Heleno mandou 40 agentes fazer “segurança” de Lula
Foto: Sérgio Lima
Uma equipe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, órgão comandado pelo general Augusto Heleno, tentou fazer parte do esquema de segurança do governo de transição e controlar até a rede de informática que seria usada por nomes escolhidos para auxiliar o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com informações sobre a gestão que herdará após ter sido eleito em 30 de outubro.
Policiais federais da equipe de segurança do petista foram surpreendidos com a chegada de cerca de 40 agentes do GSI ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) na segunda-feira (7), quando era montada a estrutura no espaço destinado aos integrantes do governo de transição. Questionados, os homens do GSI afirmaram que estavam ali para ajudar no esquema de proteção. Carregando laptops, eles ofereciam também conexão à internet.
Os responsáveis pela segurança de Lula conversaram com os agentes do GSI e informaram que não seria necessária a permanência deles, especialmente nas áreas em que o presidente eleito frequentará. Dessa forma, os servidores designados pelo general Heleno foram embora. O oficial é um dos ministros mais próximos de Jair Bolsonaro (PL), outro militar da reserva. Heleno, inclusive, sempre fez duras críticas a Lula. Nesta semana, chegou a lamentar que o petista não estava doente, ao contrário de boatos espalhados por bolsonaristas.
As informações sobre a ida de integrantes do GSI ao CCBB sem serem convidados foram reveladas pela GloboNews e confirmadas à equipe do O TEMPO em Brasília por seguranças da equipe de Lula. Eles ressaltaram que, por lei, o GSI não participa da segurança do presidente eleito. O órgão só atuará na gestão petista após a posse de Lula, em 1º de janeiro, com um novo chefe, escolhido por ele.
O presidente eleito visita nesta quinta, pela primeira vez, o local onde a equipe de transição de governo está trabalhando. O petista chegou ao CCBB pouco depois das 10h.
Além de conhecer a estrutura do gabinete de transição, montado no complexo destinado à formação de servidores do Banco do Brasil e a eventos culturais, Lula fará reuniões com integrantes da equipe de transição, além de parlamentares das bancadas aliadas.
Entre outros, devem ir ao encontro de Lula no CCBB a senadora Simone Tebet (MDB), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o senador Marcelo Castro (MBD-PI), relator-geral do Orçamento de 2023.
Além dos partidos da coligação (PSB, PCdoB, PV, PSOL, Rede, Solidariedade, Avante e Agir), até agora estão confirmados no conselho político da transição representantes do PSD e do MDB.
Lula desembarcou em Brasília na quarta (9), pela primeira vez após a vitória nas urnas em 30 de outubro. Pela manhã, esteve com Pacheco e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) – liderança do Centrão que comandou a base de apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL), derrotado por Lula. À tarde, o presidente foi ao Supremo Tribunal (STF) e se reuniu com todos os ministros da Corte.
Após o encontro na Suprema Corte, Lula deu uma entrevista coletiva. Ele afirmou acreditar na aprovação pelo Congresso Nacional da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que será apresentada ainda durante o governo de transição para garantir a execução de serviços considerados essenciais pelo futuro governo. De acordo com o petista, não se trata de um projeto partidário referente a ele ou ao vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB).
O petista declarou que sentiu “muita disposição” ao conversar sobre o assunto com Lira e Pacheco. Segundo ele, Alckmin, que coordena a equipe faz a transição de governo, ainda vai discutir com os presidentes da Câmara e do Senado as intenções e o cronograma da PEC.
A PEC da Transição é necessária para o futuro governo de Lula cumprir promessas de campanha, inclusive a manutenção de serviços como o pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600 mensais e o extra de R$ 150 a crianças de até seis anos. Com foco na área social, a medida deve propor a retirada da regra do teto de gastos de medidas consideradas essenciais. O texto deve ser apresentado ainda nesta semana.
Ainda sem o valor estimado que precisará abrir no orçamento de 2023, Lula criticou quem já discursa contra a PEC. “Muitas coisas que as pessoas falam que é gasto, eu acho que é investimento. A saúde é investimento, porque investir em uma pessoa para ela não ficar doente é investimento. Farmácia popular é investimento para cuidar da vida das pessoas. Investir na educação não é gasto, é investimento. Nós precisamos mudar algumas nomenclaturas porque tudo o que a gente quer fazer é gasto, é gasto, é gasto”, reclamou.