MDB estuda apoiar governo Lula

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Foto: Luiz Felipe Barbiéri / g1

O presidente do MDB, Baleia Rossi, afirmou que irá consultar lideranças do partido para saber se a sigla integrará o governo de transição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo ele, uma definição deverá ocorrer até esta quarta-feira.

— Começamos um diálogo sobre a questão da transição e a possível participação do MDB para que possa colaborar principalmente com assuntos que sejam relevantes e desafiadores no próximo governo — afirmou Baleia, após reunião com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Ele acrescentou: — É uma decisão que não vou tomar sozinho. O MDB tem muitos líderes, vou conversar com cada um deles. Mas posso adiantar que vejo no partido um espírito colaborativo.

O GLOBO apurou que a participação do MDB na equipe de transição de Lula é dada como certa, mas ainda falta discutir os nomes que devem fazer do grupo. Um deles será o da senadora Simone Tebet (MDB-MS), que vai liderar a área social.

Gleisi esteve na Câmara nesta terça-feira para convidar formalmente o MDB a participar do governo de transição indicando um nome para compor o conselho político.

— Vim aqui fazer um convite formal para que o MDB integre conosco o processo de transição. Nós achamos muito importante ter os partidos formalmente nesse processo — afirmou Gleisi.

Segundo a deputada, já há definição de nomes de dez partidos que apoiaram o partido no primeiro ou segundo turno, incluindo o PDT. Pouco após a reunião com Baleia, Gleisi anunciou também a participação do PSD no grupo. O deputado Antonio Brito (BA) foi o indicado da sigla para compor o conselho político da transição. Agora a expectativa é pela indicação do MDB.

Durante o segundo turno, o MDB optou por ficar neutro na disputa presidencial. A medida foi adotada para liberar os filiados a fazerem campanha para Lula ou Jair Bolsonaro.

Já a candidata do partido à presidência, Simone Tebet, que acabou a corrida no terceiro lugar, decidiu apoiar o petista e foi peça importante para consolidar a vitória de Lula no segundo turno.

Tebet emplacou temas para serem tratados na campanha de Lula, em que teve participação ativa, e está cotada para assumir um ministério no novo governo.

O MDB elegeu 42 deputados e terá a quinta maior bancada na Câmara a partir do ano que vem. A cúpula do partido, no entanto, aguarda uma série de sinalizações de Lula antes de bater o martelo sobre adesão à base aliada.

Uma delas é se o governo eleito irá apoiar a reeleição de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, no ano que vem. O partido gostaria de lançar um candidato próprio na disputa e derrotar Lira. Além disso, também é esperado que, em troca do apoio no Congresso, o MDB ganhe espaços na Esplanada dos Ministérios.

O líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL), diz que não há entraves para que o MDB faça parte da base, mas que o presidente Lula ainda não falou com clareza sobre a “participação de cada partido” no governo.

— Estamos em um momento embrionário de formação da base do governo, e cabe ao presidente eleito definir como será montada a base dele.

Além da discussão sobre a participação do MDB na transição, Gleisi disse que conversou com Baleia sobre as manifestações antidemocráticas que estão ocorrendo pelo país após a derrota de Jair Bolsonaro nas urnas. Ela cobrou vigilância das autoridades para dar uma resposta clara aos protestos que classificou de golpistas.

— Tivemos uma eleição que teve um vitorioso. O perdedor tem direito de espernear e fazer oposição, mas não tem direito de chamar para um golpe, de querer fazer é uma uma desestabilização do país — afirmou.

Para a deputada, não pode ser considerado normal a quantidade de pessoas em frente a quartéis elevando o tom e pedindo intervenção militar, bem como os pontos de bloqueio em estradas, que foram sendo desmobilizados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) ao longo da semana.

— As instituições têm que olhar de maneira firme para isso, não deixar esse movimento se alastrar e a gente ter uma resposta política à altura — afirmou, dizendo que conversará sobre o tema com outras lideranças políticas.

Questionado sobre qual será a participação do MDB durante as tratativas para avanço da proposta de emenda à Constituição (PEC) da Transição, Baleia Rossi disse que ainda quer ter acesso ao texto e definições sobre como a medida tramitará, o que depende de Lula.

— Entendo que todos nós temos que trabalhar para que haja o comprimento de compromissos de campanha, dos R$ 600 do Bolsa Família, do aumento real do salário mínimo e de outras questões que são relevantes e geram uma expectativa muito grande por parte da população. Acredito que o MDB irá colaborar dentro daquilo que o governo entender que vai ser o caminho a ser adotado — afirmou.

Gleisi também foi questionada sobre assuntos como revisão da reforma trabalhista, reforma tributária e privatizações de estatais, que foram abordados durante a campanha do PT. Ela disse que são temas relevantes, mas que não estão no escopo do governo de transição, que busca mapear outros pontos mais emergenciais para o início do novo governo.

— Durante a campanha, o presidente Lula deixou claro que tem vontade de fazer uma discussão sobre revisão de pontos. É óbvio que pela postura do presidente, sempre muito democrática, ele vai chamar todos os interessados para fazer uma discussão dessa magnitude, jamais vai tomar uma posição sozinho — afirmou.

Entre os pontos, ela destacou a PEC 45, que também traz a discussão da reforma tributária e tramitou na Câmara dos Deputados, em projeto apresentado por Baleia Rossi, e defendido pelo então presidente da Casa, Rodrigo Maia. Esse texto foi elaborado a partir de sugestões do economista Bernard Appy, que também é cotado para integrar o governo Lula.

O Globo