Lula irrita banqueiros falando em gastar no social

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Foto: Cristiano Mariz/O Globo

A Faria Lima foi dormir ontem de mau humor com Lula. A causa mais evidente foi a entrevista coletiva dada por Lula no início da noite, em Brasília. Nela, entre outras coisas, diz o seguinte:

— Nós não podemos ficar chorando: ‘ah, vai gastar’. Eu quero dizer o seguinte: muita coisa que as pessoas falam que é gasto eu acho que é investimento. A saúde é investimento, investimento numa pessoa pra ela não ficar doente. Farmácia popular é investimento pra cuidar da vida das pessoas. Investir na educação não é gasto, é investimento. Então, você precisa mudar algumas nomenclaturas, porque tudo que a gente quer fazer é gasto, é gasto, é gasto. Pra quê? Pra guardar dinheiro pra pagar juros aos banqueiros? Não. Nós precisamos ter uma divida social, tem uma divida social histórica de 500 anos com o povo pobre e nós, como já fizemos uma vez, vamos começar a atacá-la.

Não é um discurso novo de Lula. Em dezenas de declarações, o ex e futuro presidente repetiu o que disse ontem. Claro que, dependendo da plateia, ressaltava que fará tudo isso com responsabilidade fiscal — e dava ênfase à sua capacidade de ser criterioso com os gastos conforme a campanha avançava e precisava agradar a outros segmentos… como a Faria Lima.

O trecho de sua entrevista reproduzido acima foi recortado e o vídeo circulou até não poder mais entre os grupos de WhastApp de executivos do mercado financeiro.

Os comentários eram sempre em tom de preocupação, decepção e ironia. Um deles: “Dormimos com Geraldo (Alckmin) e acordamos com Aloizio (Mercadante)”. Outro, desta vez em relação ao mistério sobre o novo ministro da Fazenda: “Estão fazendo o orçamento da empresa, sem diretor financeiro nomeado”.

O horror do mercado financeiro tem nome e sobrenome: a previsão de um gasto extra-teto de R$ 700 bilhões (ao longo de quatro anos) para o Bolsa Família que consta na PEC da Transição.

Luis Stuhlberger, da Verde Asset, por exemplo, escreveu aos seus investidores dias atrás que “a tal ‘PEC da Transição’ está se tornando (mais um) trem da alegria de crescimento dos gastos descontrolado, e a mídia já fala de mais de duzentos bilhões de gastos, algo completamente descabido, para falar o mínimo. Essa espécie de ‘la garantia soy yo’ periga ter vida bastante curta se não for seguida de decisões e comportamentos que a corroborem”.

No entorno de Lula, há um consenso de que Lula não se elegeu “para fazer as vontades dos bancos”, na definição de um deles. E “vai não vai deixar os programas sociais à míngua”. como diz outro assessor do presidente.

O Globo