 de fevereiro de 2021 e também teve alta abstenção, com índice de 72%. Na edição de 2021, os níveis tiveram melhora em comparação ao ano anterior. A prova teve 26% de abstenção no primeiro dia, e 30% no segundo final de semana.

Em 2021, o exame também foi marcado por crises internas no Inep, órgão responsável pela elaboração das provas, ligado ao Ministério da Educação.

Às vésperas do teste, um grupo de servidores denunciou supostos casos de assédio no órgão ao Tribunal de Contas da União (TCU) e à Controladoria-Geral da União (CGU). Mais de 31 gestores pediram demissão. Os funcionários também acusaram membros do órgão de “possível intervenção e risco ao sigilo” na prova.

Após as crises dos últimos dois anos, o exame caminha para a realização em cenário mais “tranquilo”, avalia o professor Remi Castioni, docente da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB).

“O Enem vai transcorrer com maior normalidade. Normalidade para uma prova desta dimensão é que, de fato, os alunos compareçam no horário, as provas sejam distribuídas, os locais estejam preparados e depois se faça procedimentos de correção comuns, previstos em edital”, analisa o docente.

De acordo com o balanço mais recente do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), ao longo da pandemia, o nível de proficiência em matemática para alunos do ensino médio em 2021 retrocedeu aos índices de 2013. Na área de língua portuguesa, o índice atingiu o menor número desde 2017.

A falta de acesso à internet para assistir às aulas remotas prejudicou os estudantes, especialmente os mais pobres. Para o professor Remi Castioni, o baixo número de inscrições deste ano é reflexo dos prejuízos causados pela pandemia.

Os danos à educação também são apontados pela União Nacional de Estudantes Secundaristas (Ubes). Para Jade Beatriz, presidente da organização, a dificuldade no acesso a outros direitos básicos influenciaram, do mesmo modo, na evasão escolar e nas abstenções no Enem.

“Hoje a gente tem o Brasil no Mapa da Fome. São mais de 40 milhões de pessoas passando fome, na extrema pobreza. Mais de 10 milhões são crianças e adolescentes que estão passando por desnutrição. Toda a crise afetou essa parcela de estudantes, que não conseguem ter acesso à educação e também a outras coisas básicas”, pontua.

Para a estudante, a expectativa é que os danos sejam recuperados nos próximos anos. Ela ressalta que, apesar do baixo número de inscritos no Enem, o exame bateu o recorde de alunos pretos e indígenas matriculados. A presidente também destaca a mobilização de estudantes para o acesso ao passe livre estudantil nas datas de prova.

“Já é um cenário muito diferente do ano passado, que teve não só o menor número de inscritos, mas o menor número de negros e indígenas. É possível que esteja acontecendo essa mudança, essa transição. mas ainda assim precisamos ficar de olho”, conclui.

Veja datas do Enem 2022:

Prova de ciências humanas e linguagens: 13/11
Prova de ciências da natureza e matemática: 20/11
Enem para Pessoas Privadas de Liberdade (PPL): 10 e 11/1/2023

Metrópoles