Haddad se movimenta para montar equipe

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Foto: Joseph Eid/AFP

Fernando Haddad vai aproveitar os dias logo após a sua indicação para o Ministério da Fazenda, que ocorre nesta sexta-feira, para tomar duas providências principais.

A primeira é formar o secretariado, o que ele começa a fazer já neste final de semana.

A segunda é colocar em prática uma estratégia destinada a reduzir as resistências do mercado financeiro e dos agentes econômicos à sua escolha para o ministério.

A ideia do futuro titular da economia é dar o quanto antes sinais públicos de que pretende ser um ministro da Fazenda fiscalmente responsável e que não é o “gastador” que a Faria Lima imagina ser.

Que sinal será esse, ele ainda não revelou nem aos mais próximos.

Segundo um de seus interlocutores mais frequentes, mais do que agradar ao mercado financeiro, Haddad quer deixar claro que sabe que terá que tentar equilibrar as contas públicas.

Hoje, a projeção dos agentes econômicos compiladas pelo Banco Central na pesquisa Focus é de que o déficit público seja de 0,8% do PIB em 2023. Haddad não deve anunciar uma meta logo de cara, mas dirá que vai procurar reduzir o déficit.

O novo ministro de Lula não se conformou com a reação do mercado financeiro após seu discurso no almoço da Federação Brasileira de Bancos, a Febraban, no final de novembro.

Na ocasião, ele já era o mais cotado para assumir o comando da economia, mas ainda se dizia que não havia nada garantido. Foi ao almoço representando Lula, e disse que a prioridade do governo Lula seria fazer uma reforma tributária, sem dar muitos detalhes e nem mencionar a questão dos gastos públicos. Depois disso, o dólar subiu 1,89% e a bolsa caiu 2,55%.

Nos dias seguintes, em conversas com pessoas com quem tem diálogo no mercado, Haddad se queixou do que considerou um exagero da Faria Lima, e disse que não podia ter falado muito mais, já que não tinha cargo nenhum, nem na equipe de transição.

Em resposta, ouviu que a administração da economia também depende do manejo das expectativas, algo que agora ele também terá que se acostumar a fazer.

Uma das expectativas mais sensíveis no meio econômico diz respeito à licença para gastar que Lula busca com a PEC da Transição, que segundo a formulação aprovada no Senado autoriza o novo governo a gastar R$ 145 bilhões em 2023 e 2024, que tem causado muita apreensão no mercado. A emenda ainda pode ser alterada na Câmara dos Deputados.

Estimativas divulgadas nesta semana pelos principais bancos de investimento são de que o gasto extra poderá chegar a R$ 200 bilhões, devido às brechas previstas no texto da PEC – o que elevaria o déficit primário para quase 2% do PIB.

Por isso, especialmente nesse começo, se quiser ganhar algum crédito com o mercado, Haddad terá que arranjar um jeito de mostrar que vai conseguir lidar com o conflito entre a autorização para gastar mais e a necessidade de equilibrar as contas públicas.

Uma das formas de passar uma mensagem positiva pode ser a indicação do secretariado, que o futuro ministro já tem na cabeça, mas tem procurado manter em segredo. Embora não tenha feito nenhum convite formal, Haddad conversou com vários economistas nos últimos dias.

Quem o conhece bem aposta que estará com ele na Esplanada dos Ministérios o economista Bernard Appy, que foi secretário de Antônio Palocci. Outro que ele gostaria de ter na equipe é o Marco Bonomo, do Insper, que já foi economista da campanha de Marina Silva em 2018.

O ex-secretário de Fazenda de Haddad na prefeitura de São Paulo, Marcos Cruz, também tem sido cotado para compor a equipe, mas já indicou que não pretende abandonar a carreira no setor privado. Por ora são apenas apostas. Nos próximos dias, o próprio Haddad vai dizer se as confirma ou não.

O Globo