Lula critica falta de cuidado com os mais pobres entre os pobres

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Foto: Agência O Globo/ Maria Isabel Oliveira

Em encontro com catadores de materiais recicláveis em São Paulo nesta quinta-feira, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva criticou a falta de amparo social à categoria e afirmou que as autoridades não priorizam cuidados com a população mais pobre quando se atêm a estatísticas, política fiscal e orçamento.

Lula prometeu um encontro com pessoas em situação de rua em São Paulo quando já estiver empossado e defende trazer “todo o governo” para ver de perto a situação da população vulnerável na cidade. Ele disse ter ficado surpreso com a situação na capital paulista ao passar em frente à cracolândia.

— A gente não cuida do pobre se a gente ficar olhando dados estatísticos, se a gente ficar olhando política fiscal do governo, se a gente ficar olhando o orçamento da Prefeitura. Sempre haverá prioridades mais importantes que os pobres — declarou.

O presidente eleito afirmou que governar o país requer ir até as categorias que não têm condições socioeconômicas e articulações políticas que as levem até Brasília. Prometeu tentar encontrar uma “solução definitiva” para a situação da população sem-teto.

Ele também defendeu que o governo federal passe a fazer um censo da população sem-teto pelo país para compreender os razões que as levaram à rua. E pediu às lideranças que “preparem uma pauta de reivindicações” para a categoria para lhe entregar da próxima vez que se encontrarem.

Marcaram presença no evento o ex-prefeito Fernando Haddad, anunciado como próximo ministro da Fazenda, a futura primeira-dama, Janja, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e outras personalidades de esquerda. O padre Júlio Lancelotti, conhecido por seu ativismo junto à população de rua, Marco Aurélio Garcia, do grupo Prerrogativas, Douglas Belchior, Eduardo Suplicy, Marta Suplicy, o professor e advogado Silvio Almeida e o deputado estadual Emídio de Souza também estavam lá.

Na saída do evento, Gleisi foi questionada sobre a mudança na Lei das Estatais e criticou a legislação criada em 2016 durante o governo de Michel Temer. Ela afirmou que as empresas estatais precisam de governança e quadros qualificados, mas que, do jeito que a lei foi feita, criminaliza a política e o movimento sindical.

— E eu pergunto: o mercado não tem quarentena para entrar numa estatal? Eu acho isso muito errado. Mas nós não pedimos para votar a lei. A indicação do Mercadante não dependia dessa lei, porque ele não estava enquadrado na Lei das Estatais — declarou ela.

A Lei das Estatais vedava a nomeação de políticos que tivessem sido candidatos nos últimos três anos. O novo texto, modificado a toque de caixa de toque pela Câmara dos Deputados na terça-feira e que ainda precisa passar pelo Senado, reduz a quarentena para apenas 30 dias.

O petista participou do Natal dos Catadores, uma tradição de fim de ano que mantém desde 2003, o primeiro ano de seu governo. Desde então, com exceção do Natal em que passou preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, em 2018, e dos dois primeiros anos de pandemia, Lula marca presença no evento.

O ato foi realizado no Armazém do Campo, loja de produtos agroecológicos, orgânicos e da agricultura familiar administrada pelo MST. O estabelecimento fica no bairro de Santa Cecília, na região central de São Paulo.

Antes de subir ao palco, Lula visitou a Expo Catadores, uma feira de reciclagem, educação ambiental e cooperativismo solidário organizada pela categoria. Ele ouviu dos ativistas pedidos por uma Secretaria Especial da Reciclagem vinculada ao Ministério do Meio Ambiente e a revogação do decreto que criou o Recicla+ durante o governo Bolsonaro.

Do palco, Lancelotti criticou o veto do presidente Jair Bolsonaro ao projeto que criminaliza a arquitetura hostil, obras implementadas nas cidades para afastar pessoas em situação de rua. Também pediu maior atenção à população de rua e programas sociais.

O Globo