Lula é pressionado a dar cargos a evangélicos

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Foto: Edilson Dantas / O Globo

Após uma vitória apertada nas urnas em outubro, aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm defendido que o petista coloque evangélicos para compor sua equipe de ministros e inclua as pautas desse segmento religioso na sua política de governo.

A avaliação desse grupo, que inclui parlamentares e representantes da sociedade civil, é a de que não dá pra ignorar um segmento do eleitorado que deu ampla vantagem ao presidente Jair Bolsonaro na campanha deste ano – e seguirá sendo influente nos rumos do país.

“O governo eleito ainda não tem o apoio massivo dos evangélicos, e precisará ter para garantir a sustentabilidade da base popular. Esse apoio deve ser conquistado através de ferramentas que permitam às pessoas desenvolverem pensamentos, decisões e posições autônomas”, alertou a Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, em relatório obtido pela coluna que foi enviado à equipe de transição nesta semana.

Para a Frente, “é fundamental a manutenção da Secretaria da Família no Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, ou em ministério similar que atenda a essas questões”.

Parlamentares aliados de Lula que circulam no meio evangélico vão além: “Não dá pra sair de um governo com oito ministros evangélicos para outro sem nenhum”, disse um deles à equipe da coluna.

O subtexto desses avisos é que Lula e o PT não deveriam repetir neste governo o erro cometido nas campanhas de 2018 e de 2022 e se manter distantes dos evangélicos.

Por isso, segundo as recomendações feitas à equipe de transição, uma das primeiras providências necessárias seria incluir nos temas do futuro ministério das Mulheres as pautas ligadas à família. Para os evangélicos, as políticas públicas devem fortalecer os vínculos familiares contra o que consideram “decadência” moral generalizada da sociedade.

A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) pediu à presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, que o Ministério das Mulheres seja, também, “da Família”. Mais do que um termo simbólico, o tema ganha peso entre a população evangélica, que prioriza questões morais e a pauta de costumes no dia a dia.

“Qualquer conversa com o segmento evangélico deve começar partindo do conceito de família”, disse Eliziane à equipe da coluna.

Hoje o governo tem o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, que foi comandado por Damares Alves, bolsonarista raiz e evangélica, que foi eleita senadora pelo Distrito Federal.

Lula já deu sinais de que vai desmembrar a pasta, ao montar grupos de trabalho distintos durante a transição para cuidar de questões ligadas às mulheres e aos direitos humanos. Mas ninguém sabe ainda o que fazer com o tema “família”.

Os primeiros sinais dados até aqui pela equipe de Lula não são animadores para o eleitorado evangélico.

Os evangélicos, aliás, são muito poucos na numerosa equipe de transição de Lula, que já reúne 416 pessoas.

Entre eles estão o procurador da Fazenda Nacional Jorge Messias, da Igreja Batista, o ambientalista Pedro Ivo, da Igreja Anglicana e um dos fundadores da Rede, do grupo de meio ambiente; o cantor gospel e pastor batista Kleber Lucas, que participa das discussões de cultura.

Dos nomes cotados para integrar o primeiro escalão, a ex-ministra Marina Silva é evangélica e integra o grupo de trabalho de meio ambiente, mas sua participação no próximo governo tem mais a ver com o fato de ela ser uma liderança na questão climática e de preservação de florestas.

Já Messias pode assumir a chefia da Advocacia-Geral da União (AGU) e ajudou Lula na formulação de estratégias de campanha, inclusive para o público evangélico.

Durante a campanha eleitoral, Lula divulgou uma carta endereçada à população evangélica para afastar temores infundados de que fecharia igrejas ou que alteraria a legislação sobre aborto.

Conforme informou a coluna, o presidente eleito já destacou emissários para procurar os principais representantes do segmento evangélico no Congresso e fora dele.

A ideia é se reaproximar de parlamentares e pastores que até outro dia compunham a principal base de apoio de Jair Bolsonaro, mas que também já apoiaram Lula no passado.

O petista manda dizer que os quer de volta em sua órbita, mas por enquanto faltam acenos públicos que tornem essa reaproximação interessante a quem ainda torce o nariz para o seu retorno ao Palácio do Planalto.

O Globo