Haddad pode virar ministro da Fazenda
Foto: Maria Isabel Oliveira/Agência O Globo
Integrantes da cúpula do PT tentam convencer o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, pela indicação de Fernando Haddad para o Ministério da Fazenda, posto chave da administração federal e cujo nome segue indefinido. O cálculo feito por deputados e senadores do partido é de que, nesse cargo, Haddad pode construir um caminho para a disputa presidencial de 2026, quando Lula já disse que não vai concorrer.
A indicação para o Ministério da Fazenda é uma das principais dúvidas sobre o governo Lula e a escolha que for feita será fundamental para a relação com o mercado e para medidas do próprio Executivo. Até agora, o presidente não deu sinal sobre quem escolherá para o cargo.
Lula indicou diversas vezes, durante a campanha presidencial, que preferia um ministro com perfil político, capaz de negociar propostas com o Congresso Nacional. Haddad perde pontos, nesse caso, por ter pouca interlocução com o Congresso. Nomes pesados do setor financeiro e industrial também torcem o nariz para Haddad, considerado um político que não tem uma vocação natural para o consenso e para negociações entre diversos grupos com interesses divergentes.
Segundo integrantes da transição, há outros nomes sendo aventados por aliados de Lula para a Fazenda. Entre eles, estão o dos senadores eleitos Wellington Dias (PI) e Camilo Santana (CE). Dias está sendo responsável por ajustar o Orçamento de 2023. A indicação de um senador, porém, está sendo avaliada com cautela por auxiliares de Lula, já que aliados importantes do presidente Jair Bolsonaro foram eleitos para a Casa — como o atual vice, Hamilton Mourão (Republicanos-RS) e a ex-ministra Damares Alves (Republicanos-DF).
Para assumir um cargo no Executivo é necessário se licenciar do Senado e, mesmo que o suplente seja petista, a avaliação é de que será necessário ter nomes “fortes” na Casa. Nesse cenário, Wellington Dias poderia ficar como líder do governo ou responsável pela articulação política.
Outros políticos frequentemente citados para o posto de ministro da Fazenda são o governador da Bahia, Rui Costa, e o deputado federal Alexandre Padilha (PT-BA). O primeiro é apontado por conta da sua experiência na gestão do estado e da importância que a Bahia teve para a vitória de Lula. Já Padilha foi um dos principais interlocutores do PT com o mercado financeiro durante a campanha presidencial. O vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), também já foi citado na bolsa de apostas.
Membros do PT avaliam ser natural a nomeação de Haddad para algum ministério. Derrotado na disputa em São Paulo, ele é próximo de Lula, de quem já foi ministro da Educação. Agora, segundo integrantes do partido, não faria sentido a volta dele para o cargo e nem a sua indicação para postos com menor destaque na Esplanada dos Ministérios.
Porém, se a opção for de indicar um técnico para a pasta, a aposta hoje gira em torno de dois nomes: Henrique Meirelles e Pérsio Arida. Ex-presidente do Banco Central no governo Lula, Meirelles se aproximou do petista e tem mantido um discurso alinhado aos interesses do futuro governo, como a defesa de criar um espaço extra no Orçamento de 2023.
Próximo ao vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, Pérsio Arida foi convidado para integrar a transição. Um dos criados do Plano Real, ele declarou voto em Lula e ajudou a formular propostas econômicas para o petista.
Para parlamentares do partido, é necessário pavimentar um caminho para as eleições presidenciais de 2026, pensando no futuro da legenda, já que Lula não pretende concorrer à reeleição. Nesse cenário, Haddad surge como peça importante. A avaliação é de que, para mantê-lo em evidência, será necessário colocá-lo no posto de destaque — nesse caso, a opção preferida é a Fazenda. A presença de Haddad no primeiro escalão é dada como certa e ele mesmo já sinalizou que prefere um cargo na área econômica.
Dentro do PT, a avaliação é de que uma política econômica bem sucedida, com geração de empregos e construção de obras públicas, pode cacifar o ministro como candidato à Presidência. O risco, porém, é de uma eventual crise econômica minar qualquer chance de disputa ao Palácio do Planalto.