Risco de prisão domestica Bolsonaro

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Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Uma velha raposa da política, que pensava já ter visto tudo, mas que não perdeu a capacidade de se surpreender, sugere aos murmúrios no Congresso que Bolsonaro providencie um evento para que Michelle, a primeira-dama, reapareça ao seu lado.

A essa altura, só faltava ser verdade que os dois romperam relações, seja temporariamente, seja para valer, como insinuam línguas pérfidas que conhecem bem o casal. O momento seria especialmente péssimo para Bolsonaro, um homem arrasado.

Duplamente arrasado. Primeiro, porque perdeu e não se conforma. Segundo, porque está com medo de ser preso depois que perder a imunidade. Quando isso acontecer, os processos a que responde em tribunais superiores cairão para a primeira instância.

Então, ele ficará sujeito a decisões de juízes em busca de notoriedade ou interessados em fazer justiça. Assim ganhou fama Sergio Moro, eleito senador, que prendeu e condenou Lula. E Marcelo Bretas aumentou a sua ao mandar prender Michel Temer.

É por isso que vencido o estupor das primeiras 45 horas, aconselhado por amigos e assessores, Bolsonaro começou a berrar como um cordeirinho. Por duas vezes, pediu aos baderneiros que parassem a baderna, tirando o seu da reta e deixando só o deles.

E ao dar ouvidos ao cardeal de Brasília, finalmente acenou para Lula reunindo-se com Geraldo Alckmin, o vice-presidente eleito e chefe da equipe de transição do novo governo. A Alckmin, em breve conversa, disse ainda não estar preparado para receber Lula.

No futuro, quem sabe? Bolsonaro deixou a porta aberta, embora planeje sair pelas portas do fundo do Palácio do Planalto para não passar a Lula a faixa presidencial. Só não quer é mais encrencas com a Justiça, ele pretende preservar os filhos de constrangimentos e ir pescar.

Amarga sozinho o embaraço de ser abandonado pelos antigos aliados mais rapidamente do que supunha. Está aberta a temporada de adesão em massa ao futuro governo; e sob a bênção dos pastores evangélicos que antes oravam por Bolsonaro.

O bispo Edir Macedo, dono da Igreja Universal, da Rede Record de Televisão, do Partido Republicanos e de outros negócios lucrativos, anunciou da Suíça, onde se encontrava em retiro espiritual:

“Eu orei, ‘ó, Deus, quero que Bolsonaro ganhe’. Mas seja feita Vossa vontade, sobretudo, porque o Senhor é quem manda. Então, o que é que eu vou fazer agora? Tocar a vida para frente”.

O pastor que garante uma vaga no céu à ovelha que lhe entregue suas economias perdeu muito dinheiro em Angola, onde tinha investimentos. Suplicou ajuda a Bolsonaro, que, como nunca visitou Angola, não o ajudou. Quem sabe Lula não o ajudará?

O PP de Arthur Lira e de Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil de Bolsonaro, já negocia com Lula. Lira quer mais dois anos como presidente da Câmara, o PP quer cargos, e Nogueira finge que não quer nada. O entendimento avança.

De repente, o União-Brasil do deputado Luciano Bivar descobriu que “tem uma dívida com a esquerda”. Que dívida? Segredo. O PSD de Gilberto Kassab, que não é de direita, nem de esquerda, nem de centro, governará com Lula, é só eles se afinarem.

Sem maioria no Congresso, Lula não fará o que pretende. E não é só aprovar os projetos do governo, mas isolar a extrema direita, que não deixará de existir mesmo que Bolsonaro se apague. Portanto, vamos à dança. O imbrochável brochou e recolheu-se.

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