Parte dos votos de Lula veio de Tebet

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Foto: Nelson Almeida/AFP

Nas últimas semanas de campanha, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) escalou sua nova aliada, Simone Tebet (MDB), para uma missão nada simples: transferir pelo menos parte dos seus votos para o petista. Uma análise feita pelo GLOBO com base nos resultados do segundo turno mostra que o impacto dessa aliança pode ter sido decisivo para o petista construir parte da vantagem que lhe deu a vitória no segundo turno. O levantamento demonstra que em 243 municípios em que Tebet teve votação acima da sua média, também houve a formação de “bolhas pró-Lula” entre o primeiro e o segundo turno.

Ao todo, esses municípios renderam ao petista quase 1 milhão de votos a mais do que teve no 1º turno, um terço do seu crescimento do primeiro para o segundo turno. Lula foi eleito no domingo com 60,3 milhões de votos, pouco mais de 2 milhões do que seu adversário, o presidente Jair Bolsonaro, que teve 58,2 milhões.

Boa parte das áreas em que Lula mais cresceu e que concentravam aglomerações de votos de Tebet estão no Sudeste, formando um corredor que vai da Região Metropolitana de São Paulo até o sul de Minas Gerais. A análise feita pelo GLOBO leva em conta a formação de “aglomeração” de votos, ou seja, quando não apenas uma cidade isolada teve um crescimento acima da média para Lula, mas também se seus municípios vizinhos repetiram esse comportamento.

Ao todo, 959 municípios do Brasil formaram aglomerações em que Lula teve um crescimento acima da média, ou seja, ele conquistou mais votos do primeiro para o segundo turno do que nas demais cidades do país. Essas bolhas pró-Lula estão em diversas regiões no Brasil, do Amazonas a São Paulo, mas um estado em particular, o Ceará, foi onde isso ocorreu com mais intensidade. A explicação de analistas é que esses votos a mais foram consequência da saída de Ciro Gomes do páreo. Sobral, a terra natal do ex-presidenciável do PDT, por exemplo, foi a cidade onde o presidente eleito teve o maior crescimento do primeiro para o segundo turno, 13 pontos percentuais.

Enquanto ganhou votos nessas bolhas “pró-Tebet”, Lula teve um desempenho pior do que no primeiro turno em outros 629 municípios, ou seja, perdeu votos. Em Grupiara (MG), por exemplo, o petista teve 6,8 pontos percentuais a menos no segundo turno do que no primeiro. Em impacto absoluto, a cidade onde o presidente eleito mais perdeu votos foi Manacapuru, no Amazonas: lá, o petista teve 2.146 votos a menos (diferentemente do resto do país, onde a abstenção caiu, em Manacapuru ela cresceu 4 pontos percentuais, o que explica, em parte, esse fenômeno).

A perda de votos nesses municípios foi compensada com um crescimento acima da sua média principalmente nas grandes cidades. Em média, Lula teve um crescimento de 1,5 pontos em todos os municípios brasileiros. Em São Paulo, onde Lula já havia vencido o primeiro turno, o ex-presidente teve 401 mil votos a mais do que teve no primeiro turno, o equivalente a um crescimento de 5 pontos percentuais. A capital foi a quarta cidade no estado onde Lula mais cresceu percentualmente, junto de outras cidades da região metropolitana, como São Caetano do Sul (2º maior crescimento), Santos, São Carlos e Santo André.

Já em Minas Gerais, esse crescimento formou um verdadeiro corredor que vai desde o Vale do Jequitinhonha, na divisa com a Bahia, até o sul do estado, que reúne cidades com Juiz de Fora. Essa última região, segunda a análise feita pelo GLOBO, também foi uma aglomeração de votos de Tebet no primeiro turno. No Rio, Lula cresceu 4 pontos percentuais em Niterói, cidade que Tebet visitou no 2º turno – a cidade foi onde Lula mais avançou em votos totais do primeiro para o segundo turno no estado.

O mesmo fenômeno de possível transferência de votos de Tebet para Lula também aconteceu em outras duas regiões opostas no Brasil: a divisa entre o Amapá e o Pará, no extremo norte, e em um grupo de cidades no extremo sul do país, no Rio Grande do Sul.

O Globo