Kassab fará PP aprovar Pacheco
Foto: Ana Paula Paiva/Valor
Em uma articulação para manter Rodrigo Pacheco (PSD-MG) à frente do Senado por mais dois anos, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, se antecipou às movimentações dos demais partidos e foi o primeiro dirigente a endossar a permanência de Arthur Lira (PP-AL) no comando da Câmara.
Com o movimento, Kassab procurou desestimular o PP, legenda do deputado alagoano, da ofensiva de outras siglas que pretendem apresentar um nome para disputar a principal cadeira da Mesa Diretora do Senado, entre elas, o PL, que articula o nome do senador eleito Rogério Marinho (RN).
Fontes ouvidas pelo Valor avaliaram que a iniciativa de Kassab foi determinante para que, dois meses antes das eleições para os postos de comando do Poder Legislativo, tanto Lira quanto Pacheco sustentem posição de favoritismo em relação a eventuais adversários.
A leitura feita por interlocutores de Kassab é que o embarque do PSD na base de apoio à reeleição de Lira quebrou qualquer possibilidade de nomes e partidos que apoiaram a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apresentarem um nome alternativo ao comando da Câmara.
O alinhamento do deputado alagoano ao presidente Jair Bolsonaro (PL) ao longo do mandato e durante a campanha eleitoral teria potencial de sustentar uma candidatura paralela, mas a aproximação de Kassab com a postulação do deputado do PP colaborou para que outras siglas, como MDB e até mesmo o PT, resolvessem aderir ao grupo de partidos que apoiam a recondução de Lira.
Como contrapartida, o dirigente do PSD recebeu a sinalização de que o PP entregará votos dos seus senadores a Pacheco, que mira a permanência na presidência do Senado até fevereiro de 2025.
Segundo apurou o Valor, até mesmo parlamentares do PL, que lançará Marinho nesta quarta-feira, estão dispostos a apoiar a recondução do senador mineiro.
A investida de Kassab em relação a Lira ocorreu dias após o segundo turno das eleições.
Aliados teriam alertado o dirigente do PSD que o PL, em reação à derrota de Bolsonaro nas urnas, teria no radar a possibilidade de lançar um nome para concorrer com Pacheco em fevereiro de 2023.
O objetivo do partido de Valdemar da Costa Neto seria evitar o triunfo do atual presidente do Senado e do PSD, muito mais distantes de Bolsonaro que Lira. Em todo o tempo que exerceu a presidência da Casa, Pacheco freou iniciativas de impeachment contra ministros do Supremo.
Dias após os primeiros contatos entre Lira e Kassab, Valdemar aproveitou uma coletiva de imprensa para enviar um recado ao deputado do PP. Apesar de acenar positivamente para a recondução do alagoano à presidência da Câmara, o presidente do PL indicou que o movimento só ocorreria caso o PP aderisse ao postulante que o partido apresentaria para concorrer com Pacheco.
Classificada como “chantagem” por nomes alinhados com Lira, a iniciativa de Valdemar fez com que o presidente da Câmara acelerasse sua ofensiva para garantir que partidos de centro e de esquerda antecipassem os anúncios a favor de sua permanência no comando da Câmara.
Formalmente, Lira já conta com o apoio de PP, Republicanos, União Brasil, PDT, Podemos, PSC, Patriota, Solidariedade, Pros, PTB, PT, PSB, PCdoB e PV.
Apesar de acenos nos bastidores, o PSD e o PL, que querem o apoio de Lira na corrida ao comando do Senado, ainda não oficializaram o embarque na candidatura do alagoano.
Parlamentares próximos de Lira destacam que o cenário de ampla adesão o deixa “completamente confortável” para não se indispor com nenhum dos dois partidos que pleiteiam a principal cadeira do Senado.
Apesar disso, a expectativa é que os senadores do PP depositem mais votos a favor de Pacheco, já que há o entendimento é de que o PSD pode ser visto como “um fiel da balança para a adesão em massa ao nome de Lira nas últimas semanas”.