Morte de Isabel suspende esporte na Transição momentaneamente

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Foto: Mauro Pimentel -5.ago.2016/Folhapress

O prefeito de Araraquara, Edinho Silva, cancelou a reunião que faria na quinta (17) com integrantes da equipe de transição do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele coordena o grupo do esporte, que tinha entre seus integrantes a jogadora de vôlei Isabel Salgado, a Isabel do Vôlei.

Edinho já comunicou ao presidente Lula a morte da ex-jogadora, que foi acometida pela Síndrome Aguda Respiratória do Adulto (SARA).

Ele afirma que a notícia “é chocante” e que conversou com ela na semana passada para convidá-la a fazer parte do grupo.

“Telefonei para a Isabel na semana passada. Ela acordava muito cedo e nós conversamos logo pela manhã, por mais de 40 minutos. Ela estava muito feliz, querendo participar”, afirma o prefeito.

“Ela me disse: ‘Edinho, eu não quero discutir o esporte de alto rendimento, o esporte de competição. Já tem muita gente discutindo isso no Brasil. O que eu quero é discutir o esporte como um instrumento de inclusão social'”, relembra o coordenador de Lula.

“Ela então passou a me relatar o trabalho social que faz em comunidades do Rio de janeiro. Contou como o esporte pode mudar a vida das pessoas, por meio da inclusão. Ela falou muito disso e era isso que queria debater na transição”, segue ele.

O petista afirma ainda que disse a Isabel como ela sempre foi uma referência para “a geração que acreditou no esporte”.

“Ela sempre foi autêntica, tinha opiniões firmes. Foi a primeira mulher a jogar vôlei grávida [entre as profissionais]. E aliava tudo isso ao fato de ser uma tremenda atleta”, diz ainda Edinho Silva.

Depois, em nota, ele afirmou que Isabel foi uma “mulher além do seu tempo”, que inspirou um país e inspirou “meninas que lutavam contra o machismo no esporte na década de 1980”.

Leia, abaixo, a íntegra do comunicado de Edinho Silva.

“Isabel, uma mulher além do seu tempo

Foi com imensa tristeza que recebi a notícia do falecimento da querida Isabel, Isabel Salgado, a Isabel do vôlei. A Isabel que inspirou a minha geração, que inspirou um país, que inspirou meninas que lutavam contra o machismo no esporte na década de 80. A Isabel que foi referência para quem tinha no esporte ‘uma porta para a vida’.

A Isabel de fala forte, de opiniões firmes, que tinha na sua autenticidade o instrumento para o questionamento, que não aceitava o que era dado, o que estava posto, o convencional. A Isabel que rompeu tabus, que como atleta encantava com suas subidas na rede, com seus ataques memoráveis, e como ela desequilibrava uma partida, seja com as cores do Flamengo ou jogando pela seleção brasileira.

A Isabel que abriu as portas para que as mulheres brasileiras fossem vistas pelo voleibol mundial. A Isabel que fez história conciliando a maternidade e sua carreira. Que chocou o machismo quando grávida não se afastou das quadras e ostentava a barriga nos jogos como símbolo do poder que só a mulher tem, o poder de gerar vidas. Com naturalidade e irreverência, fez debater a mulher no esporte. A Isabel que também fez história dando visibilidade ao vôlei de praia. Isabel comprometida com projetos sociais.

Na última semana, na quinta-feira [10], eu falei longamente com a Isabel, sendo o portador do convite que o presidente Lula fez a ela para que integrasse a equipe de transição na área do Esporte. Falamos longamente. Pude falar a ela sobre toda a minha admiração. Eu, nos anos 1980, um menino do interior de São Paulo, corria para ver suas entrevistas na TV. Não tinha noção das minhas convicções, das ideias que iriam me moldar nos anos seguintes, mas aquela estrela do vôlei quando falava me encantava. Sua firmeza me encantava, sua irreverência me inspirava. Eu que sempre respirei esporte, que não elaborava sobre o tema, mas tinha no esporte, no futebol, a crença que as coisas podiam ser diferentes na vida, tinha na Isabel literalmente um farol que iluminava um caminho.

Que bom que Deus me deu a oportunidade de dizer tudo isso a ela. Que bom que pude ouvir sobre sua crença no esporte como instrumento para a transformação social, o quanto que ela queria um programa de esporte para a educação, para a construção da cidadania.

Isabel, seus sonhos serão para sempre a nossa inspiração. Vamos trabalhar para que o governo do presidente Lula materialize suas convicções. Em cada criança, em cada adolescente e jovem que estiver ‘abrindo as portas da vida’ por meio do esporte, lá estará você, forte, altiva, de voz estridente, fazendo abrir os ouvidos dos incrédulos, dos machistas, dos autoritários e excludentes.

Você nunca nos deixará. Os sonhos não morrem. As líderes espalham sementes. Por você o esporte parirá outros e outras que serão ‘Isabeis’ pelo Brasil afora. Sua força para sempre nos moverá.

Minhas mais sinceras condolências aos familiares e amigos neste momento difícil. Fica a admiração e o respeito de alguém que acredita no esporte como força da transformação inspirado em Sócrates, Casão e outros, mas, também na moça que destruía defesas opostas e, do seu jeito, destruía valores autoritários e machistas, quando poucas e poucos tinham tanta coragem.

Isabel, uma mulher muito além do seu tempo.”

Folha