Lula criará grupo para aconselhá-lo na economia

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Foto: Maria Isabel Oliveira/Agência O Globo

À medida que o nome de Fernando Haddad se fortalece para o Ministério da Fazenda, amadurece também a ideia de um conselho econômico ligado diretamente ao presidente da República. É a primeira vez, desde o segundo turno, que Haddad vai a Brasília. Ao levá-lo, assim como o fez na ida à COP27 e a Portugal, Lula sinalizou que escolha está para ser sacramentada.

Inspirado no “Council of Economic Advisers”, da Casa Branca, este conselho também teria o objetivo de analisar os desdobramentos da política econômica e recomendar rumos ao governo, mas num formato distinto. Enquanto o conselho americano, criado em 1946, funciona como uma espécie de agência governamental, com três integrantes escolhidos pelo presidente e aprovados pelo Senado para função de assessoramento, o conselho de Lula seria consultivo, o que não exigiria dedicação integral à tarefa.

Atualmente, a chefe do conselho americano é a economista Cecilia Elena Rouse, professora da Universidade de Princeton e primeira negra a ocupar o cargo que já foi de Janet Yellen, hoje secretária do Tesouro americano, e Joseph Stiglitz ex-economista-chefe do Banco Mundial.

Entre os nomes que poderiam vir a ser convidados para o conselho de Lula estão os dos economistas Pedro Malan, José Roberto Affonso e

Persio Arida, mas a ideia inicial era de que este colegiado tivesse meia dúzia de integrantes.

Lula teve um conselho econômico em seu governo, mas tinha um funcionamento informal. Abrigava dois nomes de fora do governo, os economistas Delfim Netto e Luiz Gonzaga Belluzzo, além do ex-ministro Guido Mantega e do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. Este grupo se reunia semanal ou quinzenalmente com o presidente, mas também contava com a presença esporádica de outros economistas como o professor da FGV Yoshiaki Nakano.

Além de aplacar a pressão do mercado sobre a eventual composição da equipe de Haddad, a presença de nomes mais liberais no Conselho também responderia à decisão de Lula de não delegar inteiramente a interlocução com o setor financeiro ao ministro da Fazenda, como o fez em seu primeiro governo com Antonio Palocci.

Além daquele planejado para a Presidência da República, um outro conselho consultivo pode ser criado na Fazenda com o objetivo de analisar a implementação de políticas e sugerir correção de rumos. É neste colegiado em que perfis mais liberais na condução da política econômica também poderiam ser abrigados.

A ideia inicial é de que a equipe econômica convide novos economistas de reputação acadêmica, como Tiago Cavalcanti, professor na Universidade de Cambridge e na FGV e que os quadros de carreira das autarquias sejam aproveitados para os cargos de direção.

Se a fala de Haddad na Febraban causou nervosismo no mercado por não ter sido mais explícita nos compromissos fiscais a serem assumidos, não afetou a disposição de Lula para indicá-lo. O ex-prefeito de São Paulo foi chamado pelo presidente eleito à sua casa no domingo à noite depois que o senador Jacques Wagner (PT-BA) e a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR) passaram por lá. Se a ida à Febraban foi o teste de Haddad no mercado, sua presença nas articulações para a solução fiscal do governo cumprirá a mesma função na política.

Valor Econômico